E se a Coreia do Norte, apesar do regime de austeridade e pouco aberto ao exterior, estiver a abrir portas à contratação para uma universidade? É o que está a acontecer na PUST (Universidade de Ciência e Tecnologia de Pyongyang), a primeira e única universidade que não é detida pelo Estado.

Quem para lá vai sabe que está sujeito a propaganda política. Mas a PUST é privada e privilegia a contratação estrangeira. O que não evita que os seus profissionais estejam sujeitos a vigilância cerrada. A universidade diz que, quem aceita a oferta, sabe ao que vai e a que condições “muito especiais” se sujeitam. Os funcionários são, inclusivamente, informados sobre restrições específicas, como os materiais que podem ou não trazer e que temas podem (ou não) ser tratados – como o capitalismo, a religião ou a política. A liberdade, aqui, é um tema sensível.

A universidade acolhe pouco mais de 1.100 alunos, professores e trabalhadores. Originalmente cristã — o seu fundador foi James Kim, um cristão evangélico de nacionalidade americana e norte-coreana que sobreviveu à prisão e a uma sentença de morte —, a missão da escola apresenta-se como um modelo de “educação com uma visão internacional” e que pretende “trazer iluminação para o povo coreano e para o mundo”. Não deixa de ser improvável, se tivermos em conta que estamos a falar de um país com pouca ou nenhuma tolerância religiosa.

Apesar de maioritariamente masculina — e composta por filhos da elite do país, convém lembrar –, a PUST tem-se mostrado recetiva a alunas. A universidade partilhou até um vídeo onde se pode ver, precisamente, o testemunho de uma delas. As vagas no próprio site da escola estão abertas para professores de inglês e chinês, de biologia, agricultura biológica ou até engenharia genética.

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A Coreia do Norte não se esquece nem da seca nem da escassez de alimentos que enfrentou há relativamente pouco tempo. Foi em 2015 que a península coreana foi afetada por uma extrema seca; a pior do século, como chegou a ser apontada. A falta de alimentos foi inevitável.

A PUST não é indiferente a essa necessidade. A escola está a levar a cabo um programa especial dedicado à agricultura e à produção de alimentos. O programa pode ir desde conferências sobre fertilizantes a doações que contribuam para alimentar todo o campus — ainda que haja uma lista pública de financiamento que listou zero doações este ano.

Um histórico de detenções

Mas também existem episódios recentes de alguma controvérsia. Contam-se já quatro detenções de cidadãos americanos. Duas destas detenções aconteceram este ano e envolvem a universidade: a primeira, a 6 de maio, foi de um trabalhador da dita universidade, que trabalhava no desenvolvimento agrícola de um terreno e que foi acusado de “atos hostis” contra o regime; a segunda, em abril, de um outro docente da PUST que ensinava contabilidade, este acusado de atos que tentavam derrubar o regime da República Popular Democrática da Coreia.

Professor americano detido na Coreia do Norte. É acusado de “atos hostis”

A BBC teve acesso ao interior desta escola. Na PUST, podem ouvir-se marchas. Não de guardas, mas dos próprios alunos, contam. “Nosso supremo comandante, Kim Jong-un, vamos defendê-lo com as nossas vidas.” A gritá-lo está a próxima elite do país, todos fardados de igual modo.

As aulas são dadas em inglês e dentro de cada sala estão retratos dos vários ditadores que a Coreia do Norte já teve. A ditadura não entra só aqui. A vigilância ao que entra “lá de fora” é permanente e na sala de informática a informação é estritamente censurada.

A visita guiada pela BBC pode ser lida na íntegra aqui.