Em 2015, Marc Quinn, um artista britânico, desenhava o rascunho do seu próximo trabalho numa embalagem de chocolate. Três anos depois, começa a nascer a Odyssey: dois cubos, cada um com 1000 litros de sangue, expostos dentro de um pavilhão transparente. O objetivo, explicou o artista ao The Guardian, é alertar para a crise dos refugiados, ao mostrar que “sob a mesma pele, somos todos iguais” e, ao mesmo tempo, angariar 30 milhões de dólares para instituições de caridade que trabalhem nesta crise.

Ao todo, 5.000 pessoas vão poder doar sangue para construir a escultura, que em setembro do próximo ano vai começar por estar exposta no exterior da Biblioteca Pública de Nova Iorque e, de seguida, irá passar por vários países. Um dos cubos, explicou Marc Quinn, vai conter o sangue doado por refugiados que se estão a estabelecer noutro país. O outro cubo terá o sangue de não refugiados, incluindo de celebridades como Kate Moss, Jude Law e Paul McCartney.

No entanto, ninguém sabe qual é o cubo que tem o sangue doado por refugiados ou não refugiados, nem mesmo o próprio criador da escultura. “Verão duas esculturas feitas de sangue, mas não sabem a quem pertencem“, explicou Marc Quinn.

Lembramo-nos de Guernica porque Picasso a pintou. Caso contrário, é apenas mais uma batalha na guerra civil espanhola. Para mim, esta crise de refugiados é algo que deve permanecer na memória coletiva do mundo”, referiu o artista ao jornal britânico.

A ideia parece simples, mas foi tudo menos isso. Para as pessoas poderem doar o sangue, o artista vai montar mini-laboratórios espalhados por várias cidades do mundo já a partir de janeiro — o que implicou passar por conselhos de ética médica e resolver questões legais para garantir que tudo é feito com o mesmo profissionalismo de um estudo clínico. Os doadores dão o sangue que quiserem e podem ser de todas as idades e condições, estando as inscrições abertas online, exigindo a doação de uma quantia mínima de um dólar.

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Para ser transportado para as várias cidades, o sangue será colocado em pequenos cubos e congelado, antes de voltar a ser derretido no novo local e colocado nos dois cubos. Marc Quinn diz que esta é “a primeira obra de arte migratória” do mundo e deverá passar pela Europa, África e Médio Oriente.

O Odyssey é algo que as pessoas nunca viram antes. É uma imagem tão forte: o sangue, a cor, o estar numa caixa em público. Vemos pessoas de todas as raças, tamanhos e formas. O aspeto único do sangue é que ele é o mesmo para toda a gente”, referiu a modelo Kate Moss, uma das pessoas que vai doar sangue para o projeto.

Com a venda da obra, a instituição de caridade Human Love, criada pelo artista e que se juntou ao Comité Internacional de Resgate, pretende angariar entre 10 a 12 milhões de dólares, juntamente com 20 milhões de dólares levantados em campanhas. No futuro, a intenção de Marc Quinn é que algum do sangue possa ser utilizado para rastrear o ADN dos doadores (com a sua autorização), de forma a inspirar outros trabalhos, como o rastreamento dos padrões de migração de cada cubo.