A Organização Mundial de Saúde afastou esta sexta-feira a possibilidade de os 73 casos de microcefalia registados em Angola em um ano estarem todos ligados ao zika, mas alertou para a falta de uma monitorização do vírus no país. Em declarações à Lusa, o representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Angola, Hernando Agudelo, admitiu que não existe ainda um programa bem estabelecido de vigilância do zika e que os números dizem apenas respeito à província de Luanda.

Agudelo sustentou que, “aparentemente, não há um enorme número de casos de zika”, indicando que as autoridades sanitárias angolanas têm feito, com o apoio da OMS, o seguimento dos casos de microcefalia. “Microcefalia não significa sempre zika, pois há outras causas de microcefalia. Mas não há realmente um programa bem estabelecido, um programa de vigilância de zika como tal, que seria uma pesquisa inteira de ver todas as mulheres grávidas, etc, para identificar quais são os casos de mulheres que eventualmente têm bebés com microcefalia e que têm zika”, frisou.

Ness sentido, indicou que a OMS está a analisar com o Ministério da Saúde de Angola formas de estruturar uma pesquisa de um ano, através de exames de controlo pré-natal, para identificar o vírus zika em mulheres grávidas. Segundo Agudelo, as partes estão a dialogar para que seja possível dar início à identificação de casos de microcefalia associados ao vírus zika, através de exames de controlo pré-natal, o que não tem sido feito até ao momento.

“Estamos a ajudar, em discussões com o Ministério, com o Laboratório Nacional, para os ajudar a ver como se faz uma pesquisa mais bem estruturada, para ver o que se está a passar com o zika e também com outras doenças transmissíveis através do mosquito, como a chikungunya e dengue” afirmou o representante daquela agência das Nações Unidas.

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Para isso, disse Hernando Agudelo, é necessário fazer-se “uma pesquisa bem estruturada a nível dos hospitais, maternidades, serviços de controlo pré-natal, para detetar o vírus através de exames de controlo pré-natal. Isso não está a ser feito”.

Um relatório interno da OMS, cujos números foram confirmados hoje por Agudelo, indica que foram registados de fevereiro de 2017 a março deste ano, 73 casos de microcefalia em Luanda, havendo a confirmação oficial de dois deles estarem associados ao zika.

Já os dados oficiais do Ministério da Saúde de Angola dão conta de três casos confirmados de zika este ano, contra os dois registados em 2017, menos um dos notificados em 2016.

Relativamente aos casos de microcefalia, os dados do Ministério da Saúde revelam um total de 39 este ano, contra os 49 de 2017, todos com etiologia não esclarecida.

De acordo com os dados da OMS, os 73 casos de microcefalia ocorreram em crianças nascidas em Viana (18 casos), Kilamba Kiaxi (nove), Cazenga, Cacuaco e Mainga (os três com oito), Talatona e Samba (ambos com seis), Belas (cinco), Sambizanga (quatro) e Ingombotas (um).

O primeiro caso registado de microcefalia ocorreu em fevereiro de 2017, ao que se seguiu também um nascimento com doença nos meses seguinte, até que, em junho do mesmo ano, se detetaram dois.

Após descer para um caso em julho, os nascimentos de crianças com microcefalia foi subindo sucessivamente para sete (agosto) e oito (setembro), baixando para seis em outubro e atingindo o pico em novembro, quando se detetaram 13 casos.

Em dezembro do mesmo ano foram registados quatro casos, enquanto, já este ano, foram detetados sete em janeiro, cinco em fevereiro e novamente sete em março.

Do total de casos, dois foram confirmados no início de 2017 e provêm de uma estirpe asiática e potencialmente perigosa do zika, a mesma que, em 2015, no Brasil, provocou defeitos congénitos relacionados com a doença em 3.762 recém-nascidos.

Os casos de microcefalia em Angola, concentrados sobretudo em Luanda, indiciam “fortes suspeitas” de um surto da doença ligada ao zika no país, uma vez que prevalece a falta de mais dados e de meios de diagnóstico, sobretudo no que diz respeito à situação no resto do país.