O principal partido de oposição moçambicana, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), afirmou esta quarta-feira que o seu braço armado garante a continuação da trégua com as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas, as quais, todavia, acusa de atos intimidatórios.

Em comunicado enviado à Lusa pelo seu porta-voz, António Muchanga, a Renamo refere que os membros do braço armado da organização têm sensibilizado a população para se manter nas suas residências, assegurando que a cessação dos confrontos com as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas vai ser alargada depois do dia 05. A trégua decretada no final de dezembro pelo Governo e pelo principal partido de oposição expira no próximo dia 05. No comunicado, a Renamo acusa as FDS de propalarem junto das populações da região centro do país a informação de que as duas partes vão retomar os confrontos depois do dia 05, provocando agitação nas comunidades.

“Na província de Manica, distrito de Manica, posto administrativo de Machipanda, localidade de Chúa, chegaram reforços militares saídos de Chimoio, transportados num camião, que também propalam que, com o fim do prazo das tréguas, os confrontos vão começar e as populações locais estarão apreensivas, apesar de as forças da Renamo estarem a prometer que a trégua vai continuar”, lê-se no texto.

Na semana passada, acusa o principal partido de oposição, oficiais do exército exortaram comandantes de várias posições no distrito de Gorongosa, para estarem em alerta máximo, alegando que a trégua vai terminar e que os confrontos militares se vão reiniciar. “Estas provocações criam pânico nas populações e põem em causa o esforço que as duas lideranças [o Presidente da República e o líder da Renamo] estão a imprimir com vista a consolidar a paz no país”, refere-se na nota. Em declarações à Lusa, o porta-voz da Renamo disse que o partido vai anunciar a sua posição no final do prazo de 60 dias de trégua declarada no final de dezembro pelo Presidente Filipe Nyusi e por Afonso Dhlakama.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na terça-feira, o Presidente moçambicano convidou seis embaixadores acreditados em Maputo e o representante da União Europeia em Moçambique, para integrarem o Grupo de Contato para o apoio ao diálogo para a paz. Em comunicado de imprensa enviado à Lusa, a Presidência da República refere que Filipe Nyusi convidou os embaixadores do Reino Unido, Suíça, Irlanda, EUA, China, Noruega e Botsuana e o chefe da Missão da União Europeia (UE) em Moçambique, para apoiarem nos esforços de estabelecimento de uma paz sustentável em Moçambique.

“Este Grupo de Trabalho, cujas atividades terão início ainda esta semana, juntar-se-á às comissões de trabalho constituídas por entidades nacionais já designadas pelo Presidente da República e pelo presidente da Renamo que juntos prosseguirão em busca da paz efetiva e definitiva, tendo como mandato debruçarem-se sobre questões militares e de descentralização”, diz o comunicado. No final de janeiro, Filipe Nyusi anunciou o encerramento da fase que envolve a mediação internacional nas negociações de paz, considerando que os mediadores serão solicitados para as conversações entre o Governo e a Renamo caso se considere necessário.

Os trabalhos da comissão mista nas conversações do Governo e da Renamo, orientada pela equipa de medição internacional, foram suspensos em meados de dezembro sem acordo sobre o pacote de descentralização e a cessação das hostilidades militares, dois dos temas essenciais das negociações de paz. Na altura, o coordenador da equipa de mediação, Mario Raffaeli, indicado pela UE, disse que os mediadores só regressarão a Maputo se forem convocados pelas partes.

Apesar da falta de um acordo entre as duas delegações, as partes chegaram a uma trégua posteriormente, como resultado de conversas telefónicas entre o Presidente moçambicano e o líder da Renamo. Além do pacote de descentralização e da cessação dos confrontos, a agenda do processo negocial integra a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança e o desarmamento do braço armado da oposição, bem como sua reintegração na vida civil.

Moçambique atravessa uma crise política que opõe o Governo e a principal força de oposição, com o centro do país a ser palco de confrontos entre as Forças Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo, que reivindica vitória nas eleições gerais de 2014, acusando a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder há mais de 40 anos, de fraude no escrutínio.