Passadas três semanas, a Associação Nacional de Praças (ANP) reagiu ao assalto aos Paióis Nacionais de Tancos para fazer uma denúncia grave: “Não há militares em número suficiente para garantir a segurança dos espaços vitais pertencentes às Forças Armadas e, por conseguinte, [para] garantir a defesa da soberania nacional”. Em comunicado, a associação deixa críticas à forma como o Chefe do Estado-Maior do Exército e o ministro da Defesa têm conduzido o processo.

Deixaram passar algum tempo, explicam, para que a “espuma dos dias” assentasse e, com isso, se evitassem “certos constrangimentos” para a investigação e para não acrescentar “ruído” ao que se levantou sobre o “caso de extrema gravidade” que consideram ter sido o furto de material de guerra dos paióis à guarda do Exército. Reagiram agora para dizer que “tem que haver consequências”. E recuperam a expressão do Presidente da República: “Doa a quem doer.”

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A associação não pede demissões — nem do CEME nem do ministro ou do primeiro-ministro –, mas não deixa de classificar de “palavras pífias” as declarações que os vários responsáveis militares e políticos foram produzindo a respeito do assalto a Tancos. “Os militares das Forças Armadas Portuguesas e as Praças em particular não entendem que o CEME diga de forma apodítica que não lhe ‘compete avaliar por que é que a videovigilância estava avariada há cerca de dois anos'”, tal como se recusam a “aceitar que o ministro da Defesa admita que ‘por muito estranho que possa parecer não sei se há falta de vigilância em Tancos'”.

A garantia de que as Forças Armadas não estão em condições de garantir a segurança em instalações sensíveis põe em causa a decisão já anunciada pelo Exército de transferir o material de Tancos para outros paióis. Essa solução esbarra no diagnóstico da ANP, quando retoma um argumento antigo para garantir que “as Forças Armadas Portuguesas têm um défice tremendo de pessoal” que se devem às “sistemáticas políticas” dos sucessivos governos.

“Não podemos estar na linha da frente em reuniões da NATO quando não temos militares em número suficiente para garantir a segurança de um local de extrema importância dentro das nossas fronteiras. Não podemos querer estar em Missões de Paz e Missões Humanitárias, quando não conseguimos garantir a segurança de instalações da máxima importância para a Defesa Nacional e por conseguinte para a Pátria. Não podemos ir jantar fora em restaurantes de luxo, quando em casa não temos o que comer”, defende a associação de Praças.

Num momento em que ainda decorrem investigações ao assalto de Tancos, os Praças assumem “bastantes reservas sobre quais irão ser as conclusões retiradas deste infeliz episódio”. E, ainda que não se revele que ações vão tomar, sublinham a sua intenção de interpelar as chefias militares e políticas: “Está na hora de exigirmos ao Comandante Supremo das Forças Armadas, ao Governo e às Chefias Militares que nos ouçam.”

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As centenas de equipamentos de guerra — entre granadas, lança-rockets, explosivos e outro material — foi levado dos Paióis Nacionais de Tancos algures entre a madrugada e a tarde de 28 de junho. No processo que corre no DCIAP investigam-se suspeitas da prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo internacional. A investigação está a cargo da Polícia Judiciária Militar e da Polícia Judiciária.