Kathy Tran, a primeira mulher americana de ascendência asiática a conquistar um lugar na assembleia estadual de Virgina, nos EUA, encontra-se no centro de uma polémica que já chegou à Casa Branca. Depois de se ter destacado há dois anos por trazer consigo, para a assembleia legislativa do seu estado norte-americano, a filha bebé, Tran (que é Democrata) está a ser alvo de um feroz ataque político. Tudo por causa de uma proposta de lei polémica que defende a liberalização do aborto no terceiro trimestre da gravidez.
O rastilho que deu origem a esta controvérsia surgiu há pouco mais de dois dias, quando vários representantes Republicanos fizeram circular pelas redes sociais um vídeo de Tran a apresentar a dita proposta de lei. Nele percebe-se que Todd Gilbert , o líder da maioria republicana, questiona se em teoria, a lei que estava a ser proposta poderia permitir que uma mulher abortasse momentos antes de dar à luz. “Ela está a dilatar…”, acrescenta Gilbert perante um momento de silêncio e hesitação de Tran. “Essa decisão seria tomada pelo médico, o cirurgião e a mulher”, tenta rebater a legisladora antes de finalmente assentir — “A minha proposta de lei ia permitir isso, sim.”
[O vídeo que instigou a polémica]
Após a divulgação deste vídeo surgiu uma vaga enorme de contestação que levou até Donald Trump a pronunciar-se sobre o assunto. Ao The Daily Caller o presidente afirmou que tinha achado “horrível”, a proposta de Tran, relembrando ainda o momento em que afirmou que Hillary Clinton estaria disposta a “arrancar um bebé do útero” — “Lembram-se disso? É assim que as coisas são, é isso que eles estão a fazer. É terrível.”
A mulher de 41 anos recebeu inúmeras ameaças de morte dirigidas a si e à sua família, afirmam líderes democratas citados pelo Washington Post e tem sido acusada pela direita norte-americana de apoiar o infanticídio. Apesar de tudo isto, explicam os mesmos representantes partidários, a polémica não passa de uma emboscada, uma jogada de aproveitamento político. Ao que parece, a proposta de lei submetida por Kathy Tran já tinha sido apresentada à mesma assembleia em anos anteriores. Foi chumbada nessas alturas da mesma forma que voltou a ser na passada segunda-feira.
The Gov. of Virginia is apparently supportive of House Bill 2491 proposed by Del. Kathy Tran which would allow abortion up to the moment of birth as well as allow for a delivered baby to die if the mother chooses not to resuscitate. This is evil, we cannot allow this to pass.
— Jonathan Falwell (@jonathanfalwell) January 31, 2019
O facto mais curioso no meio de toda esta história é que o aborto ao terceiro trimestre já é permitido no estado da Virginia, a modificação que esta nova proposta traria é a redução do número de autorizações médicas — de três para uma — bem como a remoção das palavras “substancial e irremediável” que são usadas para descrever o perigo de vida a que a grávida está submetida e que justifica o aborto tardio.
Esta mulher que chegou aos EUA num barco vindo do Vietnam, no final da década de 70, e que foi recebida enquanto refugiada passou a ser demonizada de tal forma que viu-se obrigada a convocar uma reunião popular na capital do distrito pelo qual foi eleita, Fairfax County.