Viram as quatro estrelas no topo desta análise e provavelmente a reação é: então o iPhone X não é perfeito, incrível e a melhor coisa de sempre? Resposta rápida: Não, não é. O X, lançado a 3 de novembro, é sem sombra de dúvidas o melhor iPhone de sempre, mas há telemóveis melhores, com mais funcionalidades e acima de tudo melhor preço. São tão bonitos como o iPhone X? Não, mas a beleza não é tudo.

Não há dúvida de que a Apple criou um smartphone inovador e que capta a atenção de qualquer um. Durante a semana em que analisámos o iPhone dez — sim, dez, o X é romano –, foi raro o momento em que o tirámos do bolso e não houve olhares curiosos com o telemóvel. É um smartphone que dá nas vistas. O ecrã, o design e o tamanho fazem do iPhone X um aparelho que ao mesmo tempo tem classe e é futurista.

iPhone X

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A favor

  • Animojis
  • Câmara traseira
  • Gestos no sistema operativo
  • Bateria
  • Carregamento sem fios

A contra

  • Preço
  • Memória RAM
  • Otimização de aplicações com o rebordo do ecrã

O smartphone mais bonito é vazio de substância: vem com reconhecimento facial, um ecrã de canto a canto que dispensa o botão de menu, processador com inteligência artificial (I.A.) A11 bionic, carregamento sem fios e com o que gostámos mais: dos animojis. No entanto, também tem algumas coisas irritantes: não tem entrada de auriculares, não tem sensor de impressões digitais, fica lento com aplicações em segundo plano, por vezes aquece mais do que devia. É frágil, o topo do ecrã tem um rebordo que corta a imagem e… é caro, muito caro. Custa no mínimo 1.180 euros.

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O irritante: headphones, para que vos quero

O futuro pode ser wireless, mas ainda vivemos no presente. Por mais que seja conveniente phones sem fios, emparelhar uns auriculares Bluetooth ainda pode dar dores de cabeça, mais vezes do que é desejável. Quando funciona é ótimo, mas entrar num carro com sistema mãos livres e depois voltar a usar os phones que estavam emparelhados ainda cria problemas de conexão, entre outras situações. Uma entrada de headphones resolvia facilmente este problema e fazia poupar minutos preciosos para se fazer uma chamada. A Apple põe na caixa do iPhone X uns Earpods (auriculares com fios da Apple) com entrada especial própria para facilitar, mas continua a ter o mesmo problema que o iPhone 7 já tinha. Ou se anda com adaptadores para usar phones com entradas comuns de 3,5 mm ou então é gastar ainda mais dinheiro em auriculares com saídas de áudio compatíveis, quando se deixa esses em casa porque não são assim tão comuns. E carregar o telemóvel enquanto se ouve música? Mais adaptadores. Uma coisa é certa: tanto com fios como sem, a qualidade de som por auriculares é estupenda no iPhone X.

10 fotos

O sensor de impressão digital também faz muita falta. O reconhecimento facial funciona a 80% e quando temos o telemóvel em cima da mesa — principalmente naquelas reuniões em que discretamente queremos ver as mensagens no Whatsapp — não é útil. Se antes precisávamos apenas de pôr um dedo sobre o botão do menu, com o iPhone X, na posição horizontal, o ângulo da câmara não consegue reconhecer a cara. Mesmo que façamos um movimento a pôr a cara no ângulo da câmara, foram raras as vezes em que funcionou.

Quando tirámos o iPhone do bolso, por exemplo, esta funcionalidade conseguiu ser frustrante. Quando funciona, é rápida e mostra-se a melhor opção para desbloqueio de um telefone. Mas frustra o utilizador quando não reconhece a cara e pede o código de seis dígitos. É uma ação que devia ser rápida, mas que demora mais tempo, porque perdemos mais tempo a olhar para um smartphone de mais de mil euros. Gostámos desta funcionalidade quando, de facto, funcionava, mas o problema é que, tendo em conta o preço, não se justifica que só funcione em 80% das vezes (principalmente quando aqueles 20% correspondem a momentos em que quisemos responder rapidamente a um email ou a um SMS).

Outro ponto irritante é o rebordo que corta o topo do ecrã. Foi um dos primeiros erros de design apontado pelos críticos com o anúncio do iPhone X, até por nós quando recebemos o smartphone na redação. Irrita, mas passado uns dias uma pessoa esquece-se que está lá. Tirando o momento em que estamos a visualizar vídeos em modo de ecrã inteiro ou a usar as ainda muitas apps que não estão otimizadas (ou mal otimizadas) para este novo formato, a saliência que achávamos que ia ser a coisa mais irritante no iPhone X acabou por ser das que menos foi. Sabendo como a Apple funciona, a questão da otimização das apps vai ser resolvida pelos programadores e, até lá, esta questão não é um completo não ao iPhone X (mas ajudou a não ter as cinco estrelas).

À esquerda está o printscreen da imagem da direita feita no iPhone X. O rebordo corta o topo da imagem. A má otimização faz com que seja difícil carregar no ícone laranja do utilizador.

Outro ponto negativo é a velocidade de algumas apps no iPhone X. O smartphone vem com três gigabytes de memória RAM, enquanto os concorrentes diretos vêm com, pelo menos, quatro gigabytes. Com várias aplicações abertas ou enquanto utilizámos funções que puxam mais pelo dispositivo, ele encravou e chegou a desligar apps. Nota-se esta questão especialmente a usar os animojis. Bastam cinco minutos para a aplicação de mensagens começar a encravar e ficar aos soluços.

A única justificação encontrada para esta falha é falta de memória RAM. Com cinco aplicações abertas em segundo plano (Gmail, Safari, Contactos, Fotografias e Observador) a que estava em utilização no ecrã principal também começava a ficar lenta. Estamos a falar do topo de gama da Apple, não é suposto isto acontecer (tínhamos até poucas aplicações instaladas no iPhone enquanto o estivemos a analisar).

O mais irritante é de facto o preço. A Apple já é conhecida pelos preços elevados. Paga-se, além da marca, a qualidade? Paga-se, mas mesmo assim é muito caro. Não estamos a dizer que o smartphone devia ser muito mais barato ou que não tivesse o mesmo preço, maas pelo valor mínimo pedido, devia chegar já com mais funcionalidades, à semelhança dos concorrentes (que são mais baratos). Exemplo: como ligar a um ecrã e tornar-se num computador estilo desktop, ser bem mais resistente (basta pegar no telefone para se perceber que a traseira em vidro é frágil) e manter opções como o sensor de impressão digital para desbloqueio.

O cativante: bem-haja à Super Retina

Nem tudo no iPhone X é irritante. Verdade seja dita, o smartphone tem mais coisas cativantes que irritantes. Dizemos que é o smartphone mais bonito e fazêmo-lo porque é realmente um telemóvel único. Se há quem defenda que bonito é um conceito subjetivo é porque ainda não esteve com o iPhone dez nas mãos. A Apple habituou-nos a um design elegante nos últimos anos e parece não querer mudar. Com o iPhone X arriscou, voltou a mudar a fórmula vencedora e teve novamente uma vitória: o design é inovador, disruptivo e cativante. É pesado em comparação com outros smartphones (174 gramas), mas para um ecrã de 5,8 polegadas é o peso ideal. E o tamanho surpreende qualquer um. É praticamente o mesmo que o iPhone 7. Ou seja, o iPhone X tem todas as vantagens de um smartphone plus, mas com um tamanho normal graças ao ecrã canto a canto (nem a Samsung conseguiu a mesma faceta com os Galaxy S8).

O iPhone X em comparação com o iPhone SE, que é considerado um smartphone pequeno.

E não é só o design que deslumbra, é também a construção e componentes do aparelho. Falamos principalmente das colunas. Foi a primeira vez que agarrámos num smartphone na horizontal, com as mãos a cobrir a saída de som e a qualidade não ficou afetada. As colunas são um dos pontos altos do iPhone X, quer seja em vídeos, como em canções. Mesmo numa sala com algum barulho, as colunas do iPhone X fizeram-se ouvir.

A qualidade de imagem também acompanha a do som. O ecrã Super Retina HD OLED (que a Apple compra à Samsung) é um deleite para os olhos. Cores vivas, que se adaptam à luz ambiente como nunca vimos noutro smartphone. Até o toque no ecrã é suave, ao deslizar com os dedos no visor não se sente quase nenhuma fricção.

Quanto ao sistema operativo, vemos no iPhone X o que a Apple quer do iOS 11. Se nos primeiros momentos em que utilizámos o X, sentimos a falta do botão de menu, bastou um dia para nos habituarmos aos novos gestos da interface. Trocar de aplicações, voltar ao menu inicial, ver as notificações ou ir ao menu de atalho estranha-se, mas depois entranha-se ao ponto de não querermos outra coisa.

E se gostámos do sistema, gostámos mais ainda da bateria. Dá, sem problemas, para mais de um dia inteiro e isto com utilização intensivo (até a fazer de hotstop de Wi-Fi durante períodos de mais de meia hora ao longo de um dia). Infelizmente o carregador que vem com o iPhone X não é de carregamento rápido (é preciso comprar à parte). Também a opção de carregamento sem fios precisa de um acessório comprado como extra. Apesar de o carregamento sem fios demorar mais a carregar até 100% o smartphone, merece o investimento extra se se adquirir este equipamento.

A dupla câmara traseira é a única saliência na traseira do iPhone X e consegue imagens melhores que o iPhone 8.

É graças ao chip de inteligência artificial e à dupla câmara traseira que este é o telemóvel da Apple mais preparado para realidade aumentada. As aplicações que escolhemos mostram a utilização que esta ferramenta pode ter no futuro próximo (principalmente com a app do IKEA) e o iPhone X foi, até agora, o melhor smartphone para realidade aumentada que tivemos nas mãos. Ainda pode (e deve) melhorar, mas percebe-se a aposta e relevo que a Apple tem dado a esta nova tecnologia.

Já a câmara frontal também tem uma qualidade acima da média, mas principalmente para selfies. Em ambientes mais escuros nota-se que a dupla câmara traseira é claramente a principal, superando bastante a qualidade das fotografias tiradas com a frontal. As utilizações mais complexos da câmara frontal ficam-se pelos animoji, mas neste aspeto há bastante espaço para a Apple melhorar (principalmente com pouca luz, não é a melhor câmara).

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Por fim, o melhor: os animojis. A câmara frontal do iPhone X consegue replicar os movimentos da cara de uma pessoa numa animação e os resultados são, por norma, hilariantes (animoji). Com tantas novidades, os animoji deviam ser uma coisa mínima no iPhone X.

Para os usar nem sequer é rápido. É preciso abrir o iMessage com um contacto de alguém que tenha iPhone, carregar no ícone da Store e depois abrir os animojis (há dez, como uma galinha, um porco, um unicórnio e até um cocó). Só dá para gravar mensagens de dez segundos e se não as enviarmos logo é demasiado fácil perder-se a gravação (basta escolher outro animoji ou voltar para trás). Mesmo com estas limitações é a melhor coisa que a Apple criou nos últimos tempos. Usámos com dezenas de pessoas e fascinou cada uma delas. E não só crianças, os adeptos foram principalmente adultos. A única coisa que falta no iPhone X é uma app própria para estes animojis e mais aplicações que deem mais utilização a esta ideia da Apple.

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Veredicto final: Os animojis não compensaram o preço

Se fosse possível darmos 4,5 estrelas ao iPhone X era essa a classificação que tinha. No entanto, não sendo possível, era injusto este smartphone ter a uma classificação perfeita como um Samsung Note ou o Galaxy 8 merecem. Acima de tudo, a razão é o preço. Na versão mais barata, de 64 gb, este smartphone custa 1180 euros em Portugal. Mais 150 euros que qualquer um da concorrência.

Por muito que a câmara, a qualidade imagem e até os animojis sejam incríveis, o reconhecimento facial falha mais vezes do que é suposto, é demasiado frágil, aquece demasiado com utilização normal e fica lento com algumas aplicações em segundo plano. Para um smartphone desta gama, espera-se e exige-se mais. O iPhone X é o melhor iPhone no mercado, mas não o melhor smartphone.