Stand, start, scale” é a “partida, largada, fugida” de quem se aventura a lançar um projeto empresarial. A poucos dias do início da Web Summit em Lisboa, o Porto ruma à capital. Quer mostrar que também há empreendedorismo, tecnologia criativa e inovação a Norte do país. Palavra de código: ScaleUp Porto, a estratégia que a Câmara Municipal lançou em 2015 com a UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, a Porto Business School, o Instituto Politécnico e a Agência Nacional de Inovação, para ajudar as startups da região a prosperarem no mercado internacional.

“O Porto tem empresas muito jovens que estão a crescer imenso e a posicionar-se noutros mercados. É isso que vamos procurar na Web Summit. Queremos comunicar a capacidade que o Porto tem de produzir empresas baseadas em conhecimento, com gente altamente qualificada”, afirmou Clara Gonçalves, diretora do UPTEC, ao Observador.

Ao stand que a iniciativa vai ocupar no maior evento de tecnologia e empreendedorismo da Europa, e que pretender ser “um ponto de encontro e facilitador das empresas da região”, junta-se o lançamento do Porto Start & Scale Guide, um guia que explica “a importância das cidades como laboratórios vivos“, bem como a relação entre a cidade, a comunidade, as startups e as scaleups, que faz o ecossistema do Porto ser “tão diferente e tão capaz de escalar”, explicou Filipe Araújo, vereador com o Pelouro da Inovação e Ambiente da Câmara Municipal do Porto, ao Observador.

São vários os exemplos de empresas criadas na cidade que já escalaram vários patamares, e que se tornaram (re)conhecidas internacionalmente. A Gema Digital, a MOG Technologies e o Impacting Group fazem parte dessa lista e foram as escolhidas para representar a cidade no evento. Mas não é preciso recuar muito mais para lembrar que o dinamismo e a criatividade estão presentes no ADN do Porto. E não é de agora. Basta recordar exemplos como o unicórnio (empresas que vale mais de mil milhões de dólares) Farfetch, a Blip ou a Critical Software que são empresas líderes de mercado.

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“Este vai ser o evento onde a maior parte dos investidores das grandes empresas que trabalham estas áreas vão estar presentes. É esse retorno e visibilidade que nós procuramos”, explicou Clara Gonçalves.

O Impacting Group – cujas empresas utilizam técnicas sofisticadas de marketing digital para desenvolver soluções integradas de apoio à venda – vai aproveitar o evento para lançar a Impacting Digital, um projeto que pretende agregar uma oferta de serviços 360º para as empresas que estão num processo de transformação digital, por exemplo. “Vamos aproveitar a Web Summit para dar a conhecer aos nossos atuais e potenciais clientes esta nova oferta de serviços de consultoria, implementação e transformação digital”, explicou Cláudio Fernandes, CEO do Impacting Group.

170 projetos nos quatro polos do UPTEC

Além da presença no stand coletivo da ScaleUp, a diretora do UPTEC, garante existir uma “agenda paralela que vai permitir fazer mais networking, estar em contacto com um maior número de stakeholders” e que inclui eventos com a Microsoft, com a 500 Startups ou com a Siemens. Gigantes como a Microsoft, a Vodafone, a Alcatel-Lucen, a Altran, por exemplo, já trabalham, na UPTEC, lado a lado com startups.

O UPTEC é uma das entidades que mais trabalha o empreendedorismo na cidade do Porto: 170 projetos instalados nos quatro polos do UPTEC, que vão das áreas das tecnologias da informação e comunicação, à de arquitetura, design, digital media, a empresas de biotecnologia. No total, permitiram a criação de 2 mil postos de trabalho, 90% dos quais ocupados por graduados e pós-graduados.

Das 66 startups portuguesas que vão representar Portugal no certame, há várias que nasceram nos escritórios do UPTEC. É o caso da Xhockware, fundada por João Rodrigues, em 2014, que desenvolveu a YouBeep, uma aplicação que funciona como um sistema de checkout, que permite efetuar o pagamento de um carrinho de compras, evitando as longas filas de espera, e que está disponível para o Lidl, Pingo Doce, Jumbo e, na próxima semana, no Continente.

“Estamos a estabelecer contactos com potenciais investidores. Queremos manter uma relação próxima e ir antecipando a próxima roda de investimento que esperamos que seja para o ano”, conta João Rodrigues.

E se a Web Summit poderá ser uma montra para as empresas presentes, o fundador da Xhockware acredita que o maior desafio para os empreendedores portugueses passa por conquistar a credibilidade dos investidores internacionais e ser capaz de provar que conseguem fornecer soluções tecnologicamente avançadas para o exterior. “A capacidade existe, o que é preciso é que essa capacidade seja percecionada pelas empresas estrangeiras“, avisa.

Para Cláudio Fernandes, líder do Impacting Group, o Porto reúne um conjunto de condições ao nível de acesso a mão-de-obra, recursos qualificados na área das novas tecnologias, e “é hoje uma cidade dinâmica a nível cultural e de apoio à criação de empresas”. Diferente de há dez anos, quando começou a sua empresa, e não havia infraestruturas para receber estes projectos empresariais.

“Neste momento há laboratórios, gabinetes, uma série de infraestruturas para que estas empresas se possam instalar e estejam durante um período de tempo a fazer desenvolvimento de novos produtos para o mercado”, explica Clara Gonçalves. Para a directora do UPTEC, grande parte das empresas internacionais que se têm instalado no Porto chegam pelo conhecimento que é gerado dentro da Universidade do Porto.

“O Porto e o Norte têm um capital humano muito interessante para qualquer empresa porque são pessoas trabalhadoras e criativas. Há realmente uma comunidade técnica muito acima da média. E as pessoas, lá fora, começam a perceber isso e há empresas tecnológicas que já se começam a deslocar para o Porto“, diz Mafalda Ricca, diretora comercial da Gema Digital. “É networking que é reforçado e que ajuda a criar sinergias entre as diferentes empresas, o que é muito interessante para nós porque estabelecemos parcerias, conhecemo-nos uns aos outros, pensamos em ter escritórios juntos e ao pé uns dos outros”, assinala.

Mas não são só os empreendedores nacionais que concordam que cada vez mais se associa a tecnologia, a inovação, às cidades do Norte. “Num evento no México, um mexicano dizia-me que não tinha dúvidas de que daqui a dez anos, quando se falar em inovação e tecnologia, é no Porto que se vai falar”, partilha Mafalda Ricca. E quem sabe se, quando esse dia chegar, a Web Summit rumará também ao Porto.