“O importante não é só ensinar, é encontrar maneira de utilizarem as competências para serem disruptivos de alguma forma”, afirma Ken Singer, empreendedor e professor na Universidade de Berkeley no arranque do European Innovation Academy (EIA), um programa de empreendedorismo para estudantes universitários e investidores de todo o mundo. Juntaram-se no Centro de Congressos do Estoril 500 estudantes para a segunda edição do evento, na qual também houve apresentações de Martin Omander, gestor de programação da Google em Silicon Valley e de Alar Kolk, presidente da EIA.

European Innovation Academy traz 400 alunos estrangeiros a Cascais, o dobro do ano passado

Entre o final de julho e início de agosto, estes jovens, maioritariamente estudantes portugueses (cerca de 100) e de Berkeley (também 100), juntam-se em equipas de cinco membros para criar startups inovadoras e disruptivas. O objetivo é chegar ao grande evento final “Grand Pitching”, a 3 de agosto, para disputar o dinheiro de um grupo de investidores de risco, que contam com membros dos grandes patrocinadores do evento, o Banco Santander e a Daimler AG (a Mercedez). “Grandes unicórnios podem surgir”, afirmou convictamente ao Observador o presidente da EIA, quanto ao esperado resultado do concurso.

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Temos 100 equipa, o mais provável é 10 equipas serem bem sucedidas e criarem empresas que mudem economias. Esperamos que tenham grande sucesso”, afirmou Alar Kolk, presidente da EIA

O evento realiza-se em Portugal desde 2017 e vai ficar, “pelo menos”, até 2022, afirma a organização. Para Ben Grasty, de 19 anos, estudante americano de Berkeley, o evento é uma oportunidade para “aprender mais sobre empreendedorismo”. O jovem, que acabou o primeiro ano da faculdade, ainda não escolheu nenhuma área de especialização — nos Estados Unidos o sistema de ensino superior é diferente do que em Portugal — e assume que o país “é muito diferente” da sua terra natal. Para já, experiência está a ser “bastante enriquecedora”.

Ben Grasty nasceu na Califórnia e estuda em Berkeley. É a primeira vez que vem a Portugal. Para o estudante, o evento no Estoril é uma oportunidade de aprender mais sobre empreendedorismo

João Santos, com 23 anos, do Instituto Politécnico de Setúbal, vê o evento como uma oportunidade para começar a própria empresa. “Nem consigo dormir. Estou com pessoas com o mesmo mindset que eu. Sempre gostei de inovação e empreendedorismo. Estando aqui sinto-me confortável”. No final, o estudante espera que os investidores escolham a sua equipa.

Um evento dedicado ao empreendedorismo com um olho na inteligência artificial

Sendo o tema deste ano focado em inteligência artificial e machine learning, a organização tem disponível no recinto o mais recente robô AIBO, da Sony (o ERS-1000), apresentado este ano no Japão. Este cachorro robótico “é um símbolo do que o desenvolvimento de produtos e serviços são capazes de aprender”, diz o presidente da associação. É este foco nestas novas tecnologias que leva “cada vez mais equipas a utilizar o machine learning, até mais que no ano passado”, explica Martin Omander, programador da Google no evento.

Martin Omander é programador na Google e foi a segunda vez que veio a Portugal para ser orador na EuropeanInnovationAcademy

Para o informático, no fim, “o mais importante é ter uma boa equipa do que uma boa ideia”. No evento de apresentação para estes jovens apresentou as várias ferramentas online de inteligência artificial, machine learning e reconhecimento de voz e de imagem que a Google disponibiliza para criarem as startups nestas três semanas. Um dos grande objetivos do evento é estes projetos que estão a ser criados focarem-se nestas novas tecnologias para se criar conceitos disruptivos para a sociedade.

Como explicou Ken Singer, professor em Berkeley, empreendedor e responsável pelos cerca de 100 estudantes da universidade que estão no país: “Estas crianças não podem esperar pelos governos ou pelas empresas para lhes darem um trabalho. Não há nenhuma garantia. Mesmo com o machine learning, não podemos garantir que os trabalhos de hoje em dia vão existir”.

Ben Singer é professor em Berkeley e um dos organizadores do evento. É a segunda vez que vem a Portugal.

O académico ligado a Silicon Valley entre as várias aulas que leciona, ensina como criar soluções para fazer “o próximo Facebook” para combater problemas como o terrorismo e os “trolls da Internet”. Singer acredita que estes eventos para os jovens são importantes não só para ensinar os próximos líderes empresariais, como para que criem empresas “humanas”. Singer afirma que “o Valley é óptimo a liderar na mudança, não na moralidade”.

Têm-se a impressão de que Portugal ainda está a tentar-se pôr de pé no que toca à confiança. É um país que teve de passar por uma reflexão por causa da crise,” afirma Ken Singer, professor em Berkeley empreendedor.

Para o professor, que é parte da organização, a continuação do evento em Portugal é também para continuar. No país há “oportunidade” para o investimento. “[Em Portugal], até o meu condutor de Uber me fez um pitch [apresentação de ideia de negócio]”, conta.

A EIA é um programa universitário de aceleração em inovação digital na Europa. É uma iniciativa da Beta-i com o banco Santader, a Câmara Municipal de Cascais e a Universidade Nova de Lisboa que se realiza em Portugal desde 2017. Os mentores dos jovens nas próximas três semanas no desenvolvimento dos projetos de startups são também de Berkeley, de Stanford e da Google. A EIA vai decorrer até dia 3 de agosto no Centro de Congressos do Estoril. Nos próximos anos espera-se que o evento já decorra nas novas instalações da faculdade de Economia e Gestão da Universidade Nova (a NOVA SBE).

*Artigo corrigido às 15h28 de, são 500 estudantes ao todo (100 portugueses e 400 internacionais)