Na antecâmara da receção do Sporting aos checos do Viktoria Plzen, a contar para a primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, Jorge Jesus, que cumpre a terceira temporada no comando dos leões, deu uma entrevista ao site da UEFA onde abordou diversos temas, do início no futebol à evolução da equipa verde e branca desde a sua chegada, passando pela ambição europeia do clube de Alvalade, pela análise à evolução de Bruno Fernandes e pelos principais traços como treinador.

Em resumo, aqui ficam as principais ideias do técnico, que tem uma filosofia muito própria no banco. “Sou muito convicto daquilo que faço. Se tiver de errar vou errar pela minha cabeça e nunca pela cabeça dos outros”, destacou.

A chegada ao Sporting e o pai como principal ídolo

“Praticamente comecei como jogador na formação do Sporting, Antes, estive no clube de bairro da minha cidade, que era o Estrela da Amadora, e depois num jogo do campeonato nacional de juvenis o Sporting contratou-me, a mim e a outro jogador que jogava lá comigo e que hoje é me adjunto aqui no Sporting, o Miguel Quaresma. A minha aproximação ao Sporting foi como jogador e também, como toda a gente sabe, o meu pai foi um antigo jogador do Sporting, o que teve alguma influência. O meu pai sempre foi o meu ídolo e penso que todos os pais gostam que os filhos sigam os seus passos. Claro que, independentemente do clube onde esteja, a minha paixão é sempre o futebol. Identifico-me com a minha profissão e foi com o meu trabalho que fui conseguindo êxitos desportivos que me trouxeram até onde estou hoje”, referiu.

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O cunho pessoal como treinador e os bloqueios do basquetebol

“Descrevo-me como um treinador criador, não me fico pelo treino científico. A grande qualidade de um treinador é saber colar o treino científico com o treino criativo e eu, nas minhas equipas, faço questão que as ideias sejam criadas por mim. Por exemplo, as várias marcações que hoje se usam à zona nas bolas paradas fui eu que lancei há 25 anos; os bloqueios no futebol fui eu que trouxe do basquetebol. Portanto, acho que sou um treinador que tem trazido coisas diferentes para o futebol, para além de ser um apaixonado e obcecado pela perfeição. Um treinador que impõe as suas ideias tem de acreditar naquilo que faz. Sou muito convicto daquilo que faço. Se tiver de errar vou errar pela minha cabeça e nunca pela cabeça dos outros. Mas aquilo em que gosto de me diferenciar é ser um treinador que crio as minhas próprias metodologias”, destacou.

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A afirmação do nome Sporting e a proposta feita à UEFA (que hoje vigora)

“A participação na fase de grupos da Liga dos Campeões desta época permitiu a afirmação do nome Sporting no mundo. Jogar com Barcelona ou Juventus não é, claro, o mesmo que defrontar um Astana e toda a gente ficou surpreendida por ver o Sporting jogar taco a taco com essas equipas. A Liga Europa é uma competição onde o Sporting quer chegar longe, sabendo que se chegarmos aos quartos de final vão lá estar equipas que podiam muito bem estar numa final de Champions. A Liga Europa valorizou-se muito com a possibilidade de o seu vencedor entrar na Champions seguinte, proposta que eu próprio apresentei à UEFA (…) É difícil conciliar as duas coisas e tenho essa experiência, porque sinto que já perdi um Campeonato por querer chegar a uma final da Liga Europa, que depois acabei por perder para o Chelsea”, salientou.

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Bruno Fernandes e mais quatro jogadores (que costuma ser um) em três anos

“Bruno Fernandes? Não estou surpreendido, quem tem de estar surpreendido são outros que não tenham reparado nele para o contratar. O Bruno estava em Itália e não jogava sempre. As equipas grandes não estavam a reparar nele, mesmo em Portugal. Despertou o nosso interesse, detectámos que estava ali um jogador com muito talento e vai ser um jogador que, em três anos, estará num dos grandes clubes da Europa. Dará certamente um grande retorno financeiro ao Sporting. Um treinador só pode apostar se houver jovens com qualidade, se não houver não se pode inventar nada. A formação do Sporting, ao longo destes três anos, já nos permitiu potencializar jogadores como Gelson, Podence, Rúben Semedo e agora o próprio Leão. Em três anos estamos a falar de quatro jogadores quando normalmente em três anos se consegue fazer um…”, explicou.

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“A aproximação que o Sporting fez aos dois rivais é diferente do que era nos anos anteriores. O Sporting hoje luta por todos os títulos em que está inserido. Ainda temos, contudo, de crescer em termos estruturais. Os jogadores do Sporting têm hoje mais qualidade, mas para ter jogadores de qualidade é preciso ter condições financeiras (…) Todas as equipas têm pontos fortes e fracos. O ponto forte desta equipa: quando está fisicamente apta para corresponder à intensidade dos jogos tem uma organização defensiva muito forte, muito boa. Depois é importante ter um goleador como o Bas Dost, que sempre foi um finalizador que marcava muitos golos, mas que evoluiu muito connosco em termos técnicos e que é agora um jogador mais completo. O objectivo continua a ser colocar o Sporting ao nível dos principais rivais e intrometer-se entre os dois”, concluiu.

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