Pepe Brix, fotógrafo documental português, é o autor desta primeira história de “No Centro do Mundo Cervejeiro”

Todas os produtos que consumo com mais frequência, ou que reparo que acabam nas mãos da grande maioria das pessoas à minha volta, despertam em mim uma curiosidade que me impele a descortinar o mundo onde esse produto ganha forma – quem, como e onde.

Em Julho do ano passado fui desafiado a percorrer o país de norte a sul, para ir ao encontro daqueles que com o mínimo viviam o verão à grande. A cada vez que regresso às memórias dessa viagem, atesto a importância de nos querermos superar sempre, de nos mantermos ligados à natureza, abrindo-nos a ela e a todos os que à nossa volta vão dando forma e cor a essas experiências.

Cinco meses depois, a Cerveja Sagres abriu-me as portas da sua Cervejeira de Vialonga. Convidou-me a entrar e a descobrir todo um mundo que está por detrás das cervejas de uma marca, criada há mais de setenta anos. Sem medo nem segredos, abriu as portas da entrada e todas as outras que dão acesso às várias fases do processo de elaboração das suas cervejas.

Durante três semanas percorri os cantos mais esconsos de uma cervejeira que não dorme, e aproveitando esse privilégio de poder acercar-me de todos os seus compartimentos, contagiando-me da simpatia e dedicação da gente que os preenche, aprendi que a paixão pelo que fazem é o principal ingrediente para todas as cervejas que dali saem. Passo a passo fui-me inteirando do processo e vendo como essa teia humana e a naturalidade dos ingredientes usados se fundem com a mecânica da cervejeira, para garantirem a constância da qualidade da cerveja produzida.

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Começando pela chegada da cevada à Malteria, onde esta germina, expandindo as suas radículas e transformando-se no malte que dará cor e sabor à cerveja, deslumbrei-me depois com os cheiros revigorantes da Brassagem onde à água e ao malte que acabaram de formar o “mosto”, se adiciona o lúpulo que dará à cerveja as características mais ou menos amargas do seu sabor. Nas adegas fotografei todo um processo meticuloso que se usa de um microrganismo, a levedura, para fazer a fermentação da cerveja. De todos os fabricos é retirada uma amostra de levedura e enviada para o laboratório, para testar a sua vitalidade e garantir que esta cumpre nas melhores condições o seu papel na fermentação.

Por fim, já depois de repousar o suficiente bem perto da cerveja filtrada, chegou a altura de me perder nas salas que contemplam as seis linhas de enchimento. Seis linhas por si só surpreendentes pela sua capacidade de enchimento por hora, mas que se revelam ainda mais surpreendentes se pensarmos que toda aquela energia que enche, encapsula e coloca os rótulos nas garrafas a uma velocidade estonteante, pode advir na sua totalidade do vapor e da eletricidade resultantes do sistema de cogeração da cervejeira.

Por detrás daquilo que consumimos, está um mundo complexo de acontecimentos, de investigação, de ensaios e constantes melhoramentos, e está ainda o suor de centenas de pessoas e um mercado extremamente exigente. Ninguém que se apodere de tal consciência algum dia fará o seu consumo da mesma forma. Agora, mais perto do processo de produção de cerveja, cada trago se enche desse esforço e ganha um novo corpo.

Durante as próximas semanas, vou descodificar alguns momentos chave do processo e partilhar a importância e manuseamento dos ingredientes que dão corpo, aroma e sabor a uma cerveja.