Não há muitos superdesportivos com motores capazes de fornecer mais de 1.000 cv, mas a Mercedes pretende que o seu AMG One figure sobretudo entre os mais ágeis e eficazes em pista. Não é a primeira vez que a marca alemã produz um veículo deste gabarito, mas é necessário regressar aos anos 90 – quando foi fabricado em pequenas quantidades o CLK GTR AMG – , para encontrar um superdesportivo deste tipo.

O AMG One, de que todas as unidades foram prontamente vendidas, uma das quais para um condutor português, é um digno sucessor. Contudo, os seus orgulhosos proprietários vão ter de esperar mais 9 meses antes de se puderem deliciar com os prometidos poder de aceleração e eficácia em curva. A Mercedes lidera o campeonato do mundo de F1 desde que os pequenos 1.6 V6 turbo foram introduzidos, isto depois de nunca ter tido grande sucesso quando a competição era animada pelos V8 atmosféricos, primeiro com 3.0 e depois com 2,4 litros. E para relembrar os sucessos alcançados, bem como para explorar a excelente imagem que isso lhe conferiu, decidiu montar um destes 1.6 V6 como a alma do AMG One. Devidamente complementado por alguns motores eléctricos (nada menos do que três), para que a potência superasse os 1.000 cv.

Não é a primeira vez que um motor de F1 vai parar à traseira de um superdesportivo de estrada, pois já a Ferrari fez esta proeza com o F50, que montou um 4.7 V12, desenvolvido a partir do 3.5 V12 que equipava os Ferrari de F1 em 1990. Uma decisão que esteve longe de se revelar isenta de problemas – e é precisamente isso que está a acontecer de novo, só que agora a “batata quente” está nas mãos da Mercedes.

Tobias Moers, o responsável pela Mercedes-AMG, “pai” do One

Segundo Tobias Moers, o responsável pela AMG, “utilizar motores de F1 acarreta alguns problemas, especialmente agora que as normas para as emissões são particularmente apertadas”.

Os motores de F1 têm muito pouca inércia, para subirem de rotação rapidamente e conseguirem atingir altos regimes, o que faz parte da sua magia, “mas na F1 um motor girar às 4.000 ou 5.000 rpm ao ralentir não é um problema, pois apenas acima deste regime revelam a necessária estabilidade”, recorda Moers. Sucede que é impensável circular na cidade com um carro que, ao ralentir já grita às 5.000 rotações. “Tivemos de baixar o regime para as 1.200 rpm. Contudo, a esta rotação, o motor fica com um trabalhar irregular, o que gera emissões igualmente irregulares”, admite o homem da AMG.

Questionado se os 275 clientes que já pagaram 2 milhões de euros pelo AMG One não estarão à beira de um ataque de nervos, Moers responde que os “clientes preferem isso a receber um carro com problemas”. No entanto, o responsável da divisão de desportivos da Mercedes deveria saber que o que os clientes gostam mesmo é de receber a tempo e horas o carro que lhes foi prometido. E sem problemas, especialmente depois de se comprometerem com uma quantia tão importante.

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