A voz de soprano de Elina Nechayeva, que representa a Estónia no Festival Eurovisão da Canção, não lhe bastou para marcar presença no palco preparado no Altice Arena para receber o concurso. O que deu mesmo nas vistas foi o vestido branco assinado por Eesti Laul que usou e que serviu de tela para mais de três centenas de projeções. Mas algo muito parecido já tinha sido protagonizado por Jennifer Lopez no programa “American Idol” enquanto cantava “Feel The Light”, composta para o filme “Home: A Minha Casa”. E não é uma estreia na própria Eurovisão.

A primeira vez que se viu um espetáculo desta natureza foi em 2012 quando a cantora do Azerbaijão Sabina Babayeva subiu ao palco da arena Crystall Hall em Baku para interpretar “When The Music Dies”. Lançou-se assim a moda das projeções em vestidos de noiva: logo no ano seguinte, Carrie Underwood empregou a mesma ideia no vestido com que atuou dos Grammy. Só com uma diferença: enquanto a projeção feita ao vestido de Sabina limitava-se a fazê-lo mudar de cor, o da cantora norte-americana incluía animações.

Tanto uma como outra ficaram muitos quietinhas no palco enquanto as luzes LED da equipa de engenheiros fazia o trabalho a partir das alturas. Mas ainda em 2013, a tecnologia permitiu novas evoluções nos chamados “vestidos LED”: Aliona Moon usou um para representar a Moldávia na Eurovisão, mas os efeitos visuais permitiram fazer com que a fatiota parecesse aumentar de tamanho. De repente, a moldava parecia transformada num daqueles vestidos que Jennifer Lawrence tinha usado em “Hunger Games”, com chamas por todo o lado. Um ano depois, em 2014, Ellie Goulding quis tornar tudo mais literal e usou um vestido com 182 metros de cauda para fazer uma projeção.

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Também na Eurovisão, a cantora Bojana Stamenov ganhou o Festival da Canção sérvio com a canção “Ceo Svet Je Moj” e com um vestido branco que também serviu de tela de projeção. Só depois de todas estas atuações é que Jennifer Lopez utilizou a mesma ideia para sair da cadeira do júri do “American Idol” e mostrar como se faz no próprio palco do programa. Agora, passados três anos, a Estónia repete o espetáculo na Eurovisão em Portugal e arranca aplausos do público do Altice Arena.

Mas trazer o espetáculo de Elina Nechayeva para Lisboa não foi tarefa fácil. Um mês depois de a cantora o ter usado no Festival da Canção do país, a emissora ERR — responsável por patrocinar os participantes da Estónia na Eurovisão — disse que não teria dinheiro suficiente para alugar os projetores necessários para o espetáculo porque custariam 65 mil euros. O problema só ficou resolvido depois de Saku Suurhall (uma arena em Tallinn), a Carglass, Estravel (agência de viagens estónia) e a River Island se terem oferecido para amealhar grande parte desse dinheiro e pagarem o espetáculo.

Embora muitos estónios tenham ficado desagradados com aquilo que acreditam ser um mero golpe de marketing, a delegação da Eurovisão prometeu que isso não era verdade: “O meu maior objetivo é só fazer o meu melhor. Eu sei que eu seria capaz de fazer isto independentemente do vestido que vou vestir, mas acho que esta projeção representa verdadeiramente a mensagem de todo o amor universal e poderoso e é disso que fala a nossa canção”, disse a própria cantora. Depois aproveitou para agradecer aos novos patrocinadores: “Estou muito grata a todos os patrocinadores pela ajuda, à equipa da Estónia que trabalhou tanto para que isto acontecesse e a todos os fãs que me enviaram mensagens de apoio. Mal posso esperar para ir lá e deixar-vos a todos orgulhosos”.