Segundo a última edição já famoso estudo anual da consultora Mercer sobre o custo de vida nas capitais mundiais, Lisboa encontra-se num modesto 134º lugar entre 201 cidades. Nada mau. Ainda assim, em certos bairros da cidade já foi bem mais fácil encontrar bons restaurantes onde seja possível fazer uma refeição completa (prato + bebida + sobremesa ou entrada) e satisfatória por menos de 10€. Hoje em dia, com a proliferação do turismo, a especulação imobiliária e o consequente desaparecimento de muitos dos restaurantes tradicionais das zonas filet mignon da capital é preciso saber procurar. Ou, neste caso, saber ler. Este artigo é o primeiro de três que respondem à questão “onde comer barato nas zonas mais caras de Lisboa?” Comecemos pelo…

Chiado24

Sair do metro na estação da Baixa – Chiado para o lado da Rua Garrett/Largo do Chiado é coisa para abrir de imediato o apetite, especialmente se — como acontece com frequência — as escadas rolantes não estiverem a funcionar devidamente e for necessário galgar parte do percurso sem ajuda mecânica.

Por muito trendy, cosmopolita e outros adjetivos roubados ao livro de estilo de “Sexo e a Cidade” que se considere o Chiado, comer barato nas respetivas ruas não é, de todo, uma impossibilidade — o centro comercial nascido das ruínas dos Armazéns Grandella encarrega-se de satisfazer a clientela menos exigente. E comer bem também não — só restaurantes de José Avillez há seis. Já comer bem e barato é que não será para todos.

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Será, em primeiro lugar, para aqueles que conseguirem mesa no Das Flores (Rua das Flores, 76. 21 342 8828), uma das melhores tascas da cidade, com opções diárias generosas em quantidade e sabor — destaque, por exemplo, para o arroz de pato (à segunda) ou para os pastéis de bacalhau com arroz malandrinho de tomate (à quinta). Arranjar mesa pode ser obstáculo: convém reservar ou aparecer cedo ou tarde (servem apenas almoços, das 11h30 às 15h30).

No mesmo campeonato, mas exigindo companhia para dividir as doses, que são portentosas, a grelha competente do Popular do Capelo (Rua do Capelo, 8. 91 408 6627) também deve ser destino a considerar. Já se o tempo estiver de feição, considere-se o terraço da famosa Cantina das Freiras (Travessa do Ferragial, 1, 3º. 21 324 0910) — como é popularmente conhecido o restaurante self-service da Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina. Aqui, a comida e os preços são, de facto, de cantina (6,50€ o menu de almoço) e as mesas e cadeiras de café, mas a vista é de hotel de cinco estrelas. Mais uma vez, convém evitar as horas de ponta das refeições.

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Se tudo isto falhar, não há crise: temos mais sugestões na manga. Para começar, os grelhados (e convém fixar isto, porque a comida de tacho não é consistente) da clássica Casa da Índia (Rua do Loreto, 49-51. 21 342 3661). Os dias de rins, por exemplo, são dias de sorte. Do menu de almoço do Nood (Largo Rafael Bordalo Pinheiro, 20. 21 347 4141) — 8,50€ dão direito a prato principal e bebida — fazem parte dois pratos que não deixam ninguém ficar mal: ramen de galinha, que é reconfortante q.b, especialmente em dias de frio, e o surpreendente caril de galinha katsu (de raiz japonesa).

Ramen ????

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O prato do dia do Kaffeehaus (Rua Anchieta, 3. 21 095 6828) costuma rondar os 8€, mas a refeição nem precisa de ir por aí: também se faz bem à base de sopa e salsichas ou tostas da casa, como a excelente Liptauer, com speck austríaco, paprika e cominhos. Quem em vez de salsichas e tostas preferir rissóis e bifanas tem no clássico Trevo (Praça Luís de Camões, 48. 21 346 8092) um porto seguro. Foi neste híbrido tasca / snack-bar que Anthony Bourdain se estreou no maravilhoso mundo das bifanas à portuguesa. Não terá, consta, provado os pratos do dia. Mas também são de confiança, sobretudo o cozido, servido às sextas-feiras durante o inverno.

No espetro oposto ao das bifanas no pão está o Spinach, dentro do centro comercial Espaço Chiado (Rua da Misericórdia. 91 041 9322). Aqui destacam-se as saladas e wraps saudáveis, como o de atum ou o de falafel, que podem ser acompanhados de sumos naturais simples ou compostos. A refeição completa rondará os 7/8€.

Finalmente, refira-se que a deslocação às zonas limítrofes do bairro também pode ajudar a cumprir este propósito. Seja na direção da Calçada do Combro, onde se pode, por exemplo, encontrar o Príncipe do Calhariz (Calçada do Combro, 28. 21 342 0971), com uma ementa diária recheada de sugestões entre os 6 e 8€ — mais uma vez, os grelhados são aposta segura — ou do Bairro Alto, onde pontificam, por exemplo, Adega do Tagarro (Rua Luz Soriano, 21. 21 346 4620), onde se servem ótimas pataniscas e uma excelente cabidela (só às sextas-feiras), a Casa Cabaças (Rua das Gáveas, 10. 21 3463443), conhecida pelo naco na pedra mas que tem também, diariamente, outras sugestões menos fumarentas ou até o Cantinho do Bem-Estar (Rua do Norte, 46. 21 346 4265) onde as doses custam 15€ mas alimentam facilmente duas ou até três pessoas. E atenção: não convém deixar comida na mesa — o senhor Tiago, dono do restaurante, não é adepto de desperdícios.