Nos últimos anos, por culpa de um boom no empreendedorismo a nível mundial e da força de locais como Silicon Valley, a figura do empreendedor tem sido vista e representada como se de uma rockstar ou super-herói à prova de bala se tratasse. Contudo, num mundo em que os casos de sucesso são apenas a “ponta do iceberg”, também os super-heróis precisam de “pendurar a capa” e avaliar se estão a utilizar os seus poderes da melhor forma. Se não o fizerem, estes “de nada lhe servem”.

Quem o diz é Pedro Colaço, fundador da FailProof Business Academy, que criou um teste para que os super-heróis do novo milénio, os empreendedores, possam tirar a capa, avaliar se os seus projetos ou negócios estão ou não em risco de fracassar e perceber como podem utilizar melhor os seus ditos “poderes”.

O empreendedor tem representado essa figura de super-herói. Tem razão de ser, mas idealiza-se demasiado. Se o super-herói não se vir ao espelho, não souber pendurar a capa e avaliar como é que utiliza os seus poderes, estes de nada lhe servem.”, considerou Pedro em conversa com o Observador.

Os empreendedores falham mas recuperam: a Failproof explica como

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Chamado “À Prova de Fracasso”, este teste está disponível gratuitamente na página da FailProof e permite a qualquer um obter um valor de risco de fracasso de negócio numa escala de 0 a 100, sendo 0 sinónimo de risco reduzido ou inexistente e 100 de risco elevado. Além disso, graças a um algoritmo, o teste fornece ainda uma série de dicas e conselhos relativas às áreas que foram consideradas críticas. No entanto, tudo isto só resulta se o empreendedor for honesto consigo mesmo e sobre o seu negócio: o teste de diagnóstico é de autoavaliação, e “não há outra forma de o fazer”.

O nível de conhecimento que uma pessoa externa, um consultor, tem sobre um negócio ou projeto de outra pessoa é diferente daquele que a própria pessoa tem. O fundamental é a própria pessoa confrontar-se com questões. Das duas, uma: ou a pessoa vai perceber que há áreas onde não estão tão desenvolvidos como poderiam estar, ou a pessoa de facto nem sequer chegou a colocar-se essa questão. Isso leva a que essa pessoa olhe para o espelho e se pergunte ‘agora o que é que eu vou fazer?’, o que é muito mais poderoso do que ter alguém a explicar-lhe o negócio. O empreendimento nasce de uma ideia de um empreendedor, ele é a pessoa chave. Se essa pessoa não quer mudar ou acha que não faz sentido fazê-lo, acho que dificilmente uma pessoa de fora o fará.”, disse Pedro Colaço ao Observador.

A prova está dividida em nove grupos: Mercado, Produto, Negócio, Angariação, Conversão, Retenção, Recursos, Arranque e Resultados. Cada grupo tem quatro questões, às quais se pode responder através de quatro “níveis”, dois de “discordo” e dois de “concordo”. Para receber a resposta, que é calculada com base nas “discordâncias” das respostas dadas, basta introduzir o e-mail para onde ser pretende que esta seja enviada. Fora isso, o teste é totalmente anónimo.

O importante, referiu Pedro, é que os empreendedores percebam que “eles é que estão no centro e são responsáveis” pelo seu negócio, dizendo ainda que há tendência, como acontece em “coisas do dia-a-dia”, para “responsabilizar outros ou causas exteriores”, tais como falta de financiamento ou mercado, pelos fracassos de negócios.

“Enquanto as pessoas não perceberem que estão no centro, o que têm em seu controle e o que não têm, vão sempre chutar para fora. Olhar para o fracasso é sempre difícil. Os poucos que conseguem compreender que a responsabilidade é do próprio empreendedor e que a mudança está ao seu alcance vão conseguir mudar e superar, porque não estão a colocar fora de si a responsabilidade. Os que não conseguem vão ficar a desculpar-se e a culpar outros. A atitude é essencial.”, disse o fundador da FailProof.

Para Pedro, combater o fracasso passa por “nos confrontarmos com os nossos erros”, perceber “o que está mal” e fazer alguma coisa com essa aprendizagem. Por isso, cabe à pessoa que fez o teste de diagnóstico decidir o que quer fazer face aos resultados do teste da FailProof e perceber que os ditos “super-heróis” o são porque, além de terem o conhecimento necessário em áreas chave de gestão, têm “determinação e atitudes à prova de fracasso”, bem como noção dos riscos existentes.

É importante ver o que está debaixo da ponta do iceberg. Tendo uma noção mais clara, percebe-se que o risco [de fracasso] é enorme. Basta olhar para as maiores empresas do mundo para perceber que elas estão alavancadas em dívida. Vemos algumas empresas como a Uber e a Spotify, que estão alavancadas em dívida e que nunca deram lucro, mas que algum dia têm de dar, porque é insustentável.”, referiu Pedro.

Para ajudar empreendedores, a Academia disponibiliza no seu site quatro cursos, dos quais três são gratuitos, e diversas ferramentas e recursos para facilitar a resolução de problemas. Fora isso, a FailProof presta ainda serviços de “coaching” e consultoria, os quais são feitos de forma mais presencial e acompanhada.

O objetivo da FailProof, explicou Pedro, “não é criar a startup do milénio”, mas sim ajudar a que as pessoas consigam “criar um negócio sustentável e desenvolver a sua ideia numa adequação que faça sentido”. “Há muita coisa que é estratosférica e que vai acabar como a história do Ícaro, é inevitável”, disse.

A FailProof surgiu no ano passado com Pedro Colaço e teve raízes num evento internacional de origem mexicana, o FuckUp Nights, que Sofia Ferreira Simões trouxe para Lisboa em 2016. No FuckUp Nights, em vez da estratégia pedagógica, o ambiente era de conversa e partilha, do género “Fracassos Anónimos”. A última edição do FuckUp Nights Lisboa chegou aos 400 inscritos e contou com 250 participantes. A próxima está prevista para outubro (o pré-registo pode ser feito aqui).