Praticamente todos os fabricantes de automóveis produzem os seus próprios motores, mas a verdade é que há uns melhores do que outros. A explicação pode residir no menor domínio da tecnologia ou num orçamento inferior, mas na maioria dos casos tem a ver com uma mistura de ambos. É por isso que, considerando por exemplo os motores dos desportivos a gasolina, é tradicionalmente a Ferrari e a Lamborghini quem consegue extrair mais potência das suas unidades motrizes.

É certo que a introdução da sobrealimentação dos motores mais “puxados”  – com a finalidade de reduzir consumos e emissões, ao “cortar” na cilindrada – veio retirar nobreza (e custos) aos motores dos superdesportivos, tendo ela sido conseguida à custa dos mais habituais turbocompressores ou dos menos vulgares compressores volumétricos. Se considerarmos o trabalho dos técnicos da Ferrari, o actual motor atmosférico com maior potência específica é o que anima o 812 Superfast, que extrai 800 cv do 6.5 V12, o que lhe permite vangloriar-se de atingir um rendimento de 123,1 cv/litro. Entre os motores turbo, a marca italiana consegue ir bastante mais longe, pois o 488 Pista, com um 3.9 V8 e 721 cv, eleva a fasquia para 184,8 cv/litro.

A Lamborghini, até agora a apostar exclusivamente nos atmosféricos (à excepção do Urus), extrai 770 cv do 6.5 V12 montado no Aventador S, ou seja, 118,5 cv/l. Face a estes elevados rendimentos dos melhores do mercado, qual não é o espanto quando ouvimos a Cosworth anunciar que o seu 6.5 V12, que vai ser a alma do Aston Martin Valkyrie, é capaz de debitar 1.014 cv. São só 156 cv/l, o que dá um ‘bigode’ fenomenal a tudo o que existe atmosférico no mercado, solução mecânica que, nos dias que correm, tem ainda a vantagem de não necessitar de filtro de partículas.

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Um motor de três cilindros com 250 cv

Mas a novidade é que Bruce Wood, o homem à frente da Cosworth, empresa de que todos nos recordamos quando, durante anos, produziu os motores V8 utilizados na F1, resolver partilhar um pormenor importante relacionado com o desenvolvimento do 6.5 V12 que vai vender à Aston Martin. Ao que parece, o desenvolvimento do imponente V12 começou como um pequeno três cilindros, com 541,6 cc por cilindro, o que dá um total de 1.625 cc.

O V12 do Valkyrie é pois uma junção de quatro blocos deste pequeno três cilindros, dois a dois, com a Cosworth a conseguir assim simplificar – e apressar – o desenvolvimento da mecânica. Segundo Wood, com esta solução a sua empresa conseguiu demonstrar à Aston Martin, em apenas 12 a 13 meses, que o seu supermotor conseguia funcionar na perfeição, entregando potência e respeitando as emissões, duas áreas difíceis de conjugar. E se não acredita basta perguntar à Mercedes, que “encalhou” na adaptação do seu 1.6 V6 de F1 ao Mercedes-AMG One, que polui excessivamente, entre outros motivos, por não conseguir ter um regime de ralentir “civilizado”.

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Mas o mais impressionante é que o três cilindros da Cosworth se revelou perfeitamente funcional e senhor da desejada robustez mecânica, o que não o impediu de debitar 250 cv. Ora, isto significa elevar o patamar do rendimento específico para 153,8 cv/l, uma brutalidade face à concorrência, mesmo quando ela é composta por fabricantes míticos como a Ferrari e Lamborghini.

Os dados do pequeno motor de três cilindros 1.6 da Cosworth são tão entusiasmantes que houve logo quem desafiasse a Aston Martin a criar um pequeno desportivo com uma alma de gigante. Entre eles, Manny Suazo foi o mais acutilante, com um Vantage com as dimensões de um citadino. E o resultado é o que se vê.