“Condenamos todas as violações dos direitos humanos e violência ilegal. Estamos empenhados em restaurar a paz e a estabilidade e a legalidade em todo o Estado“, garantiu esta terça-feira, em Naypyitaw, capital de Myanmar, Aung San Suu Kyi, a Conselheira de Estado do país que é, na verdade, a sua líder de facto.

Há cerca de um mês que a comunidade internacional esperava que Suu Kyi, 72 anos, Nobel da Paz em 1991, prisioneira política durante anos na antiga Birmânia, se manifestasse sobre o assunto. Desde 25 de agosto, foram já 410 mil as pessoas da minoria muçulmana rohingya no país a fugirem para o vizinho Bangladesh, perseguidos por autoridades e grupos paramilitares. Vários milhares foram mortos. As Nações Unidas utilizam já o termo “limpeza étnica” e António Guterres, secretário-geral da ONU, avisou no passado domingo que o tempo útil de Suu Kyi para falar — e fazer alguma coisa — estava a chegar ao fim: “Se ela não reverte a situação agora, então creio que a tragédia será absolutamente horrível e desafortunadamente não vejo como isto possa modificar-se no futuro”.

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Ao longo do discurso, Suu Kyi, que tem sido muito criticada por não tomar uma posição quanto ao assunto (há até quem peça que lhe seja retirado o galardão sueco), não utilizou expressões como “limpeza étnica”, “genocídio” ou sequer “rohingya”, sublinha a agência Reuters. Em vez disso, declarou lamentar profundamente o sofrimento de “todas as pessoas apanhadas pelo conflito” no Estado de Rakhine, onde os Rohingya representam mais de um terço da população.

Esta segunda-feira, os Estados Unidos tinham pedido ao governo do país para terminar as operações militares no Estado e permitir o acesso dos grupos de ação humanitária — Suu Kyi também não respondeu durante o seu discurso à nação, garantindo em vez disso que desde o passado dia 5 de setembro que não há confrontos nem operações militares no local.

Ainda assim, estamos preocupados por saber que um tão grande número de muçulmanos está a fugir pela fronteira para o Bangladesh. Queremos descobrir por que motivo está este êxodo a acontecer. Gostaríamos de falar com os que fugiram bem como com os que ficaram. Acho que é um facto pouco conhecido, mas grande parte dos muçulmanos no estado de Rakhine não se juntaram ao êxodo.”

Suu Kyi garantiu ainda que o governo do país não teme o escrutínio internacional e que está a fazer todos os esforços para restaurar a paz e “promover a harmonia” entre as comunidades budista e rohingya em Rakhine.