A Fundação Calouste Gulbenkian vai entrar no capital social da Maze, uma empresa que trabalha com empreendedores que desenvolvem modelos de negócio para resolver problemas sociais. É a primeira vez que a fundação faz este tipo de investimento numa startup.

Esta é uma decisão que integra o plano estratégico da Gulbenkian na área de Inovação Social, no qual está previsto um investimento total de dez milhões de euros nos próximos cinco anos. A Gulbenkian passa agora a pertencer aos órgãos sociais da empresa, “com o objetivo de manter uma ligação institucional a longo prazo com a Maze”, explica a instituição.

Esta entrada no capital avalia a empresa em 50.000 euros. A contribuição da Gulbenkian é “simbólica” — a fundação detém apenas uma ação — , mas tem carácter especial, trata-se de uma golden share (em português “ação de ouro”), que confere à fundação direitos privilegiados face aos restantes acionistas, como por exemplo o voto privilegiado. Antes, e enquanto o estatuto da Maze era o de associação sem fins lucrativos (só mais tarde passou a empresa), a Gulbenkian apoiou-a em 630 mil euros.

Segundo Luís Jerónimo, diretor Adjunto do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano, a escolha da Maze assentou numa relação de longa data que já existia com a startup – é o único projeto que a Fundação “incuba”, sendo os próprios escritórios dentro da instituição — e “na necessidade que surgiu da passagem da Maze de associação sem fins lucrativos para empresa”. “Esta necessidade acabou por ser uma oportunidade para a Fundação repensar aquilo que era o seu modelo de relação com a entidade”, disse o responsável ao Observador, acrescentando que a solução “visa assegurar a missão social da empresa, pois em Portugal ainda não existe um estatuto de empresa social”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aquilo que esta solução nos permite fazer é não distribuir dividendos aos seus acionistas. Pelo contrário, investe-se tudo aquilo que são os seus lucros na sua atividade e esse é o princípio base de uma empresa social”, explicou Luís Jerónimo.

Para Luís Jerónimo, a entrada no capital da MAZE é também uma forma de assegurar a missão social da empresa. (fotografia cedida pela Fundação Gulbenkian)

A Fundação tem vindo a financiar a Maze (inicialmente denominada de Laboratório de Investimento Social) desde 2013, ano em que a empresa foi criada. Foi nessa altura, aliás, “que pela primeira vez que a Gulbenkian apoiou a criação de uma estrutura”. A startup tenta desenvolver soluções para as empresas de impacto com um modelo de negócio sustentável e, ao mesmo tempo, tenta arranjar novas formas de financiamento para desenvolver soluções em relação aos desafios sociais e ambientais. “A Maze acaba por ser o nosso parceiro estratégico, o nosso braço armado mais operacional para a agenda do investimento de impacto. Pensamos que faria sentido entrarmos no capital”, acrescentou Luís Jerónimo.

Cada vez mais as novas gerações querem aliar aquilo que é o seu trabalho a um propósito, por isso há aqui investidores a quererem investir com impacto, trabalhadores a quererem ter propósito naquilo que fazem na sua vida e consumidores que querem sentir que as suas escolhas são responsáveis”, referiu.

Este tipo específico de investimento, sublinha o responsável, será, para já, o único a ser feito pela Fundação numa startup, ainda que não descarte a possibilidade de a instituição fornecer apoio a outros projetos.

Até 2017, a Maze mobilizou cerca de 5 milhões de euros em investimento privado, captou mais de 60 organizações para o investimento e lançou 4 títulos de impacto social. “É uma prova de confiança muito grande da equipa da MAZE”, disse o responsável da Gulbenkian, referindo que os possíveis riscos deste investimento acabam por ser menores porque a Fundação já tem uma relação de confiança com a empresa.

*Título atualizado às 12h30 juntamente com informação sobre a avaliação da empresa