O recluso número 7.147 do estabelecimento prisional de Bapaume, uma comuna no norte de França em Pas-de-Calais, é um homem parecido a Robinson Crusoé. É sorridente, tem uma barba muito farta, a boca ligeiramente torcida à conta de um derrame isquémico, está parcialmente cego, tem problemas cardíacos e está surdo de um dos ouvidos. A 29 de outubro de 1977, este homem foi detido por ter assassinado um vizinho em Amiens a quem tinha roubado para ganhar uns meros trocos e acabou condenado a uma pena perpétua. Passados 41 anos tornou-se num dos presos mais antigos em França sem nunca ter recebido uma visita ou ter direito a uma saída precária. Mas, a 1 de junho deste ano, o “preso esquecido” como lhe chamou a própria justiça francesa, vai ser libertado.

A única vez que Michel Cardon, o nome do “preso esquecido”, saiu à rua foi para mudar de estabelecimento prisional e isso já aconteceu em 1996. Foi preciso esperar 38 anos de prisão para receber a primeira visita desde que foi detido, tinha ele 26 anos: o companheiro de cela que havia sido libertado, mas que prometeu antes de sair que voltaria para o ver. Há ano e meio, no entanto, Michel Cardon recebeu a inesperada visita de um advogado que o prometeu libertar o mais depressa possível. Era Éric Morain, o famoso advogado parisiense que também está a defender uma das vítimas Tariq Ramadan, suspeito de ter violado várias mulheres em França. Ao fim de 18 meses, Éric Morain conseguiu libertar o “preso esquecido”.

A batalha foi dura. O advogado, que conheceu a história de Michel através de uma reportagem do La Voix du Nord, chegou a enviar uma carta aberta ao presidente francês Emmanuel Macron a pedir-lhe que concedesse o perdão ao “preso esquecido” — um poder que o presidente tem nas mãos e que, se Macron o realizasse, seria o primeiro do mandato. Mas o presidente não perdoou Michel Cardon, que na altura em que o pedido foi enviado para a presidência estava preso havia 40 anos, três meses e 14 dias. Em vez disso, o tribunal retirou a pena prepétua a Cardon e disse-lhe que ficaria na prisão apenas por mais 108 dias a contar a partir do julgamento. Daqui a dois meses, o “preso esquecido” estará na rua.

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