O presidente sírio, Bashar al-Assad, espera que o próximo secretário-geral da ONU, António Guterres, seja objetivo em todas as declarações sobre a Síria e que “não transforme o seu gabinete” numa dependência da diplomacia norte-americana.

Se me perguntasse o que espero deste novo responsável nesta posição importante, diria duas coisas: que seja objetivo em todas as declarações que faça sobre qualquer conflito mundial, incluindo a Síria, […] e que não transforme o seu gabinete numa sucursal do Departamento de Estado dos Estados Unidos”, disse o Presidente sírio numa entrevista à televisão portuguesa RTP, segundo uma transcrição enviada à Lusa.

Numa entrevista à RTP, Al-Assad afirmou concordar com a abordagem humanitária de António Guterres ao conflito na Síria, mas sublinhou que a ajuda humanitária vai além da entrega de bens para satisfazer as necessidades básicas.

Se perguntar aos refugiados sírios, a primeira coisa que querem é regressar ao seu país. Isso implica ajuda humanitária como a entendemos — alimentos, cuidados médicos, coisas básicas do quotidiano — e, em segundo lugar, implica segurança, o que significa combater os terroristas. Não podemos falar de ajuda humanitária e apoiar os terroristas ao mesmo tempo, temos de optar”, disse.

O presidente sírio ressalvou que não está a falar de Guterres quando refere esta abordagem dúplice, mas dos países de cujo apoio o novo secretário-geral vai precisar para concretizar os seus planos. “Ele não vai alcançar o seu objetivo enquanto tantos países continuarem a apoiar os terroristas na Síria“, afirma.

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Toda a gente sabe que as Nações Unidas não são o secretário-geral. Ele tem uma posição importante, mas a ONU são os países e, para ser franco, a maioria das pessoas considera que são apenas os cinco membros permanentes” do Conselho de Segurança, disse.

Bashar al-Assad diz-se contudo disponível para trabalhar com Guterres pela paz na Síria, sublinhando que essa prioridade é importante não apenas para o país, como para o Médio Oriente, que “é o coração geográfico e geopolítico do mundo”.

O mesmo argumento é usado pelo Presidente sírio ao referir-se ao apoio militar da Rússia, país que, afirma, “está a lutar pela Síria, pelo mundo e pela Rússia” e que “baseia sempre as suas políticas em valores como a soberania nacional, a lei internacional, o respeito pelos outros povos e culturas”.

O presidente sírio recusa por outro lado estar a usar o combate contra os grupos jihadistas, como o Estado Islâmico ou a Frente da Conquista do Levante (Fatah al-Sham em árabe, ex-Frente al-Nosra) para desacreditar todos os grupos da oposição, afirmando quee “usar o terrorismo ou o ‘jihadismo’ ou o extremismo com fins políticos é imoral”.

Sobre a Turquia, que ao contrário da Rússia não apoia o regime de Damasco, Bashar al-Assad afirma que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, é “uma pessoa doente, um megalómano, instável, que vive na era otomana” e acusa-o de infiltrar terroristas na Síria, assegurando que qualquer incursão turca em território sírio será sempre tratada como uma invasão.

Sejamos realistas, cada terrorista que entrou na Síria veio pela Turquia com o apoio de Erdogan. Por isso, combater esses terroristas é como combater o exército de Erdogan. Não o exército turco, o exército de Erdogan”, afirma Al-Assad.