A investigação clínica e científica permitem-nos acreditar que há mais, muito mais para além do que a vista alcança. Para além do que consegue ver um cidadão normal, a quem tanta coisa imprevista acontece ou pode vir a acontecer.

O nosso encantamento com a descoberta leva-nos a dar passos em frente e saltos para o desconhecido. Todos os dias há notícias de novas terapêuticas, novas formas de diagnóstico e mais probabilidades de cura.

Os avanços da Ciência e, em especial, das neurociências prendem a nossa atenção sempre que parecem dar resposta aos nossos anseios primordiais. Saber como reage o cérebro e como funciona o corpo; perceber o impacto dos estímulos nas respostas do organismo, mas também na atitude de cada um, na vida do dia a dia, é fascinante.

Muita desta matéria estará em discussão no palco de mais uma conversa offline, promovida pelo Observador, transmitida em direto a partir do Museu do Oriente, já na próxima quarta-feira, 23 de novembro, entre as 18h e as 20h.

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O ponto de partida para este encontro é percebermos o que está ao nosso alcance e o que podemos fazer para que a vida não pare, mesmo quando a vida de cada um fica suspensa de acontecimentos mais ou menos inesperados, mais e menos dramáticos.

Tiago Marques, cientista e investigador na área das neurociências, a fazer os seus estudos de doutoramento no Laboratório de Circuitos Corticais, do Champalimaud Research, tenta perceber (entre muitas outras coisas) como é que o cérebro responde ao imprevisto e é precisamente esta a perspetiva que vem acrescentar ao debate público.

Joana Rigato, Filósofa da Ciência, trabalha em articulação com neurocientistas e dedica-se ao estudo do livre arbítrio, bem como à forma como a Ciência pode ter em conta a experiência subjetiva das pessoas. Neste sentido, ambos os investigadores falarão dos processos de tomada de decisão e da forma como lidamos e processamos os imponderáveis da vida.

Uma discussão sobre temas tão sensíveis e complexos como estes que o Observador se propõe abrir ao público, convocando leitores e especialistas, só pode dar frutos se partirmos da experiência de quem foi obrigado a mudar toda a sua realidade, depois de ter sido confrontado com aquilo que ninguém espera da vida.

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A presença de Salvador Mendes de Almeida, que ficou tetraplégico aos 16 anos, depois de ter sido vítima de um acidente de mota, é fundamental para percebermos como podemos reagir aos acontecimentos mais dolorosos e traumáticos. Fundador da Associação Salvador, não deixou que a vida o parasse e o seu exemplo é iluminante para todos os que conhecem a sua história e acompanham o seu percurso.

Há um par de meses Salvador Mendes de Almeida esteve nos Estados Unidos, num centro de reabilitação e investigação, onde uma nata de especialistas pesquisam e testam formas inovadoras de tratar e cuidar de pessoas vítimas de acidentes ou doenças, e também esta sua experiência vai acrescentar valor ao debate, pois pela primeira vez em 17 anos foi capaz de voltar a ficar de pé e a ter a sensação de caminhar.

Tão importantes como as histórias de vida, as comunicações dos médicos e cientistas, são os testemunhos dos cuidadores que diariamente estão ao lado de doentes ou vítimas de acidentes apostados na superação diária. Nesta lógica, o encontro de dia 23 não ficaria completo se não fosse dada voz a quem também é capaz de se transcender para minimizar os sofrimentos dos outros.

E para amortecer o impacto das suas limitações. Jaume Pradas, músico, pode não ser o cuidador-padrão, no sentido de estar diariamente à cabeceira de pessoas doentes ou acidentadas, mas cuida de dar amplitude de movimentos a uma pessoa que vive cheia de limitações e condicionalismos.

Jaume Pradas corre meias-maratonas a empurrar a cadeira de rodas de Mafalda Ribeiro, que nasceu com osteogénese imperfeita, a chamada ‘doença dos ossos de vidro’, e tem uma mobilidade muito reduzida. Cuidar de alguém como a Mafalda Ribeiro também passa por lhe dar liberdade e contribuir para que seja capaz de andar e correr como se não fosse portadora de uma doença tão incapacitante.

As imagens das maratonas que correm juntos são marcantes e ficam para sempre gravadas na memória de quem vê, mas as histórias que cada um conta, no seu papel de cuidador e pessoa bem cuidada, são extraordinariamente impressivas e mobilizadoras. Desafiam a ir mais longe em todos os sentidos. E impedem de desistir ou de baixar os braços.

Finalmente e porque a vida está atravessada de acontecimentos imprevistos, estará presente neste debate uma especialista em Ciências Actuariais, com responsabilidade direta nas áreas de prestação médica e serviço ao cliente. Maria João Salles Luís representa a Fidelidade, patrocinadora do debate organizado pelo Observador, e traz consigo uma longa experiência neste interface entre doentes ou vítimas e suas famílias, médicos, cuidadores e prestadores de serviços.

Durante duas horas todos estes oradores falarão diretamente com o público presente na plateia real, mas também ficarão disponíveis para breves diálogos ou respostas a questões postas pela audiência virtual, esclarecendo dúvidas ou acrescentando pontos de vista a quem lê e acompanha o Observador dentro e fora do país.

A entrada é livre e vale a pena ouvir os convidados deste debate pois todos estão na linha da frente das suas áreas de especialidade e atuação. O contributo de cada um é uma enorme mais valia para uma reflexão coletiva sobre mais e melhores maneiras de conseguirmos que a vida nunca nos pare.