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O exemplo de Bruno Fernandes, que colocou a mão nas orelhas e tapou os ouvidos ao ruído (a crónica do Moreirense-Sporting)

Este artigo tem mais de 5 anos

Uma lesão no aquecimento, amarelos por protestos e um golo a abrir eram a tempestade perfeita para derrubar um Sporting em convulsão. Bruno Fernandes alheou-se de tudo, pegou na batuta e virou o jogo.

Bruno Fernandes marcou um golo, fez uma assistência mas foi sobretudo o grande líder em campo do Sporting com o Moreirense
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Bruno Fernandes marcou um golo, fez uma assistência mas foi sobretudo o grande líder em campo do Sporting com o Moreirense

EPA

Bruno Fernandes marcou um golo, fez uma assistência mas foi sobretudo o grande líder em campo do Sporting com o Moreirense

EPA

Quando se olha para José Peseiro no banco do Sporting, há sempre a tendência para recordar uma das mais negras semanas dos leões no plano desportivo, entre 14 e 22 de maio de 2005, quando a equipa verde e branca perdeu o Campeonato (0-1 com o Benfica na Luz), perdeu a final da Taça UEFA (1-3 com o CSKA Moscovo em Alvalade) e perdeu a hipótese de acabar a época no segundo lugar (2-4 com o Nacional em Alvalade). No entanto, esses não foram os últimos jogos do técnico do clube.

A 16 de outubro de 2005, o Sporting, que somava quatro vitórias (Belenenses, Marítimo, Benfica e V. Setúbal) e duas derrotas (Nacional e P. Ferreira), recebia a Académica na sétima jornada do Campeonato 2005/06. Um golo de Marcel, à passagem da meia hora, foi suficiente para novo desaire dos leões. E os sócios não perdoaram: depois dos ânimos quentes numa Assembleia Geral que se realizara uns dias antes – e com a surpreendente eliminação da Taça UEFA em casa com os suecos do Halmstad ainda na memória –, houve lenços brancos no estádio, houve mesmo uma tentativa de invasão no Edifício Visconde de Alvalade, onde ficavam os escritórios da SAD. Peseiro não aguentou e saiu. Ele e Dias da Cunha, presidente do clube.

Sporting dá a volta e vence Moreirense por 3-1 com bis de Dost e mais um golo de Bruno Fernandes

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Mais de uma década depois, o Sporting ganhou duas Taças de Portugal e duas Supertaças com Paulo Bento; uma Taça de Portugal com Marco Silva; e uma Supertaça e uma Taça da Liga com Jorge Jesus. Zero Campeonatos, sete títulos. Nesse período, teve um total de quatro presidentes (Soares Franco, José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes e Bruno de Carvalho), sendo que o quinto será conhecido a 8 de setembro. Encontra-se agora a sarar feridas de um período marcado pelo bárbaro ataque na Academia aos jogadores e restantes elementos do staff, o mesmo que levou a nove rescisões unilaterais antes de três jogadores voltarem atrás na decisão (Bruno Fernandes, Bas Dost e Battaglia). E foi neste contexto que Peseiro voltou a Alvalade, com um futebol verde e branco partido em termos desportivos e reputacionais e um clube fracionado entre clivagens geracionais e sociais.

“Começar será importante para aglutinar o grupo. Neste momento,temos de estar unidos no processo que o Sporting está a viver porque, se vencermos, mais gente se vai juntar a esta luta e deixar de desconfiar. Não sei se algum clube passou alguma vez por uma experiência destas”, salientou o treinador na antevisão, antes de destacar que tudo o que não quer é “abrir um jornal, um telejornal, uma publicação qualquer”: “Mais importante que jogar bem, que rematar 30 ou 40 vezes ou que ter muitos cantos, é essencial ganhar os três pontos. É preciso mostrar as garras do leão, sabendo que podemos não estar preparados para fazer um jogo ofensivo como ainda vamos ter. Mas mais importante é a serenidade, a estabilidade e confiança”.

Ficha de jogo

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Moreirense-Sporting, 1-3

1.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

Moreirense: Jhonatan; João Aurélio, Abarhoun, Iago, Rúben Lima; Neto (Arsénio, 80′), Loum (Alan Schons, 75′); Chiquinho, Bilel, Pedro Nuno (Nené, 81′) e Heriberto

Suplentes não utilizados: Pedro Trigueira, Fábio Pacheco, Bruno e D’Alberto

Treinador: Ivo Vieira

Sporting: Salin; Ristovski, Coates, Mathieu, Jefferson; Petrovic, Battaglia; Nani (Raphinha, 70′), Bruno Fernandes, Acuña (Jovane Cabral, 69′) e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, André Pinto, Bruno Gaspar, Misic e Montero

Treinador: José Peseiro

Golos: Heriberto (6′), Bruno Fernandes (16′) e Bas Dost (74′, g.p. e 90+2′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Nani (2′), Bruno Fernandes (12′), João Aurélio (19′), Petrovic (28′), Heriberto (30′), Neto (43′), Coates (47′), Jefferson (75′), Alan Schons (84′) e Nené (90′)

José Peseiro conheceu de forma direta a veia mais autofágica de um clube de extremos em 2005; 13 anos depois, regressou para juntas os cacos provocados por um declínio em espiral que potenciou esse autofagismo. Com os regressados Bruno Fernandes, Bas Dost e Battaglia, com os reforços Viviano e Nani, sem as estrelas Rui Patrício, William ou Gelson Martins. E como quase tudo tem girado em torno das eleições nas últimas semanas, a estreia do Sporting no Campeonato neste domingo que terá chuva de estrelas era como que um cometa que todos viam ao longe mas ninguém poderia saber ao certo o que trazia. No meio disto, há Bruno Fernandes. E é ele que, sozinho, consegue resolver e colocar os outros a decidir os jogos (3-1).

Se dúvidas existissem de como tudo pode mudar num ápice, Viviano lesionou-se no aquecimento e Salin foi titular. E logo aos dois minutos, Nani ficou condicionado para todo o encontro, ao ver o cartão amarelo aparentemente por protestos. A equipa leonina estava intranquila sem que nada o justificasse, sentia-se desconfortável em campo e pior ficou quando se viu em posição de desvantagem: no seguimento de uma jogada de envolvimento com muita passividade por parte dos jogadores verde e brancos (que jogaram de cinzento) sobre o portador da bola, um cruzamento da direita atravessou toda a área e encontrou Heriberto, avançado emprestado pelo Benfica, a ganhar as costas de Ristovski ao segundo poste e encostar para o 1-0 (6′). Pouco depois, também Bruno Fernandes viu amarelo no seguimento de uma jogada em que até sofreu falta (que foi marcada), protestou e acabou por ver mesmo Tiago Martins perguntar se queria “ir lá para fora” mais cedo.

[Clique nas imagens para ver os principais lances do Moreirense-Sporting]

No seguimento desse livre, Coates subiu mais alto do que o meio mundo que estava na área do Moreirense após livre de Acuña mas o desvio saiu ao lado (13′). Ainda assim, o empate que serenaria um pouco o jogo do Sporting não demoraria muito mais: grande arrancada de Ristovski pela direita, cruzamento atrasado para Bruno Fernandes que se tinha deixado ficar um pouco mais para trás na área, finta para fora e remate na diagonal de pé direito para o 1-1 (16′). E o golo acabou por ter uma imagem curiosa nos festejos, com o internacional a tapar as orelhas com as mãos como que dizendo que o que se fala não o afeta.

Por alguns momentos, o Moreirense perdeu referências, abriu espaços como não se tinha visto até aí e só mesmo por milagre não sofreu o segundo golo, quando um cruzamento de Jefferson ganhou um efeito estranho, passou por cima de Jhonathan e Bas Dost, que tinha apenas de encostar a meio metro da baliza, entrou pela baliza sem que a bola seguisse o mesmo caminho e o guarda-redes dos cónegos conseguiu ainda in extremis afastar com os pés o perigo (25′). No entanto, acabaria aí esse período onde os visitados tremeram: até ao intervalo, houve apenas mais um desvio do holandês de cabeça a passar ao lado após canto e uma saída destemida de Salin aos pés de Chiquinho, após uma fantástica abertura de Loum nas costas (35′).

Chegava o intervalo com o empate a uma bola num encontro onde, pasme-se (sobretudo pela identidade de jogo que Peseiro tentou enraizar na equipa ao longo da pré-temporada), o Moreirense teve muito mais bola do que o Sporting. E percebe-se porquê: diante de um conjunto bem organizado e forte no corredor central, os leões nunca tiveram capacidade de recuperação, estiveram demasiado permeáveis sobretudo nas incursões pelo lado esquerdo da defesa e, em paralelo, preferiram ir explorando a profundidade face à incapacidade de construir com qualidade logo na primeira fase. Coletivamente, houve muita coisa que não funcionou e que Bruno Fernandes foi tentando disfarçar; no plano individual, Petrovic voltou a fazer um jogo demasiado mau sobretudo na (in)capacidade de dar critério na saída e no número de faltas (ao intervalo, ia nas quatro).

O segundo tempo começou com um Sporting mais capaz de explorar a profundidade, como aconteceu quando Bruno Fernandes foi lançado descaído sobre a esquerda, tirou um adversário da frente com uma “picadinha” e rematou para defesa de Jhonathan para canto (51′). No seguimento, e numa jogada de insistência, foi Battaglia que, de cabeça, obrigou o guarda-redes brasileiro a mais uma intervenção apertada para canto (52′). Os leões tentavam montar o cerco para chegarem à vantagem.

Todavia, o Moreirense não mudou o chip perante esta entrada mais trémula, voltou a agarrar na posse com qualidade e chegou com perigo ao último terço em duas ocasiões quase seguidas onde Salin mostrou serviço: primeiro foi Heriberto que cruzou, a bola bateu em Ristovski e quase traiu o guarda-redes francês, que ainda foi a tempo de ir ao chão e desviar para canto (66′); depois foi Bilel, jogador que passou pelo Sporting B por empréstimo, a puxar a bola para dentro de pé esquerdo na área e a rematar colocado para a melhor defesa do encontro (68′). O jogo partiu e podia dar golo para os dois lados.

A 20 minutos do final, Peseiro arriscou naquilo que fez falta ao longo de 70′ nos corredores laterais: velocidade. E foi com as entradas de Jovane Cabral e Raphinha para os lugares de Nani e Acuña que o Sporting ganhou o sangue na guelra que lhe faltava e que só de vez em quando aparecia com a descida dos laterais. Tanto que, numa das primeiras ações, o miúdo Jovane, que fazia a estreia na Primeira Liga, arriscou o 1×1 para a área e foi tocado por trás por Heriberto, que passou de herói a vilão com uma entrada fora de tempo. Penálti para Bas Dost, bola para um lado, guarda-redes para o outro e 2-1 aos 74′. Uma reviravolta confirmada pelos suspeitos do costume já em tempo de compensação, quando Bruno Fernandes rasgou a defesa dos cónegos com um passe fabuloso em profundidade e o holandês, com grande classe, fez um chapéu a Jhonatan (90+2′).

No final do encontro, Peseiro descreveu a vitória da equipa leonina como “um passinho”. Que foi, porque a equipa tem ainda muito para evoluir e melhorar nas dinâmicas, nas transições e nas saídas de bola. Mas houve um pormenor que fez toda a diferença além da raça que os jogadores demonstraram na ponta final da partida – Bruno Fernandes, que se está a tornar numa espécie de capitão sem braçadeira nesta nova versão de Sporting depois de voltar atrás na rescisão, treina e joga como fez nos festejos do golo apontado, alheio a todo o ruído e focado no que interessa. E esse é o único caminho possível.

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