Portugal tem 67 scaleups (empresas que obtiveram financiamento de mais de um milhão de dólares), que captaram um total de 350 milhões de dólares (310 milhões de euros) nos últimos seis anos. Só no ano passado, levantaram 130 milhões de dólares (115 milhões de euros) em financiamento, cerca de 40% do financiamento total captado entre 2010 e 2016, o que pôs o ecossistema empreendedor português a crescer “o dobro da média europeia”. As conclusões são do estudo Startup Europe Partnership (SEP), que resulta de uma parceria entre a Mind the Bridge e a Beta-i, e que foi apresentado esta terça-feira na Lisbon Investment Summit, em Lisboa.

Ao olhar para os números portugueses, devemos considerar que, além da pequena dimensão da economia portuguesa, o ecossistema é bastante jovem. 76% das scaleups identificadas foram fundadas depois de 2010 e, dessas, quase metade foi fundada depois de 2013″, observa Alberto Onetti, coordenador da Startup Europe Partnership, em comunicado.

A maioria (88% do total) são pequenas scaleups, continua o responsável, que obtiveram um financiamento total entre 1 e 10 milhões de dólares, representando 0,2% do PIB português. Mas, apesar dos números, Portugal ocupa o 15.º lugar do ranking dos ecossistemas europeus de scaleups.

A Farfetch, plataforma luso-britânica de comércio eletrónico de moda de luxo, é o único “unicórnio” (startups avaliadas em mais de mil milhões de dólares) de origem portuguesa. No entanto, há um grupo de scaleups que estão a crescer rapidamente. A Outsystems, liderada por Paulo Rosado, empresa portuguesa que desenvolve uma tecnologia low-code, levantou cerca de 60 milhões de dólares, é a candidata a ser “a próxima Farfetch”. Seguem-se a Uniplaces, Veniam, Feedzai, Talkdesk e Aptoide, que ultrapassaram os 20 milhões de dólares em financiamento. Em conjunto, estas empresas levantaram mais de 190 milhões de dólares, mais da metade (56%) do total de financiamento conseguido pelas scaleups portuguesas.

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Norte-americanos são quem mais investe

Os investidores nacionais participaram em mais de dois terços das rondas de financiamento (67%), no entanto, são os norte-americanos quem mais investe nas scaleups portuguesas. Enquanto os investidores dos Estados Unidos investiram 163 milhões de dólares, os portugueses totalizaram 121 milhões de dólares. Os americanos investem em fases de investimento mais avançadas (série B em diante), enquanto que cerca de 75% do capital investido por portugueses é em fases iniciais (seed e série A).

Um norte-americano investe, em média, 9,6 milhões de dólares por ronda. Já o português investe 1,7 milhões de dólares. O valor médio de financiamento, por ronda, de britânicos (5,3 milhões de dólares) e espanhóis (2 milhões de dólares) também é, portanto, superior à portuguesa.

É interessante notar que os investidores internacionais têm um papel importante no ecossistema de rápido crescimento português. 62% do capital disponível para scaleups vem de fora. Eventos internacionais como o Web Summit, o Lisbon Investment Summit ou o ScaleUp Porto têm sido muito importantes para fazer avançar o panorama de scaleups português”, considera Ricardo Marvão, cofundador e diretor de projetos globais da Beta-i.

A par da captação de investimento estrangeiro, as scaleups portuguesas sentem a necessidade de deslocar as sedes para fora do país. O estudo indica que quatro em cada cinco empresas fundadas em Portugal são startups “dual”, ou seja, têm sedes fora do país, mas mantêm operações relevantes no país. É o caso da Feedzai, OutSystems, Talkdesk, Unbabel ou Veniam.

“Hotspot de scaleup”: Lisboa

Lisboa é a cidade que mais scaleups concentra (27), responsável por 221 milhões de dólares (196 milhões de dólares) de capital angariado, que corresponde a 65% do total angariado pelas scaleups nacionais. O Porto é o segundo da lista com praticamente o mesmo número (23), angariando apenas 22% (77 milhões de dólares) do investimento. No terceiro ligar aparece Coimbra, com 10 milhões de dólares de financiamento para scaleups que operam, sobretudo, nas áreas de saúde e cleantech (tecnologia limpa).

Desde 2010, 17 startups tecnológicas portuguesas foram vendidas, a maioria nos últimos dois anos, um “sinal de que o ecossistema de scaleups nacional só recentemente descolou”, refere o relatório. Cerca de 70% das startups tinham menos de cinco anos quando foram adquiridas. Das 17, 16 foram adquiridas por empresas internacionais, sobretudo por norte-americanas e britânicas. É o caso da iMobileMagic, que foi comprada pela norte-americana Smith Micro Software, no ano passado. A iMobileMagic iniciou a atividade em 2011, em Braga, como especialista no desenvolvimento de aplicações móveis com vista à segurança e proteção de crianças, idosos e outras pessoas que necessitassem de cuidados extra.