Com um problema oncológico “galopante”, como o próprio descrevia, Daniel Raimundo, um português radicado na Bélgica, tinha dois sonhos por cumprir: viajar para Portugal e pisar o relvado do estádio José Alvalade, casa do “seu” Sporting. 37 dias depois de realizar esse segundo desejo, o emigrante com uma história que emocionou o país morreu esta sexta-feira.

Com o agravamento do seu estado de saúde, Danny, como também era conhecido, deixou um pedido através das redes sociais para conseguir auxílio para voltar ao seu país, que acabou por ser atendido pelos Bombeiros Voluntários Sul e sueste, que cederam uma ambulância de transporte de doentes para se deslocar até Bruxelas onde seguiram também três voluntários da corporação e uma enfermeira, garantindo todas as condições para a viagem. Nessa altura, a história do emigrante já era acompanhado por vários meios e gerou-se uma onda de solidariedade através das redes sociais.

A 29 de janeiro, Daniel chegou a Portugal, mais concretamente ao Barreiro, cumprindo a primeira ambição que tinha ainda por realizar. Na Bélgica desde julho de 2017, taxista de profissão, o português tinha sido diagnosticado no início do ano com um cancro terminal que lhe daria apenas alguns meses de vida, já depois de ter estado num centro de saúde que não lhe encontrara nada de anormal. Como contou à Impala News, tinha duas opções: “qualidade de vida ou prolongar a vida sem qualidade”. Optou pela segunda, sempre com a esperança num milagre e com a vontade de estar entre os seus.

Visivelmente fragilizado em termos físicos, Daniel Raimundo conseguiu ainda cumprir outro sonho: pisar o relvado do estádio José Alvalade, casa do “seu” Sporting, tendo sido mesmo convidado pelo clube para dar o pontapé de saída no Sporting-V. Guimarães, a 31 de janeiro, sob a ovação de um recinto com mais de 40 mil pessoas que aplaudiram de pé o momento. Jorge Jesu, técnico dos leões, fez também questão de dar um forte abraço ao adepto quando saía das quatro linhas.

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Nascido em maio de 1974, era sportinguista desde pequeno por influência do pai, que lhe dera uma camisola do mítico avançado argentino Héctor Yazalde nessa altura (passou por Alvalade entre 1971 e 1975). “Não sei o dia de amanhã, mas quero estar cá para comemorar o título do Sporting e era esse o meu pedido: que ganhem o Campeonato. Era essa a minha maior alegria”, disse na chegada a Portugal após uma longa viagem de Bruxelas sempre com camisola, cachecol e chapéu dos leões.

Daniel Raimundo morreu esta sexta-feira, aos 43 anos. Falando de “exemplo de garra de um leão que rugiu com todas as suas forças numa luta desigual”, o Sporting já apresentou “as mais sentidas condolências à família e amigos enlutados”.