Naquela que foi a sua primeira entrevista enquanto Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro deixou elogios à governação de Donald Trump, admitindo seguir algumas das suas medidas em áreas tão distintas como a política internacional e a desregulação, e referindo até a possibilidade de os EUA virem a ter uma base militar naquele país.

“A aproximação minha com os EUA é uma questão económica, mas pode ser bélica, também. Nós podemos fazer acordo voltado para essa questão no Brasil”, respondeu aos jornalistas da SBT, que na pergunta referiram os recentes movimentos militares russos na Venezuela.

Sobre a possibilidade de haver uma base militar dos EUA no Brasil — sendo que, desde a sua reativação em 2008, funciona em São Paulo uma unidade norte-americana de destacamento de apoio naval — Jair Bolsonaro disse que “de acordo com o que puder acontecer no mundo” essa questão poderá ser discutida. “Pode até ser simbólica”, referiu também. “Hoje em dia o poderio das forças armadas americana, chinesa, soviética [sic] alcança o mundo todo independente de bases”, acrescentou o Presidente do Brasil, que adiantou ter sido pré-agendada uma visita oficial a Washington D.C. para o mês de março.

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Na entrevista de 45 minutos, Jair Bolsonaro procurou colar-se também a outra medida de Donald Trump, que incide na desburocratização do Estado e da administração central. “Tem um ministério aí, que se não me engano é o da Infrastrutura, que tem 5 mil  portarias. Parece que em janeiro metade vão ser revogadas”, disse. “O Trump fez muita coisa certa lá. Ele além de revogar uma infinidade de legislações, ele disse lá: a cada nova regulamentação, aquele ministério vai ter que revogar outras duas a partir de agora. Devemos fazer a mesma coisa”, sublinhou, acrescentando que “quanto mais complicado é um país, mais leis ele tem”.

Ainda no seguimento das pegadas de Donald Trump, Jair Bolsonaro voltou a defender a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, cidade que Israel reconhece como sua capital, ao contrário da grande parte da comunidade internacional. “Não vou deixar de reconhecer a autoridade de Israel. Quem decide onde vai ser a capital de Israel é o seu governo e o seu povo, ponto final”, disse. Perante a possibilidade de essa tomada de posição do Brasil prejudicar as suas relações com países árabes, Jair Bolsonaro procurou desvalorizá-la. “Grande parte do mundo árabe está alinhado ou se alinhando com os EUA. Essa questão das Palestinas [sic] já está saturando o pessoal do mundo árabe em grande parte”, disse. “Alguns mais radicais podem com toda a certeza tomar alguma sanção, espero que apenas económica.”

Idade da reforma sobe, mas menos do que Temer queria

Outro tema forte da entrevista da primeira entrevista de Jair Bolsonaro foi o tema da segurança social, cujo sistema de pensões enfrenta um grave risco de colapso, depois de ter terminado 2018 com um défice de 186,3 mil milhões de reais (equivalente a mais de 43 mil milhões de euros).

Sobre a reforma do sistema, Jair Bolsonaro colocou o ónus no Congresso dos Deputados, referindo que é àquela câmara — onde a sua força política, o Partido Social Liberal, detém apenas 52 dos 512 assentos parlamentares — que cabe aprovar uma reforma da segurança social. “Todos vão ter que contribuir um pouco para que ela  seja aprovada. Eu acredito que o parlamento não vai faltar ao Brasil na aprovação da mesma”, disse.

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Uma das propostas que Jair Bolsonaro vai levar a votação será o aumento da idade mínima de reforma, que poderá passar para os 62 no caso dos homens e para os 57 para as mulheres. Atualmente, a idade da reforma varia consoante se é trabalhador urbano (65 para os homens e 60 para as mulheres) ou trabalhador rural (60 para os homens e 55 para as mulheres).

A última proposta executiva a estar na mesa sobre este tema coube ao governo de Michel Temer, que propôs uma idade mínima de reforma de 65 anos para homens e mulheres — sendo que, em comissão especial no Congresso, a solução foi alterada para manter os 65 anos nos homens mas para baixar para os 62 no caso das mulheres.

“O que mais pesa no orçamento é a questão a da previdência pública [como no Brasil se chama à segurança social], que vai ter a maior atenção da nossa parte e vamos buscar também eliminar privilégios”, disse o novo Presidente do Brasil.

Ainda assim, Jair Bolsonaro não abriu mão de uma das suas mais recentes promessas, que foi a criação de um 13º pagamento mensal do programa Bolsa Família — isto depois de , no seu programa eleitoral, ter chegado a incluir a possibilidade de este programa ser reformulado de forma a beneficiar todos os cidadãos brasileiros. De acordo com o líder brasileiro, isso será possível através do combate à fraude. “Acredito que pelo menos metade dos que estão aí dá para buscar uma saída para eles se reinserirem no mercado de trabalho”, disse.