Luís Marques Mendes apontou baterias a Rui Rio. Para o comentador e ex-líder do PSD, o atual presidente do partido “tem um problema com a competência política” ou tem demasiada “subserviência ao primeiro-ministro”. No seu habitual comentário no Jornal da Noite da SIC, o ex-líder dos sociais democratas lembrou que António Costa fez saber esta semana que está disponível para ser ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso de Tancos. Uma atitude “inteligente”, porque valoriza o primeiro ministro, mas que acaba por fragilizar Rui Rio, que neste caso revelou ser “mais costista que Costa”.

Se Rui Rio acha que chega a vice-primeiro-ministro com falinhas mansas pode tirar o cavalinho da chuva. António Costa nunca lhe vai dar esse lugar”, resumiu.

Luís Marques Mendes considerou ainda que o caso de Tancos tem colocado a olho nu o incómodo existente na relação entre o Presidente da República e o Governo. O ex-presidente do PSD afirmou que a postura de ambas as partes tem sido diferente desde o primeiro minuto, o que contribui para azedar a relação entre Belém e São Bento. “A coabitação, à superfície, está bem, mas no fundo tem alguns pequenos atritos, nomeadamente o caso Tancos”, resumiu.

Mas, entende, não se trata de algo grave. A pequena fricção tem na sua origem um argumento: “O Governo nunca gostou de que o Presidente da República andasse a insistir na investigação do caso”. Mas Marcelo Rebelo de Sousa também não gostava de ver “a agressividade” do Executivo de cada vez que falava sobre o tema. Numa declaração ao jornal Público, o Presidente da República chegou mesmo a dizer que não o iriam calar, uma afirmação que Marques Mendes diz ter sido um recado para o primeiro-ministro.

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Terá sido também a prova de que o Presidente da República desconfia das intenções por detrás da estratégia do Governo. O comentador acredita que Marcelo Rebelo de Sousa sente que o Executivo “está a tentar envolver a Presidência”. “Acha que o Governo está a ajudar à festa”, sintetizou Marques Mendes. A súmula destes sinais, “indicia a ideia de algum incómodo na coabitação”.

A “arrogância” do Governo, a “impotência” da oposição e “o mau-comportamento” de Silvano

O comentador político condenou ainda o comportamento do secretário-geral do PSD, José Silvano, que, segundo noticiou o Expresso na edição de sábado, registou presenças no Parlamento sem ter lá estado. “Em primeiro lugar é um mau comportamento do deputado que falta ao Parlamento mas que diz ter estado presente; em segundo lugar, é um mau comportamento de um colega deputado ou de uma colega deputada” que registou a presença de Silvano por ele, “usando a sua password“.

Secretário-geral do PSD registou presenças em reuniões da AR sem estar lá

Se o caso já seria grave para qualquer deputado mais o é para um secretário-geral de um partido “que dá lições de moral aos autarcas que gastaram dinheiro a mais”. Assim, defende Marques Mendes, José Silvano “perde toda a sua autoridade”. Até porque “a liderança deve fazer-se pelo exemplo”.

O ex-presidente do PSD falou ainda do debate do Orçamento do Estado para 2019, que aconteceu na segunda-feira e na terça-feira. O comentador político considera que, além da aprovação na generalidade, houve dois grandes destaques: “a arrogância do Governo” – que encontrou no silêncio do primeiro-ministro, que não falou no debate, o maior exemplo – e a “impotência da oposição”, a quem acusou de não ter apresentado verdadeiras “políticas alternativas”. E deixou mais uma farpa a Rui Rio: “um candidato a primeiro-ministro tem de ter um discurso de fundo”, concluiu.