O diretor do CNI (Centro Nacional de Inteligencia, os serviços secretos espanhóis), Félix Sanz Roldán, vai ser ouvido no parlamento espanhol no âmbito de um escândalo político em Espanha que envolve o rei emérito Juan Carlos I.

O monarca emérito está no centro do mais recente escândalo político em Espanha, depois de o jornal El Español ter divulgado, na semana passada, o conteúdo de uma gravação em que a ex-amante do monarca emérito, a aristocrata alemã Corinna zu Sayn-Wittgenstein, conta como foi implicada pelo rei em esquemas de lavagem de dinheiro e branqueamento de capitais sem o seu conhecimento.

A gravação é de uma conversa ocorrida em 2015 em Londres entre Corinna, que entre 2006 e 2013 manteve uma relação com o rei Juan Carlos I, José Villarejo Pérez (ex-comissário da polícia espanhola atualmente preso por organização criminosa, suborno e branqueamento de capitais) e o empresário Juan Villalonga Navarro, e nela a ex-amante do rei revela vários dos negócios secretos de Juan Carlos I.

Os esquemas passavam por colocar propriedades em seu nome e fazer o dinheiro de vários negócios — sobretudo ligados ao petróleo no Médio Oriente — passar por si para chegar ao rei. Isto porque Corinna reside no Mónaco, onde as leis que não obrigam à declaração dos bens fazem com que o principado seja considerado um paraíso fiscal.

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As revelações deram início a um megaprocesso judicial em Espanha que é mais uma machadada na reputação do rei Juan Carlos I, que na última década tem caído a pique devido aos sucessivos escândalos — a viagem ao Botswana para caçar elefantes e o escândalo de corrupção da infanta Cristina e do marido Iñaki Urdangarín foram os dois casos mais graves que antecederam a abdicação do trono, em 2014.

Na conversa de 2015, a antiga amante do rei revelou a existência de contas na Suíça e também apontou o dedo à atuação dos serviços secretos espanhóis. Foi a revelação da gravação pela imprensa espanhola que motivou o diretor do CNI, Félix Sanz Roldán, a pedir para ser ouvido pelo parlamento espanhol.

Sanz Roldán deverá ser ouvido à porta fechada em data a designar pela Comissão de Controlo dos Créditos Destinados a Gastos Reservados do Congresso dos Deputados — ou seja, a comissão parlamentar que supervisiona o dinheiro usado para fins secretos.

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Isto porque entre as suspeitas que pairam sobre Juan Carlos I está a de que terá chegado a um acordo com o Governo de Adolfo Suárez para desviar uma percentagem de todas as transações petrolíferas de Espanha para a conta pessoal da família real, como conta o El Español num extenso artigo sobre as relações de Juan Carlos I e o mundo árabe.

O caso está a ameaçar uma monarquia já muito fragilizada pelos sucessivos escândalos. Nos últimos anos, a Casa Real espanhola não tem dado informações oficiais nem sobre o rei emérito nem sobre a infanta Cristina e o seu marido, os protagonistas do caso Noós. A reação a este novo caso veio na mesma linha: “Não afetam o chefe de Estado, Felipe VI. São gravações antigas e não as consideramos”, afirmou a porta-voz do Governo, Isabel Celaá.

Com parte da família envolvida em escândalos de corrupção e rumores de que o próprio casamento com Letizia atravessa uma fase difícil — o desentendimento entre a rainha Letizia e a rainha emérita Sofía expôs as divisões familiares –, Felipe VI começa a ficar sozinho na defesa do seu pai, segundo analistas espanhóis.

De acordo com vários especialistas e fontes próximas da família real espanhola que falaram ao mesmo jornal, há um efeito negativo muito profundo dos escândalos de Juan Carlos I sobre o seu filho, Felipe VI, que obriga o atual rei a investir mais na resolução dos problemas do que propriamente no reinado.