A Ryanair terá voltado atrás com a sua palavra? Em parte, sim. A companhia aérea irlandesa enviou um email aos trabalhadores em que garante, ao contrário do que tinha dito há uma semana, que ninguém será prejudicado por ter aderido à greve da semana passada, no que diz respeito a transferências ou promoções. Mas a transportadora aérea não referiu se vai manter a decisão de retirar os bónus mensais e não pagar alguns componentes do salário a quem aderiu à greve.

Queremos clarificar que a participação na greve da semana passada não irá, de forma alguma, afetar os vossos pedidos atuais ou futuros de promoções e transferências”, pode ler-se no email ao qual o Observador teve acesso.

De acordo com a companhia, o email foi enviado esta quarta-feira na sequência de “vários contactos por parte das tripulações relativos ao email  sobre as ‘não-comparências’ registadas durante a greve dos tripulantes de cabina de 25 e 26 de julho”.

Logo no primeiro dia da greve europeia, a Ryanair enviou um email a todos os tripulantes que aderiram a avisar que quem não compareceu poderia ser prejudicado. “Todas as ‘não-comparências’ serão tidas em conta, bem como todos os fatores relevantes do seu desempenho, quando for para avaliar promoções e oportunidades de transferências“, pode ler-se no email enviado.

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O email em questão — que a federação sindical belga CNE considera que faz parte de “uma campanha de intimidação” aos trabalhadores — foi remetido à Autoridade para as Condições de Trabalho e ao Ministério do Trabalho.

Neste novo email, a Ryanair não “clarifica” a situação dos pagamentos aos trabalhadores que aderiram à greve. No email enviado durante a greve da semana passada, a companhia aérea assumiu que no mês de julho não seriam pagos vários componentes do salário e o bónus de produtividade mensal. “Os vossos pagamentos serão ajustados em agosto”, lia-se no email.

O Observador questionou a Ryanair sobre o novo email enviado esta quarta-feira aos tripulantes que aderiram à greve. A companhia aérea explicou que “como qualquer empresa que tenha que gerir situações de disputas industriais ou greves, a assiduidade dos colaboradores é assinalada de forma a efetuar os ajustes salariais aplicáveis“. A Ryanair confirmou o email enviado que serviu “para informar os nossos tripulantes deste facto”.

A participação numa greve não afeta decisões de transferência ou promoções, algo que foi também confirmado aos nossos tripulantes”, garantiu ainda a empresa.

Quando contactada na semana passada em relação ao primeiro email, a companhia aérea recusou comentar. “Não estamos de momento a tecer mais comentários sobre este tema”, disse fonte da transportadora aérea na altura.

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Quando, no final do ano passado, a companhia aérea começou a enfrentar os primeiros movimentos grevistas, o responsável pelo recursos humanos, Eddie Wilson, enviou uma carta a todos os trabalhadores que pensassem aderir à greve, ameaçando-os com “perda de futuros aumentos salariais, de transferências ou promoções.

Antes da greve, a Ryanair já tinha enviado um email aos tripulantes para perceber se vão aderir à greve, incentivando-os a apresentarem-se ao trabalho. Logo nesse email, a companhia avisava que quem aderisse à greve não seria pago e iria perder “o bónus de produtividade de julho no valor de 150 euros“, destacando que o prejuízo para os trabalhadores que adiram à greve podem ir dos 360 aos 480 euros.

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Nos dias 25 e 26 de julho, os trabalhadores da companhia aérea com base em Portugal, Espanha e Bélgica aderiram àquela que foi a primeira a nível europeu. Apesar de ter sido a primeira a nível europeu, foi a quinta greve a acontecer na companhia aérea irlandesa e a quarta num só mês. Mas o número deverá aumentar: para esta sexta-feira está agendada uma nova greve dos pilotos da Irlanda e para dia 10, dos pilotos da Bélgica, Suécia, Alemanha e Holanda.

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[artigo atualizado às 15h54 com resposta oficial da Ryanair]