Meng Hongwei, vice-chefe do aparelho de Segurança chinês, que inclui tribunais, polícia e polícia secreta, foi, esta quinta-feira, eleito presidente da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), uma escolha inédita e que coincide com a campanha de Pequim para o repatriamento de fugitivos chineses além-fronteiras.

Trata-se do primeiro cidadão da República Popular da China a assumir aquele cargo, segundo a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, e sucede à francesa Mireille Ballestrazzi.

A nomeação, anunciada durante a assembleia-geral anual da organização, em Bali, na Indonésia, ocorre numa altura em que Pequim intensifica a campanha Fox Hunt (Caça à Raposa), que desde o início do ano conseguiu já repatriar 634 fugitivos chineses, a partir de 40 países e regiões, acusados de corrupção.

As autoridades chinesas têm apelado a uma maior cooperação internacional na “Caça à Raposa” e vários países europeus, entre os quais Espanha, França e Itália, extraditaram já fugitivos chineses.

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No entanto, a campanha tem sido também controversa, com alegações de que agentes chineses têm operado secretamente além-fronteiras, sem o consentimento das autoridades locais.

Além disso, vozes como a de Nicholas Bequilen, diretor da Amnistia Internacional no leste asiático, têm-se levantado contra a nomeação do novo presidente da Interpol. No seu twitter, Bequelin afirma que a nomeação é preocupante “dada a prática de longa data da China em usar a Interpol para prender dissidentes ou refugiados no estrangeiro”.

Segundo o The Guardian, o mesmo afirmou também noutra entrevista que “a polícia chinesa tem um registo terrível em direitos humanos, incluindo as práticas endémicas de coagir confissões”, assim como “o uso generalizado de tortura”.

Bequilin acrescentou ainda que “ao contrário da maioria das agências de lei em todo o mundo, a polícia chinesa tem – além da lei clássica e do mandato de ordem – um mandato que protege o poder do Partido Comunista”.

Após ascender ao poder, em 2012, o Presidente da China, Xi Jiping, lançou uma campanha anticorrupção que resultou já na punição de mais de um milhão de funcionários chineses.

A campanha não inclui, porém, maior transparência, como exigir a declaração de bens aos membros do Governo ou a supervisão do Partido Comunista Chinês por um organismo independente.

Com sede em Lyon, França, a Interpol faz a ligação entre polícias de 190 países membros, com o objetivo de apoiar no combate à criminalidade além-fronteiras.