Há uns anos, quando o History Channel começou a apostar em ficção, era difícil de imaginar que iria além de uma má série como “A Bíblia”, que contava com Diogo Morgado no papel principal. No mesmo dia em que “A Bíblia” se estreou (3 Março de 2013), o canal apresentou “Vikings”, uma série de ficção revestida de “drama histórico” que ainda enche as medidas de quem gosta de barbárie a rodos. E é um sucesso planetário. Em 2017 estreou “Knightfall – Templários” (a primeira temporada ainda passa no TVSéries e está disponível na Netflix), que pega na fórmula de “Vikings” e aplica-a aos Templários, num mundo embalado à maneira de “Guerra dos Tronos”.

Sir Landry é o protagonista de “Knightfall – Templários”. Um herói que foge à rotina, moralmente questionável, e que sente na pele os problemas que surgem na vida quando não se resiste à tentação e se peca. A segunda temporada, que estreia este domingo no TVSéries pelas 23h00, menos de uma semana após a sua estreia internacional, é uma história de redenção de um homem que tenta reconectar-se consigo e com os seus, enquanto os inimigos de sempre estão à espreita. Sir Landry é interpretado por Tom Cullen. Já o vimos em “Black Mirror”, “Downton Abbey”, “The Five” ou “Gunpowder”. Tem uma daquelas caras que ficam reconhecíveis e que, por alguma razão, adaptam-se na perfeição a períodos históricos. Sir Landry serve-lhe na perfeição. Do outro lado da linha está um homem que cumprimenta com um “Hey dude!” e que acaba de aterrar em Londres. Pronto, como seria de esperar, para a batalha.

[o trailer da segunda temporada de Knightfall:]

Está habituado a interpretar papéis em ficções de época. Como é que se tornou num templário?
Adoro fazer projetos mais independentes, essa é a minha paixão. Mas quando o argumento de “Knightfall” me apareceu à frente, despertou um desejo que eu tinha desde pequeno, o de participar em algo com esta escala e neste período. Cresci a ver filmes sobre a época medieval e, quando era miúdo, brincava muito aos cavaleiros. Parecia algo divertido de se fazer. A personagem [Sir Landry] interessou-me muito, é um homem complexo, muito imperfeito, e interessou-me como o construíram. Ele não é o herói normal, nem tudo o que faz é correto e é difícil estar do seu lado em todas as decisões. Ele é moralmente ambíguo e isso é muito interessante para mim.

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Sente que a sua personagem tem de renascer nesta segunda temporada? Como se percebe no primeiro episódio, irá ter um trabalho árduo em reconquistar a confiança dos seus colegas templários.
Sim, é muito por aí. A segunda temporada é centrada numa história de redenção, Landry precisa de se redimir aos olhos de Deus e aos olhos dos seus irmãos. Agora tem um filho. E eu penso que ele não sente que é merecedor de ser um pai. Porque é muito tóxico em tudo o que faz, em tudo o que toca, destrói. Se não tivesse a sua fé em Deus, provavelmente suicidava-se: sente que não merece estar vivo. E, por consequência, que não é suficientemente bom para ser um pai. Por isso, tenta redimir-se aos olhos Deus, de forma a encontrar-se novamente consigo. Penso que muitas pessoas acreditam em Landry, acham que ele é um líder fantástico, confiam nele e amam-no. Mas ele não tem amor próprio, por isso tem de conectar-se com essa pessoa novamente. É sobre isso que é esta temporada.

Mencionou que sempre foi atraído por esta época e pela ideia de ser um cavaleiro. O quão dura é a preparação física para uma personagem como esta?
É um grande desafio. Treinei durante seis meses antes de começar a filmar, para estar fisicamente preparado. Para me parecer como um cavaleiro, e ganhei cerca de dez quilos em músculo. E depois é muito difícil filmar, porque a armadura pesa cerca de 23 quilos. Andar com isso, durante 15 a 17 horas por dia, é muito duro. É tudo muito duro. Parti um dedo no segundo dia de filmagens e não foi possível tirar um dia de folga, tive de continuar a trabalhar. Tens de resistir e continuar em frente.

Há muito treino envolvido?
Durante seis meses…

No sentido de aprender a lutar com espadas.
Ah, sim. Antes de ser ator, quando estudava para ser ator, aprendi a lutar com espadas na escola. Descobri que era muito bom naturalmente. Tenho um talento para matar pessoas, é um talento que eu tenho, embora não o use. Mas sou bom a bater em pessoas [risos]. Antes de começarmos as filmagens, estivemos num boot camp durante dois meses, onde aprendemos a montar a cavalo, manejar espadas. É muito intenso. Se te quiseres conectar e ficares amigo com as pessoas com quem irás trabalhas, um boot camp é a melhor forma de o fazer: porque está tudo a trabalhar tão duro, a sofrer em conjunto. Um dos meus colegas, antes de filmarmos a primeira temporada, estava a lutar, magoou-se e começou a tossir sangue. É um processo intenso.

Desconhecia por completo que, no Reino Unido, têm de aprender a lutar com espadas quando se tornam atores. Porque é que isso acontece? Andam a preparar todos os atores para a ficção de época?
Eu sei, é absurdo. Sabes como são os britânicos. Adoramos a tradição. Também temos de aprender a dançar como na época. Há uma altura que tens usar aquelas meias… é tão estúpido. É ridículo, nós britânicos somos pessoas muito estranhas.

Mas gosta de fazer estas ficções de época. Trabalhou em “Downton Abbey”, interpretou Guy Fawkes em “Gunpowder”. Gosta de interpretar esses papéis ou é algo que, simplesmente, vem ter consigo?
Vêm ter comigo. Mas também é algo que gosto de fazer. É algo que acho muito interessante, e penso que todos devemos prestar atenção à história. A história é cíclica e podemos aprender através dos nossos erros. O período em que “Knightfall — Templários” decorre é um que pode ser considerado como o primeiro nível da sociedade moderna. Os templários criaram um sistema bancário, e ainda hoje podemos ver os efeitos das Cruzadas, daquilo que aqueles homens fizeram. Podemos também aprender com o Guy Fawkes. Penso que é sempre importante refletir sobre o passado.

Interpreta o papel de um templário numa produção do canal História. Na última década começaram a aparecer muitas séries como “Knightfall – Templários”, uma das mais famosas é “Vikings”. O que acha que atrai as pessoas para este tipo de programas?
É uma mistura de várias coisas. Por um lado, são mesmo divertidos. São muito fáceis e bons de se ver. Divertes-te, há grandes cenas de ação, têm elementos de telenovela, há sempre lutas, grandes histórias de amor: é divertido, é algo entretido de se ver. Falo por mim, eu gosto de ver estes programas porque tenho um fascínio em perceber de onde viemos, quem éramos. É fascinante imaginarmos naquelas épocas, naqueles momentos.

No caso de “Knightfall”, acha que a popularidade de “Guerra dos Tronos” também contribui para o seu sucesso? Pergunto isto, porque a Night’s Watch é inspirada nos Templários.

Sim, penso que existem muitos elementos semelhantes. E penso que se alimentam das mesmas coisas. Acho que tens razão: provavelmente quem gosta de “Guerra dos Tronos” provavelmente também gostará de “Vikings” ou “Knightfall”, porque têm os mesmos elementos que tornam este tipo de ficção divertida de se ver.

Participou num dos meus episódios preferidos de “Black Mirror” [“The Entire History Of You”], antes de ser o sucesso que é hoje. Como foi trabalhar com Charlie Brooker?
Foi fantástico. Sou fã do Charlie Brooker desde a minha adolescência. Quando li o argumento, fiquei agarrado. Participei na primeira temporada, ainda antes de ser alguma coisa, mas percebi que iria ser fantástico. É incrível a quantidade de pessoas que vêm ter comigo e que dizem que adoram o programa. É de loucos. Quando o filmámos era totalmente desconhecido.

Prefere trabalhar em televisão ou cinema?
Gosto de fazer ambos. A questão é que fazer televisão hoje em dia implica participar em algo que é tão grande como um filme. O orçamento que existe para “Knightfall – Templários” é maior do que para a maioria dos filmes em que participei. A escala… há episódios de “Knightfall – Templários”… no sexto há uma batalha que tem mais de 500 pessoas envolvidas. Normalmente isso estaria reservado para os filmes, mas como a televisão funciona hoje em dia, é possível reconstruir esses momentos épicos, essas batalhas épicas, em televisão.