O protocolo de cedência da Coleção Berardo ao Estado termina a 31 de dezembro e a renegociação está atrasada, o que levou o diretor artístico do museu, Pedro Lapa, a criticar o ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes. “O assunto já deveria estar resolvido há muito tempo, não é estarmos em outubro e ainda a pensar nisso”, declarou Pedro Lapa nesta terça-feira de manhã, durante uma visita guiada para jornalistas a duas novas exposições no Museu Berardo.

Questionado sobre como correm as negociações para renovação do protocolo, Pedro Lapa respondeu: “Têm de perguntar ao ministro, penso que o assunto está mesmo na gabinete do ministro. Calculo, e espero, que isto seja resolvido o mais depressa possível.”

Ao fim da tarde, o gabinete do ministro da Cultura respondeu, por escrito, a um pedido de comentário enviado pelo Observador. “Não comentamos declarações de quem não acompanha o processo”, lê-se. “O Governo assumiu publicamente por diversas vezes a vontade de manter a coleção em Portugal e estamos a trabalhar com esse objetivo.” A mesma nota reafirma que as negociações sobre a renovação do protocolo de comodato “prosseguem com espírito construtivo de ambas as partes e tranquilidade.”

Data de 2006 a cedência ao CCB, em regime de comodato, de uma parte da coleção de arte do empresário madeirense Joe Berardo.

Depois de meses de polémica sobre se as obras ficariam em Portugal ou seriam cedidas a uma instituição fora do país, Berardo e a então ministra da Cultura Isabel Pires de Lima assinaram um protocolo, o qual levou à criação da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea Coleção Berardo. O então primeiro-ministro José Sócrates acompanhou pessoalmente as negociações.

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O protocolo, segundo disse Pedro Lapa nesta quinta-feira, previa que a coleção fosse sendo ampliada todos os anos, com novas obras de arte moderna e contemporânea, através de duas verbas de valor igual: 500 mil euros anuais do ministério da Cultura e 500 mil euros da Fundação Berardo.

Essa coleção passaria a chamar-se Estado-Berardo e poderia, no fim do acordo, ser vendida a terceiros ou adquirida na totalidade por uma das partes, explicou o mesmo responsável. “Ao fim de dois anos, o colecionador e o governo desistiram dessa coleção”, disse o diretor artístico. Não houve mais aquisições além das 214 que se fizeram em 2007 e 2008 e que se juntaram às 864 peças que Berardo cedeu à data da assinatura do protocolo.

Mais um vez, questionado sobre o porquê de ter sido suspensa a compra de novas obras, Pedro Lapa respondeu: “Terão de perguntar o ministro. Suponho que este assunto esteja apenso ao protocolo que está a ser renegociado.” Pedro Lapa criticou também o facto de, até agora, não ter sido chamado pelo ministério da Cultura para qualquer reunião. “Sou um técnico, não sou político, mas há questões técnicas” relacionadas com o protocolo, disse.

O diretor artístico guiou vários jornalistas às exposições “Visualidade & Visão, Arte Portuguesa na Coleção Berardo II” e “Fernando Lemos: Para um Retrato Coletivo em Portugal, no Fim dos Anos 40”, ambas com abertura marcada para quarta, dia 26, e fecho a 31 de dezembro. Aproveitou para enaltecer o papel do Museu Berardo, considerando-o “o grande museu em Lisboa de arte moderna e contemporânea”.

“É uma realidade concreta, é o grande museu em que qualquer cidadão pode ver tudo o que se passou na arte ao longo do século XX. Há um outro museu com a missão de proporcionar uma perspetiva nacional, que é o Museu do Chiado”, disse Pedro Lapa, que lidera o Berardo desde 2011, ano em que fechou um percurso de 13 anos como diretor do Museu do Chiado.

A hipótese de o Museu Berardo não abrir portas em janeiro “seria uma profunda imprudência”, segundo Pedro Lapa, pelo que nem se coloca. “O protocolo vai ocorrer, é prematuro fazer outros juízos”, afirmou.

A falta de renovação do acordo implica um futuro incerto em termos da programação do museu. “Obviamente, não tenho perspetiva para projetos em 2017”, queixou-se o mesmo responsável. “Não temos programação, é uma situação nova, nesta altura do ano tenho sempre algo pensado para o ano seguinte.”

Notícia atualizada às 18h33 com os comentários do gabinete do ministro da Cultura.