Aquele que é provavelmente o maior veiculador de teorias de conspiração nos EUA, o apresentador e fundador do canal de YouTube InfoWars, Alex Jones, tem agora uma nova obsessão: provar que Michelle Obama é um homem transexual.

A teoria da conspiração não foi criada por Alex Jones, mas antes por um vídeo anónimo no YouTube — e ele próprio, possivelmente para evitar problemas com a justiça, diz apenas que quer saber a opinião do público. “Estou aqui para perguntar o que é que vocês acham, porque na América ainda não faz mal fazer perguntas”, disse.

Alex Jones, que baseia a sua argumentação no vídeo original, começa por referir uma declaração da comediante Joan Rivers, em 2014. À entrada de um edifício, perguntaram à comediante se ela achava que era mais provável haver um casal presidencial homossexual ou uma mulher Presidente. A isto, Joan Rivers respondeu: “Já temos um casal presidencial gay. Toda a gente sabe que a Michelle é travesti. Uma transgénero. Toda a gente sabe”.

Estas declarações foram a 4 de julho de 2014. Exatamente dois meses depois, a 4 de setembro de 2014, Joan Rivers morreu.

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A partir desses dois factos, Alex Jones já veiculara uma teoria da conspiração, que apontava para o assassinato da comediante por parte dos Illuminatti, que teriam agido devido às declarações sobre Michelle Obama.

Durante a campanha para as primárias do Partido Republicano, Donald Trump foi entrevistado por Alex Jones e acabou por elogiá-lo. Em novembro de 2016, após a vitória eleitoral de Trump, Jones disse ter falado com o então Presidente-eleito

Outro “indício” encontrado por Alex Jones e pelos criadores da teoria de que a ex-primeira-dama é uma mulher transgénero (durante o vídeo, Alex Jones usa a palavra “tranny”, um termo pejorativo) são vídeos onde se diz que Barack Obama se refere à sua mulher como Michael em vez de Michelle — algo que, em bom rigor, não é percetível nos vídeos em questão. Num, o discurso é interrompido e editado de forma a ser descontextualizado. Noutro, Obama está simplesmente a gaguejar e não diz efetivamente “Michael” nem “Michelle”.

“Eu não estou a dizer que a Michelle Obama é uma tranny e eu não odeio trannies“, garante Alex Jones. “Eu sou um libertário.”

Ao longo do vídeo, Alex Jones partilha várias imagens de Michelle Obama, dirigindo todas a atenção para a zona genital da ex-primeira-dama. “Temos fotografias famosas dela onde parece haver um grande alto nas suas calças”, diz o conspiracionista.

Ela parece ter um grande pénis nas calças, os ombros são largos, a cara é muito masculina e parece uma tranny.”

Alex Jones acaba por perguntar: “Será que já nada do que nos dizem é verdade?”.

https://www.youtube.com/watch?v=4yym71PwbnY

Até agora, Alex Jones não tem tido grandes reações de personalidades conhecidas, que já terão aprendido a máxima “não alimentes o troll“, referência aos comentadores anónimos e por vezes identificados que proliferam na Internet e que, mais do que procurar estabelecer um argumento, procuram chocar. Apesar disso, há uma exceção. Chelsea Clinton, filha de Bill e Hillary Clinton, reagiu no Twitter: “A Michelle Obama é tudo o que este site nunca será: honrada, corajosa, amada e linda. Não é preciso ver um vídeo horrível para saber isso”.

O elogio público de Trump a Alex Jones, um homem de conspirações

Alex Jones é uma figura conhecida nos setores mais radicais da direita norte-americana, nomeadamente na Alt-Right, já entrevistou Donald Trump em direto, quando este ainda era candidato às primárias do Partido Republicano.

Além de dizer que o massacre de Sandy Hook foi um “embuste”, Alex Jones também garante que os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 foram planeados de “dentro” da Casa Branca e acusou Hillary Clinton de operar uma rede de pedofilia e de tráfico de seres humanos em torno de um restaurante de pizzas em Washington D.C. — acusação que, mais tarde, Alex Jones viria a retirar.

Em dezembro de 2015, enquanto entrevistava o então candidato, Alex Jones disse-lhe que o que estava a fazer era “épico”. Donald Trump respondeu-lhe: “A sua reputação é ótima. Não o vou desiludir”. Mais tarde, no dia seguinte à vitória de Donald Trump nas presidenciais, Alex Jones disse que recebeu um telefonema do Presidente eleito, onde este lhe terá agradecido o apoio — mas nem Donald Trump nem a sua equipa confirmam que tal chamada tenha acontecido.

“Ele agradeceu-me por lutar tanto pelos americanos, pela americanidade, e agradeceu aos ouvintes e apoiantes e disse que estava cheio de trabalho”, disse Alex Jones numa entrevista.