O campeonato espanhol começou na semana passada. O Real Madrid venceu, o Barcelona também e a única surpresa foi o Atl. Madrid que, depois de ter conseguido a vitória do ano ao segurar Griezmann durante o verão, não foi além de um empate fora com o Valência. A temporada 2018/19 da La Liga já é, por si, atípica: é a primeira em dez anos a não contar com Cristiano Ronaldo, a primeira em 16 anos a não contar com Andrés Iniesta e acontece depois de um Mundial onde os resultados ficaram muito aquém das expectativas — e onde um selecionador saiu antes da estreia para ir treinar um clube. Mas a onda que abalou definitivamente o barco surgiu também na semana passada, um dia antes do Girona-Valladolid com que arrancou a época espanhola.

A notícia espalhou-se rapidamente: a Liga assinou um acordo histórico de promoção nos Estados Unidos e no Canadá com a empresa Relevant que prevê a realização de um jogo por temporada naquela zona do planeta. A ideia, de acordo com o dono da Relevant, é “fazer crescer a cultura futebolística nos Estados Unidos”. Ainda não existe informação sobre que jogo será jogado em território norte-americano, mas o desejo, claro, é que Real Madrid ou Barcelona estejam presentes e que o primeiro aconteça já esta temporada. O contrato, válido por 15 anos, não é inovador – há vários anos que as principais ligas desportivas dos Estados Unidos (NBA, NFL, MLB e NHL) realizam alguns dos seus campeonatos no estrangeiro. Contudo, no futebol e na Europa é algo inédito.

E à medida que o mundo tinha conhecimento deste contrato, também os jogadores dos clubes espanhóis ficavam a saber que existia a possibilidade de terem de viajar até aos Estados Unidos para disputarem uma partida do próprio campeonato. Os atletas não foram consultados, nem avisados com grande antecedência – alguns só souberam mesmo através da comunicação social ou por outros colegas.

Foi nesta altura que a AFE, a Asociación de Futbolistas Españoles, convocou uma reunião com os capitães de todos os clubes do campeonato espanhol com ponto único na ordem de trabalhos: discutir o contrato assinado entre a Liga e a multinacional Relevant. Compareceram jogadores representantes de 14 dos 20 clubes da Liga espanhola, sendo que Alavés, Atl. Bilbao, Eibar, Celta de Vigo, Girona e Sevilha decidiram não marcar presença. Os 25 jogadores – a maioria dos clubes esteve representada pelo primeiro e segundo capitães – reuniram com David Aganzo, presidente da AFE, e outros membros da associação que defende os interesses dos jogadores espanhóis.

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Os 25 jogadores que compareceram à reunião convocada pela AFE com alguns membros da associação

Depois da reunião, que aconteceu esta quarta-feira, as conclusões foram apresentadas pelo próprio David Aganzo: e foi aqui que soou o alarme na direção da Liga espanhola. Em entrevista ao jornal Marca, Aganzo sublinhou que “os jogadores não querem ir jogar aos Estados Unidos” e garantiu: “Vamos tentar não chegar à medida extrema de fazer greve, mas, se for necessário, estamos dispostos a ir até ao fim”, afirmou, de forma decidida, o presidente da AFE. E continuou: “Não podemos permitir que se tomem decisões unilaterais, é uma falta de respeito o facto de a Liga não contar com os jogadores em questões que os afetam de forma direta”. David Aganzo anunciou ainda que a associação vai reunir com a Liga em setembro, numa tentativa de chegar a um acordo que satisfaça ambas as partes.

Parecia clara a possibilidade de o campeonato espanhol parar por greve dos jogadores, mas já esta quinta-feira a história voltou a ter desenvolvimentos. De acordo com o jornal Marca, a possibilidade de uma paralisação nunca esteve em cima da mesa e não foi votada. Ou seja, os jogadores não sabiam que David Aganzo ia falar sobre uma eventual greve – porque esta nem sequer foi discutida. Ainda de acordo com o jornal desportivo, os jogadores que estiveram presentes na reunião têm a opinião unânime de que a Liga não pode tomar decisões que os afetam diretamente sem os consultar e defendem a posição de expor essa queixa e pedir a abertura de um canal de comunicação entre os dois lados para resolver a questão: algo muito diferente e distante de uma greve.

Resta agora saber se, depois desta falha de comunicação, os jogadores vão continuar a confiar a David Aganzo e à AFE os seus interesses. A associação e a Liga espanhola reúnem em setembro, num encontro que se promete dividido e com poucos pontos de interesse comuns. Verdade é que o acordo com a Relevant, esse, permanece assinado.