Os norte-americanos enfatizam tudo aquilo que os rodeia. Veja lá o exemplo das finais de baseball. Há 30 equipas, todas dos EUA, e só duas se apuram para a final, intitulada World Series. A designação global irrita, o jogo nem por isso. Sobretudo quando se chega à fase decisiva. Em 2016, Cubs e Indians. Juntos, não ganham um título há 176 anos. É a maior seca combinada de sempre. Os Indians sem festejar desde 1948, os Cubs há mais tempo ainda (1908).

Indians ou Cubs? A dúvida é permanente. Por longas quatro horas e 28 minutos, mais a paragem provocada pela chuva, há quem se esqueça de Trump ou Clinton. O baseball é a cena mais importante do momento. Quem acompanha o fenómeno, sabe a importância dos Cubs. É um dos clubes mais falados no cinema. No “Um Homem Fora de Série” (1984), de Barry Levinson, o reencontro entre Robert Redford e Glenn Close é no Wrigley Field, casa dos Cubs. No “Regresso ao Futuro II” (1989), de Robert Zemeckis, há a previsão de um título dos Cubs em 2015, sobre os Indians e a perder por 3-1. Amazing grace.

Cubs, Cubs e mais Cubs. Eles “andem” aí. E ganham. Finalmente. Na fase regular, ganham mais de 100 jogos (103-58) pela primeira vez desde 1935 antes de arrebatar o título da sua divisão, algo inédito desde 1945. Na World Series, os Indians ganham avanço por 3-1. Bastam-lhes mais uma vitória e os Cubs já eram. Segue-se a reviravolta no marcador: 3-2 em Chicago, 9-3 em Cleveland e 8-7 ao 10.º inning, outra vez em Cleveland. Ganham os Cubs. Um ano depois da previsão do “Regresso ao Futuro”.

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Acaba a época, e agora? É esperar por março/abril. Até lá, Zack Hample tem tempo para dormir, endireitar o fuso horário e recuperar forças para a próxima época. Quem? Se fosse jogador, seria complicado descrever a sua posição em campo (pitchers, catchers, infielders, outfielders e hitters), mas ele é apenas um adepto. No way. Como é Zack é um produto dos States, está mais para World Fan. Daqueles sui generis. Tem 39 anos e é o maior apanha-bolas da história da MLB (Major League Baseball), numa caminhada iniciada a 20 junho 1990. Até hoje, são 9.475 bolas de 52 estádios. Esta época, 842 bolas em 27 estádios. Falámos com o homem.

Como te identificas?
Sou um adepto de basebol de Nova Iorque, um escritor e um cromo profissional [“a deeply serious geek”].

Vives em Nova Iorque, onde?
Mais precisamente em Manhattan. Desde sempre.

Então és Yankees ou Mets?
Sinceramente, não tenho clube. Quando era pequeno gostava dos Mets, mas agora fixo-me mais em jogadores do que em clubes.

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Como surgiu essa ideia de coleccionar bolas?
O meu objetivo era apanhar uma bola. Depois, avancei para as 100. Aí toda a gente se riu, mas três meses mais tarde já meti a fasquia para as 1000. E por aí fora… Deves estar a ler isto com surpresa, mas não te preocupes com isso, até porque acho que já falámos disso. Sou um geek [cromo profissional].

Quando apanhaste a primeira bola?
Aos 12 anos. Foi durante um aquecimento no estádio dos Mets. Gritei na direção do pitcher e ele atirou-me a bola. Como era um parvo [moron], não me lembro de quem me atirou.

Qual foi o último jogo onde saíste do estádio sem uma bola sequer?
Uuuhh, há muito tempo. Foi a 2 de setembro de 1993.

E, daí para cá, como é que foste sempre bem-sucedido?
Quando vou ao estádio, não me sento numa cadeira a desfrutar do jogo, até porque não consigo fazer uma só coisa ao mesmo tempo. Têm de ser seis, sete ou oito. Estou sempre de pé, a correr de um lado para o outro, entre as bancadas. Às vezes, nem sei o resultado do jogo e já tenho os bolsos cheios de bolas.

Mas como, metes-te à frente de crianças ou idosos?
Não, não! Shame on you! Looool! Sou um profissional. Gosto do jogo e da minha mania. Não atropelo pessoas para aumentar a minha coleção. Mas admito que sim, em criança fazia isso. Envergonho-me desses tempos.

Como surgiu essa ideia?
Apanhei quatro bolas em 1990. Depois, mais 14 em 1991. No ano seguinte, os meus pais deixaram-me ir aos jogos sozinho. Fui a 80 e colecionei mais 128 bolas.

E onde é que as guardas?
Na casa dos meus pais, mais precisamente no meu quarto. Comprei um armário em que cabem 144 bolas em cada estante. Também comprei aqueles garrafões de água, onde cabem 400 bolas. E tenho muitas na banheira.

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E vais parar de coleccioná-las?
Sim, quando morrer.

Qual é a opinião dos teus pais?
Acharam engraçado em 1992, ficaram preocupados em 1998 e aplaudiram a minha febre em 1999, quando lancei o meu primeiro livro [“How to Snag Major League Baseballs”, aka “Como Apanhar Bolas da Liga de Basebol”]

Posso ir contigo a um jogo?
Claro que sim. Se fosses um grande amigo, um jornalista dos EUA ou um dos meus pais. Looooool! Se vieres cá, vamos juntos a um jogo e eu garanto-te que regressas a Portugal com uma bola apanhada e autografada por mim.

Por falar em Portugal, já cá vieste?
Não, nunca. Já vivi em Paris, dentro de um barco, com amigos, durante três meses.

Vou enviar-te o vídeo deste penálti. Diz-me o que achas?
Okay.
[envio-lhe o link do penálti falhado por Beckham no Inglaterra-Portugal do Euro-2004]

Conheces o David Beckham?
Ei, eu joguei soccer aqui quando tinha 9/10 anos. Sei muito bem quem é Beckham, porque acompanho o “Sports Center”.

E apanhavas aquela bola?
Isso é que seria um desafio à minha altura. Aquela bola de Beckham para a fila Z só podia ser minha. Mas só se fosse parar aos meus braços. E se as pessoas refilassem por quererem a bola novamente em campo, eu provavelmente [escreve em letras maiúsculas para dar mais ênfase] devolvia-a. Senão, ia para a minha coleção.

E aí é que era bonito, hein?
Os meus pais ficavam malucos. E a minha banheira mais bem decorada. Até pró ano.