Há mais de uma década, quando o streaming ainda parecia uma miragem, a Netflix namorava os conteúdos da HBO. Bem precisava deles. A HBO manteve-se firme e forte, convencida de que o serviço de streaming nunca triunfaria. Depois deu-se a crise de 2008 e tudo mudou: a Netflix angariou conteúdos de várias produtoras que o andavam a vender ao desbarato e o público precisava de uma alternativa acessível para ter entretenimento à mão de semear. A televisão por streaming começou a conquistar tudo e todos. A HBO não se deixou adormecer e em 2010 lançou o seu próprio serviço de streaming, o HBO Go.

O HBO Portugal, que chegou agora a Portugal, é uma variação desse HBO Go. O que é? Uma forma acessível de ter acesso a diversos conteúdos da HBO – e não só –, por uma subscrição mensal de 4,99 euros, que podem ser acedidos via smartphone, tablet, PC, Smart TV, Playstation 4, Chromecast, entre outros. Há um período experimental de um mês gratuito e, se tiver o serviço Vodafone em casa, os três primeiros ser-lhe-ão oferecidos.

Além do catálogo antigo da HBO, o serviço receberá novas séries e novos episódios em simultâneo com a sua estreia nos Estados Unidos. Atualmente estão a chegar novos episódios das novas temporadas de “True Detective”, “High Maintenance” e “Crashing” e para o futuro estão reservadas estreias como a segunda temporada de “Big Little Lies”, “Watchmen” e, claro, a estreia da última temporada de “Game Of Thrones”, a 14 de Abril.

A HBO já está disponível em Portugal e inclui “A Guerra dos Tronos”, “Os Sopranos” e “The Wire”

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Mais um serviço de subscrição? É pois, mas é mais barato do que o serviço base da concorrência, Netflix (7,99 euros) e Amazon Prime (5,99 euros), e com um catálogo forte. Duvida? Eis uma seleção de alguns inéditos em Portugal agora disponibilizados em Portugal, alguns clássicos da HBO, de tesourinhos que lhe podem passar despercebidos e de alguns dos melhores documentários/filmes da produtora.

Inéditos

Succession (2018). Foi a série que fez soar o alarme para o desaparecimento da programação da HBO no canal TVSéries. Estreou-se em Junho do ano passado e é uma história em volta do poder no seio de uma família que detém um influente grupo de média. O primeiro episódio foi realizado por Adam McKay, que está por detrás do brilhante “A Queda de Wall Street” e da biografia de Dick Cheney, “Vice”, que se estreia nas salas portuguesas nesta semana.

Sharp Objects (2018). Mini-série de oito episódios que conta a história de uma jornalista que volta à sua terra-natal para investigar a morte de duas raparigas. Rapidamente é confrontada com o seu passado – sobretudo dentro da sua cabeça – e uma história familiar cheia de mazelas. A protagonista é encarnada por Amy Adams, que tem um daqueles papéis.

A Amiga Genial (2018). Estreada no final do ano passado, esta co-produção da HBO com a RAI e a TIMvision é, como o nome indica, uma adaptação do popular romance de Elena Ferrante que dá início à popular “trilogia de Nápoles”. Não é assim tão boa, mas é uma forma eficaz de dizer gosta muito do romance sem nunca ler o livro.

Real Time With Bill Maher (2003). No ar há dezassete temporadas, o talk show de Bill Maher é amado por muitos, odiado por muitos mais. Goste-se ou não, Bill Maher tem uma versão adulta do mundo – e da comédia – e oferece sempre ótimo material de reflexão sobre a semana que passou, este mundo em que vivemos. Os convidados são de diversos espectros políticos, o que torna o programa dinâmico e, claro, mais divertido.

High Maintenance (2016). Embora as duas primeiras temporadas tenham estreado em Portugal, a terceira – que começou há menos de um mês – é inédita em Portugal. Está nesta lista porque “High Maintenance” é das séries mais pertinentes desta década – embora não se fale muito nisso –, com um formato que mostra aquilo que pode ser a nova televisão, aliando narrativas tradicionais a fórmulas mais curtas e ocasionais de outras plataformas, como o YouTube. E é também um ótimo retrato de pessoas, pessoas normais e as suas histórias.

Killing Eve (2018). Apareceu em várias listas de melhores do ano em 2018 e os seus episódios ainda não tinha estreado em Portugal. Esta produção da BBC America chega finalmente via HBO Portugal. Vá já a correr ver esta exímia adaptação da obra de Luke Jennings.

Clássicos HBO

Os Sopranos (1999). É possível que já não se lembre de ver “Os Sopranos”, mas uma coisa é certa: nunca se esqueceu. Começou há vinte anos, numa altura em que já não se levava a televisão muito a sério. Se estreasse hoje, continuaria a deixar marcas.

The Wire (2002). Em tempos ouvia-se “It’s Not TV, It’s HBO”. “The Wire” também não é televisão, é “The Wire”, criou um campeonato à parte e nunca mais se fez algo assim. Nem David Simon voltou a fazer a televisão assim, embora tenha tentado, com “Treme”, “Generation Kill” e “The Deuce”, outras séries magníficas, que também estão disponíveis no catálogo da HBO Portugal, mas que não são “The Wire”.

O Sexo e a Cidade (1998). “Seinfeld” acabou em 1998 e, nesse mesmo ano, começava outra história em Nova Iorque que iria mudar, para sempre, a forma como víamos as relações, o sexo e o modo de viver e socializar numa grande cidade. Não envelheceu tão bem quanto se imagina, mas “O Sexo e a Cidade” continua a ser uma referência incontornável do catálogo da HBO.

Oz (1997). Antes de “Prison Break” existiu “Oz”, uma viagem dura e penosa numa ala de uma prisão  de alta segurança. Aqui não há romance com a ideia de viver numa prisão ou, sequer, um plano de fuga. Mais de vinte anos após a sua estreia continua a ser uma história difícil de engolir. Um dos pilares fundadores da HBO moderna que, por vezes, fica esquecido.

Sete Palmos de Terra (2001). Os inícios enigmáticos, o confronto semanal com a morte, ou uma idealização da vida através da morte dos outros. “Sete Palmos de Terra” mostrou que se podia gostar muito de dramas lamechas, entre o que se consideraria “televisão de qualidade” e telenovela. Alan Ball mudou a forma como choramos quando vemos uma série de televisão.

Tesourinhos (nada deprimentes)

Carnivale (2003). O dia a dia de um circo ambulante durante a Grande Depressão. Durou apenas duas temporadas mas deixou saudades, pela sua bizarria e a forma como misturava diferentes mitologias, nem sempre compatíveis, mas que funcionavam bem no universo de “Carnivale”.

Angels In America (2003). Mini-série de seis episódios com um elenco de luxo (Al Pacino, Meryl Streep e Emma Thompson), “Angels In America” é uma adaptação de Mike Nichols da premiadíssima peça de Tony Kushner, em volta do surgimento da sida nos Estados Unidos durante a década de 1980. Um triunfo televisivo, que funde como poucos uma epidemia, doenças mentais, política, secretismo social e uma magna fantasia que são os Estados Unidos da América.

The Brink (2015). Passou injustamente despercebida. “The Brink” é uma magistral sátira política criada com Jack Black e Tim Robbins no elenco. Um “Dr. Estranhoamor” fora do seu tempo, contado em dez episódios. Merece uma segunda vida.

Show Me a Hero (2015). Escrita por David Simon e realizada por Paul Haggis, esta mini-série de seis episódios conta a carreira política de Nick Wasicsko, um jovem que chega à câmara de Yonkers, Nova Iorque, e que quer mudar para sempre a forma como se vê a habitação social.

Bored To Death (2009). Jason Schwartzman luta por uma carreira literária e, enquanto isso não acontece, faz uma perninha enquanto detetive privado. Três temporadas bem divertidas, com um elenco enriquecido por Ted Danson e Zach Galifianakis.

Documentários

The Iceman Tapes: Conversations with a Killer (1992). Hoje em dia perdemos a cabeça com os documentários sobre crime da Netflix. Mas há décadas que a HBO andava a brincar com o formato. Oportunidade para entrarmos na cabeça de Richard Kuklinski, um hitman à antiga.

Gasland – Part II (2013). Segundo capítulo da luta de Josh Fox pela verdade em volta da extração de gás natural e petróleo. Um ótimo complemento ao primeiro filme (que não está disponível na HBO Portugal) e que ainda não perdeu o seu momento. Porque, enfim, o “fracking” ainda é uma questão.

Con Man (2003). Esquemas há muitos, mas poucos como os de Alexi Santana, ou James A. Hogue, um homem que mentiu sobre o seu passado e talentos no atletismo para conseguir uma bolsa em Princeton.

Jane Fonda In Five Acts (2018). As várias vidas de Jane Fonda num documentário que desenha não só a sua multifacetada existência, que se estende por várias carreiras, como também é um bom retrato das épocas e dos meios pelas quais a atriz, instrutora de fitness e ativista se movimentou.