A falta de assistência médica e medicamentosa, habitação condigna e emprego, juntamente com a reduzida pensão mensal oficial que ronda os 21 mil kwanzas (95 euros), lideram as preocupações dos antigos combatentes em Angola.

Ouvidos esta segunda-feira pela Lusa, no âmbito do Dia do Antigo Combatente e do Veterano da Pátria, que se assinala em todo o país, estes antigos combatentes angolanos, que participaram na guerra colonial e na guerra civil, apresentaram as dificuldades diárias, recordando que o país alcançou a independência “graças ao seu esforço e empenho”.

“Tenho filhos e netos e com esse dinheiro nada se faz, estamos a passar fome e se a criança vai à escola é graças a Deus”, disse à Lusa Madalena João Batista, de 66 anos.

Esta antiga combatente das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FAPLA) – braço armado do MPLA até 1991 – queixa-se mesmo de algum esquecimento e desvalorização a que estão submetidos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não somos valorizados, não temos casas, nem regalias e estamos aqui a sofrer, no esquecimento”, desabafou, à margem da cerimónia oficial que juntou em Luanda centenas de antigos combatentes para assinalarem a data.

Para o ex-combatente Paulino Tukeba, de 69 anos, que diz ter passado “14 anos na mata”, na luta de libertação, o antigo combatente em Angola hoje “não é respeitado”.

“E nem sequer valor temos. A tal pensão de 21 mil kwanzas que nos dão não chega para nada, estamos em crise e o dinheiro que já é pouco ainda atrasa. É triste a situação dos antigos combatentes”, realçou.

Paulino Tukeba diz sobreviver graças ao apoio da família, porque, observa, “se dependesse do Estado não estaria aqui em vida”.

“Recebemos muitas promessas de casas, cooperativas agrícolas, emprego e estudo para os filhos e até hoje nada. Eu sou doente e nem assistência médica tenho direito”, lamentou.

Lamentações e esperança num “novo rumo” na situação dos antigos combatentes e veteranos da pátria foram também manifestadas por Tomás Muati Canhangulo, igualmente ex-combatente das FAPLA.

“Precisamos de ser valorizados em todos termos. Precisamos de uma credencial que identifica o sofrimento do antigo combatente. O ‘subsidiozinho’ continuamos a receber, mas estamos em crer que a pensão de 21 mil kwanzas poderá ser melhorada no futuro”, admitiu.

O ex-militar acredita na resolução das preocupações dos antigos combatentes, porque o país “está numa nova era”, aludindo ao início da governação liderada por João Lourenço, eleito Presidente da República em agosto último.

“Mas é verdade que quando se trata de um país que saiu da guerra é preciso reconhecer que algumas coisas estão a ser feitas e as coisas em falta certamente deverão ser complementadas”, apontou.