FTCH: este é o símbolo (‘ticker’) pelo qual os investidores irão identificar a Farfetch a partir de agora. A tecnológica luso-britânica especializada no retalho online de artigos de moda anunciou esta quinta-feira que a operação de entrada na bolsa de Nova Iorque está pronta a arrancar, menos de um mês depois de entregues os documentos com o pedido de admissão à Bolsa de Nova Iorque.

De acordo com o registo apresentado ao regulador na quarta-feira, a Farfetch pretende levantar entre 563 milhões e 637,5 milhões de dólares (entre 485 milhões e 549 milhões de euros) na oferta pública inicial (IPO na sigla em inglês) em Nova Iorque com a venda de 37.503.501 ações de classe A, a categoria das ações comuns, a preços que se estima oscilarem entre 15 e 17 dólares (entre 13 e 15 euros). Nesta primeira fase, será ainda possível dispor de 30 dias para subscrever uma oferta adicional de 5,63 milhões de ações.

“Unicórnio” Farfetch entrega papéis para abrir o capital em bolsa

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A operação, que está a ser organizada em parceria por Goldman Sachs, JPMorgan, Allen & Co e UBS, faz parte dos planos de expansão da empresa que é, atualmente, uma das poucas tecnológicas europeias avaliadas (nas rondas de investimento privado, fora de bolsa) em mais de mil milhões de euros, o que lhe vale a designação de empresa “unicórnio”.

O modelo de negócio da empresa fundada por José Neves permite a centenas de marcas de topo, incluindo lojas independentes, vender a partir das suas plataformas digitais e ajuda a gerir as funções de backoffice de forma mais eficiente. No portal da Farfetch estão presentes cerca de 3.200 marcas maioritariamente ligadas ao luxo, como Gucci ou Chanel.

https://observador.pt/videos/o-meu-fracasso-antes-do-meu-sucesso/farfetch-sao-mais-de-mil-milhoes-mas-com-erros-e-impossivel-ter-sucesso-sem-falhar/

Cerca de 935 mil pessoas utilizam a plataforma, segundo dados da empresa relativos ao final do ano passado, um aumento acima de 40% em relação ao final de 2016. A faturação aumentou de 173 milhões para 268 milhões de dólares no primeiro semestre, embora o resultado líquido tenha sido mais negativo: o prejuízo antes de impostos mais que duplicou para 68 milhões de dólares entre janeiro e junho.

Plano não prevê (para já) dividendos

Mesmo que estejam confiantes de que a empresa vai passar para os lucros nos próximos anos, os investidores que entrarem nesta operação fazem-no com plena consciência de que no futuro próximo as ações não irão dar qualquer direito ao pagamento de dividendos. Isso ficou claro na documentação que a empresa entregou há algumas semanas (o primeiro pedido de admissão), em que não antecipava “qualquer pagamento de dividendos no futuro previsível”, afirmou a empresa, garantindo que “quaisquer lucros serão usados para financiar a expansão do negócio”. Num futuro mais longínquo, é possível que venham a ser pagos dividendos mas, garante a Farfetch, só a partir de lucros — ou seja, a empresa garante que nunca se endividará para remunerar acionistas.

A Farfetch começou a falar numa dispersão de parte do capital em bolsa em 2016, quando dizia que esse processo poderia arrancar dentro de “dois ou três anos”. Afirmando-se como “uma empresa tecnológica no [seu] âmago”, apesar ser britânica a Farfetch optou pela bolsa nova-iorquina porque é nos EUA que estão as maiores empresas tecnológicas, o que a coloca em posição privilegiada para atrair os investidores nesse setor.

A empresa aparece, por vezes, na imprensa internacional como tendo a ambição de ser a “Amazon do vestuário”, neste caso do vestuário de luxo — uma área onde a Amazon tem pouca presença. Além de contar com as principais marcas, a Farfetch aposta também na inclusão de pequenos produtores e designers menos conhecidos.

“Para as marcas de luxo, o que fazemos é facilitar a ligação com o conjunto mais alargado de consumidores de artigos de luxo em todo o mundo”, afirma a empresa num comunicado. “Agregar um número vasto de vendedores de luxo requer a construção de uma relação longa e de forma cuidada, o que também funciona como uma barreira à entrada de novas plataformas. Há uma década que cultivamos essas relações, algo que fizemos com muito carinho”, nota a Farfetch, garantindo ter “a mais vasta e alargada seleção de moda de luxo disponível”.

(artigo atualizado às 10:11 com mais informação de enquadramento sobre a operação de entrada em bolsa e planos de investimento)