Com a segunda volta da campanha eleitoral do Brasil a entrar na reta final, o eurodeputado socialista português Francisco Assis vai estar presente no encerramento da campanha de Fernando Haddad — o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) que está atrás de Jair Bolsonaro nas sondagens. O convite foi feito pelo gabinete de relações internacionais do PT e o eurodeputado português, que é membro da delegação para as relações com o Brasil do Parlamento Europeu, já confirmou a presença.

“Aceitei com honra o convite, porque esta não é uma disputa política normal. De um lado temos um candidato da esquerda democrática que nunca pôs em causa os princípios do Estado de direito democrático, tendo até respeitado o impeachment à ex-presidente Dilma Rousseff, e do outro temos um candidato defensor da violência, da tortura e da ditadura militar que se insere claramente nos princípios da extrema-direita”, disse Francisco Assis ao Observador.

Numa carta enviada ao “prezado companheiro Francisco Assis”, a que o Observador teve acesso, a secretaria de Relações Internacionais do PT convida o eurodeputado português a marcar presença no evento de encerramento da candidatura dizendo que “será muito importante a sua participação neste momento decisivo para a vida política brasileira”. Francisco Assis será o único deputado da família europeia socialista a marcar presença no evento. Ao Observador, o eurodeputado diz que a sua presença será “meramente simbólica”, não estando previsto, para já, qualquer intervenção política da sua parte, mas reitera que quer estar presente porque a situação política do Brasil, com Bolsonaro a liderar todas as sondagens, é “dramática”.

Com a segunda volta das eleições marcada para o próximo dia 28, o evento que vai decorrer no auditório da Central Única dos Trabalhadores, em São Paulo, será o último esforço de Fernando Haddad para convencer o eleitorado a não dar vitória ao candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro. “A situação excecional que vivemos e que agravou o quadro económico e social do país nos últimos anos, levou parte expressiva de nossa população a aceitar e adotar o discurso radical de um candidato de extrema direita, que prega a violência contra as minorias e os mais pobres, que nega a defesa de nosso meio ambiente e de nossa soberania”, explica o PT na carta.

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“Gostaríamos de contar com sua presença nos dias 27 e 28 de outubro, para nos acompanhar neste segundo turno no auditório da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, numa jornada que se iniciará na tarde do dia 27 e seguirá pelo dia 28 à tarde e à noite”, escreve o partido brasileiro na carta endereçada ao eurodeputado socialista português, que tem escrito vários artigos contra Bolsonaro, onde se sublinha que os custos da viagem ficam a cargo do convidado.

Francisco Assis, de resto, tem alertado para os “perigos reais” da eleição de Bolsonaro no Brasil. Ainda esta segunda-feira, no Fórum TSF, defendeu que o Brasil estava em risco de cair num regime fascista embora se tenha mostrado cauteloso no uso da palavra “fascista”. “Muitas vezes, alguns setores da extrema-esquerda tendem a considerar tudo o que não é da esquerda como fascista. Isso banalizou a palavra e agora temos alguma dificuldade em usá-la nos momentos em que ela deve ser usada”, disse. O caso de Bolsonaro, contudo, é um caso real de fascismo, defendeu: “Em Bolsonaro, há todos os elementos protofascistas: o culto da violência, a exaltação nacionalista, a apologia da ditadura”.

Mais viral ficou, contudo, o artigo que escreveu no dia 11 de outubro no jornal Público, intitulado Um canalha à porta do Planalto, que teve algum eco no Brasil. “O que é um canalha em estado puro? É alguém que contraria qualquer tipo de critério moral e se coloca num plano comportamental pré ou anticivilizacional. Quem elogia o torturador de uma jovem mulher absolutamente indefesa atribui-se a si próprio um estatuto praticamente sub-humano. Bolsonaro é dessa estirpe, desse rol de gente que leva à interrogação sobre o que subsiste de humano no homem que literalmente se desumaniza”, escreveu Assis.