Transportar móveis, eletrodomésticos, andar com caixotes para trás e para a frente com livros, roupa, candeeiros, memórias. Mudar de casa pode ser uma dor de cabeça. E se pudesse chamar um Uber para mercadorias? Foi o que pensou Carlos Palhares quando lançou a MUB Cargo, uma aplicação móvel que permite, em poucos cliques, pedir um serviço de transporte, receber orçamentos de várias empresas e selecionar a proposta que reúne as melhores condições.

Disponível apenas para iPhone, a aplicação é o ponto de encontro entre clientes e empresas transportadoras, que competem entre si para oferecer o melhor orçamento. O utilizador é que depois escolhe a proposta vencedora. Uma semana após o lançamento, a app integrou o top 5 da App Store para aquela categoria e conta agora com mais de 1.300 downloads.

Apesar de só agora ter entrado no mercado, a MUB Cargo tem uma história que começa em 2009, quando o fundador e CEO da startup estava a fazer um MBA na Porto Business School e precisava de uma boa ideia para a cadeira de Empreendedorismo. Foi enquanto conversava com um vendedor de móveis, que se queixava dos custos fixos de ter um camião e motoristas parados, que nasceu o conceito da MUB Cargo.

“Perguntei-lhe o porquê de ele não partilhar o camião com outras lojas de móveis ou de eletrodomésticos. E lembrei-me que estava ali uma boa ideia para fazer o trabalho de Empreendedorismo: a partilha do transporte”, conta o CEO da empresa ao Observador.

Na altura, com o boom do iPhone e dos smartphones cada vez mais presente no bolso dos portugueses, o fundador da startup quis possibilitar a otimizar a partilha de transportes. A cadeira de Empreendedorismo ficou feita, o trabalho nem teve uma grande nota, o projeto ficou-se pelo papel, mas o CEO da MUB Cargo nunca abandonou a ideia. E eis que chega a Uber.

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Com o surgimento da Uber, Carlos Palhares reconheceu que era aquele tipo de serviço que queria para a sua startup, aplicando-o ao transporte de mercadorias, com diferenças no modelo de negócio. “Não queremos impor o preço ao nosso transportador, queremos que o mercado dite o preço e queremos o transportador como parceiro de negócio“, nota o fundador.

Com a experiência de mais de 15 anos na indústria automóvel, Carlos Palhares decidiu avançar com a empresa no ano passado, com a ajuda de um amigo que trabalha na área dos transportes. A experiência dizia-lhes que havia no mercado um grande défice na otimização do setor porque “há muito camião e muita carrinha a transportar ar”, refere. E voltou à Porto Business School, onde apresentou pela primeira vez a ideia, para recrutar duas pessoas para o projeto.

400 pedidos para 80 transportadoras

A Mub Cargo está incubada na Startup Braga. A primeira fase no arranque da empresa está completa e, para “breve”, garante o CEO, estará disponível a versão Android da app e uma plataforma web. “Estamos a negociar a primeira ronda de investimento, a reunir com investidores para continuar a investir na parte tecnológica e no marketing”, conta.

Além da equipa fundadora, constituída por quatro pessoas, Carlos Palhares reconhece a necessidade de recrutar mais colaboradores. “Tivemos um boom de pedidos de transportes que não estávamos a contar. Houve uma grande aceitação por parte dos nossos parceiros, dos transportadores”, conta. A MUB Cargo reúne já uma oferta de 80 transportadores mas há 400 pedidos de registo na plataforma.

“Não estamos a conseguir registar todos os transportadores que nos contactam e que vão desde o pequeno transportador, do estafeta, à empresa que tem 40, 50 camiões”, acrescenta o CEO.

Até ao momento, foram investidos cerca de 80 mil euros na empresa, mas Carlos Palhares adianta que a startup tem um plano de investimento para o próximo ano que poderá aproximar-se a um milhão de euros, ainda numa fase de mercado nacional.Mas a estratégia está pensada para ir além fronteiras.

“Portugal é um excelente mercado para testar mas queremos rapidamente escalar e a nossa prioridade será a Europa: Espanha, França, Alemanha, países contíguos”, explica Carlos Palhares, adiantando que tem tido contactos do estrangeiro, nomeadamente de investidores do México e do Brasil que querem investir na plataforma.

O próximo passo para a consolidação da MUB Cargo também passa por entrar nas empresas. “tanto do lado do transportador, como do lado do cliente empresarial, que precisa de um transporte”, diz Carlos Palhares, acrescentando que esse será o “segundo grande passo”.

Como funciona a Uber para mercadorias? Cada utilizador deve enviar uma fotografia dos produtos a transportar, as moradas e as datas de recolha e de entrega. Recebe depois notificações com vários orçamentos e mediante cada proposta de serviço (o preço, as avaliações do transportador, as datas de recolha e de entrega sãos os principais fatores de decisão), o utilizador seleciona a que lhe for mais conveniente. O pagamento é feito através da aplicação e a entrega pode ser acompanhada em tempo real. No final, tal como acontece na Uber, o serviço é avaliado (de 1 a 5 estrelas).

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.

Editado por Ana Pimentel