Morreu Keith Flint, vocalista dos The Prodigy. A notícia, avançada pelo The Sun, foi confirmada pela banda. Na conta oficial de Instagram dos ingleses, Liam Howlett, o outro fundador dos Prodigy, revelou que Flint se suicidou: “As notícias são verdade. Não acredito que estou a dizer isto, mas o nosso irmão Keith suicidou-se durante o fim de semana”, afirmou, admitindo estar completamente completamente “chocado”, “confuso e com o coração partido”.

Num curto comunicado divulgado no Twitter, foi salientado o papel “inovador” de Flint, “verdadeiro pioneiro” e uma “lenda”. “Nunca será esquecido”, escreveram os ingleses The Prodigy.

De acordo com o tablóide inglês, os serviços de emergência ingleses receberam uma chamada por volta das 8h desta segunda-feira. Uma ambulância foi enviada para a casa do vocalista em Brook Hill, na localidade de Dunmow, mas já não foi possível fazer nada por Flint. “Infelizmente, um homem com cerca de 40 anos morreu no local”, disse ao The Sun um porta-voz dos serviços de emergência da zona este de Inglaterra.

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A polícia terá chegado pouco tempo depois, por volta das 8h20. O vocalista foi declarado morto no local. “A morte não está a ser tratada como tendo tido uma causa suspeita”, esclareceu um porta-voz da polícia do condado de Essex, onde fica Dunmow, ao The Sun.

Keith Flint nasceu a 17 de setembro de 1969 em Braintree, no condado de Essex. Foi vocalista de alguns dos maiores êxitos dos The Prodigy, onde começou como dançarino. O primeiro tema em que cantou foi o famoso “Firestarter”, de 1996. Foi no vídeo dessa música, aliás, que Flint primeiro assumiu o visual punk que o viria a definir.

Os The Prodigy, formados em 1990, preparavam-se para fazer a primeira digressão norte-americana numa década, marcada para o próximo mês de maio. A banda de música eletrónica é uma das mais bem sucedidas do género e conta com 30 milhões de discos vendidos desde o lançamento do primeiro álbum, Experience, em 1992.

A banda inglesa Sleaford Mods, que gravou o tema “Ibiza” com os The Prodigy, já reagiu à morte do cantor: “Lamentamos muito a morte de Keith Flint. Boa noite, companheiro. Descansa tranquilamente”, escreveram no Twitter. Ed Simons, músico da dupla The Chemical Brothers, também já reagiu à morte e escreveu no Twitter: “Tão triste por saber da morte do Keith Flint. Era sempre divertido estar perto dele e foi muito simpático comigo e com o Tom [Rowlands, o outro membro dos The Chemical Brothers] quando começámos a dar concertos juntos… grande homem.”.

The Prodigy, “os padrinhos da rave

A história dos The Prodigy está intimamente ligada com a do homem que lhe deu voz durante mais de 20 anos, Keithh Flint. Um jovem problemático, Flint, que sofria de uma grave dislexia, foi expulso da escola com 15 anos, começando a trabalhar cedo como carpinteiro. Nos anos 80, começou a frequentar a cena de música eletrónica que acabou por lhe mudar a vida. Foi numa rave, uma festa de música eletrónica, ao ar livre que conheceu em 1989 Liam Howlett, um DJ. Foi com ele que, no ano seguinte, acabou por formar os The Prodigy, mantendo-se, desde o início, como uma das âncoras do grupo.

Ao duo juntaram-se o MC e vocalista Maxim (à época conhecido pelo nome artístico Maxim Reality) e a dançarina e vocalista Sharky (uma amiga de Flint), para a primeira formação. Sharky, contudo, acabou por ficar na banda apenas dois anos.

Os anos 1990 foram os anos de ouro para os The Prodigy. O primeiro single, “Charly”, foi revelado em 1991 e tornou-se um tema quase religiosamente ouvido na cena musical noturna do Reino Unido. O mesmo aconteceu a “Everybody In The Place (Faiground Edit)”, o single que se seguiu e que antecedeu a edição do primeiro álbum dos The Prodigy, Experience, lançado na editora XL Recordings, de Richard Russell, Tim Palmer e Nick Halkes. Hoje, a XL Recordings é uma das editoras mais prestigiadas do mundo, contando no seu catálogo com artistas como Frank Ocean, Ibeyi, Jack White, Kaytranada ou King Krule.

No entanto, quando foi fundada em 1989, a XL Recordings era apenas uma nova editora que se queria posicionar no interior da crescente bolha da música eletrónica no Reino Unido, que deu origem nesse final dos anos 1980 e início dos anos 1990 a grupos como os The Prodigy e os The Chemical Brothers. No Youtube é possível ver um vídeo do histórico mentor e criativo da XL Recordings Richard Russell a discutir a explosão da cultura rave no Reino Unido com Keith Flint.

Capazes — como poucos o foram — de levar a música de dança às rádios e aos grandes festivais de pop-rock nos anos 1990, os The Prodigy editaram mais dois álbuns nessa década, Music For The Jitted Generation (1994) e The Fat of the Land (1997), depois do disco de estreia. Esses foram também os anos de edição de alguns dos singles mais marcantes do grupo inglês, como “Firestarter” e o popular mas também polémico “Smack My Bitch Up”.

Depois do sucesso de The Fat of The Land, o grupo teve alguns problemas. O álbum seguinte, lançado sete anos depois, não contou com a participação do vocalista de longa data ainda que Flint tenha permanecido na banda. Always Outnumbered, Never Outgunned (2004) foi gravado pelos irmãos Liam e Noel Gallagher, dos Oasis, pela atriz Juliette Lewis, entre outros. Keith Flint admitiu mais tarde ter tido uma depressão durante este período, que fez com que  ficasse viciado em antidepressivos.

O grupo continuou a gravar e a atuar ao vivo dos anos 2000 em diante, tendo editado quatro álbuns nestas duas décadas, o último dos quais (No Tourists) no ano passado.

Banda atuou 13 vezes em Portugal. A primeira foi em 1996

Os The Prodigy atuaram por 13 vezes em Portugal, segundo o site Setlist FM. A primeira vez foi em junho de 1996, no festival Super Bock Super Rock, no Passeio Marítimo de Alcântara. No ano seguinte, os ingleses tocaram noutro festival mais a norte, o Imperial ao Vivo. A banda tinha acabado de lançar o terceiro álbum de estúdio, The Fat of the Land.  O cartaz do evento, que decorreu entre na Alfândega do Porto entre os dias 2 e 4 de junho, contava com os portugueses Moonspell e os norte-americanos Rage Against the Machine.

A banda voltou ao Super Bock Super Rock, que então era realizado no Parque Tejo, em 2005. Quatro anos depois, os ingleses voltaram para dose dupla: primeiro, em julho, para o então Optimus Alive, depois em dezembro, num Pavilhão Atlântico esgotado.  Em 2015 ,repetiram o Passeio Marítimo de Algés, mas já com o NOS Alive. A atuação, que celebrou os 25 anos de carreira do grup, foi um intenso espetáculo de punk, que gerou uma autêntica rave em pleno festival. Era o ano de The Day Is My Enemy.

Pela última vez em Portugal, já em 2018, os The Prodigy regressaram ao Porto para o North Music Festival.

As canções e os vídeos mais marcantes dos The Prodigy

“Out Of Space”

Lançado em 1992, foi um dos primeiros grandes êxitos dos The Prodigy. A revista musical e britânica New Musical Express considera-a mesma a melhor canção do grupo.

“Smack My Bitch Up”

Apesar de ter ganhado dois prémios nos MTV Video Music Awards, o teledisco de “Smack My Bitch Up” foi tão polémico que a MTV só o transmitia entre a 1h e as 5h. O vídeo mostrava a perspetiva de uma pessoa que tinha uma noite agitada numa discoteca. Aludia ao consumo desabrido de álcool, drogas e mostrava imagens de violência. O título da canção também motivou reações críticas: a organização feminista norte-americana NOW (National Organization for Women) chegou a considerar que o tema reproduzia “uma mensagem perigosa e ofensiva com uma apologia de violência contra as mulheres”. A banda negou sempre que essa fosse a mensagem original da canção.

“Firestarter”

Tal como “Smack My Bitch Up”, o tema fez parte do álbum The Fat of The Land, o disco mais ouvido de sempre dos The Prodigy e aquele que consolidou a banda em definitivo nos primeiros lugares das tabelas de vendas norte-americanas e nas grandes rádios e festivais de todo o mundo.

“Breathe”

Mais um single do álbum The Fat of the Land dos The Prodigy, mais um êxito que se ouviu exaustivamente um pouco por todo o mundo.

“Voodoo People”

Incluído no álbum Music For The Jitted Generation — editado em 1994 —, foi o terceiro single do disco mas é ainda hoje considerado um clássico.

“Omen”

Single do álbum Invaders Must Die (2009), um dos últimos discos dos The Prodigy com um impacto internacional típico da banda.

“Ibiza”

Não teve o impacto dos temas anteriores, até porque foi lançado recentemente, em 2015, já bem depois do período áureo dos The Prodigy e de uma era onde as grandes estrelas da música de dança eram bandas e não DJs. Gravada com os renovadores do punk britânico Sleaford Mods, “Ibiza” merece um destaque. Fica para a memória como testemunho da tentativa de renovação permanente dos The Prodigy aos novos tempos.