Não foi só a França que copiou os discos rígidos do hacker Rui Pinto. As autoridades belgas também fizeram uma cópia dos ficheiros do pirata informático português, por temerem que os dados fossem apagados em Portugal, avança o Diário de Notícias. Segundo Francisco Teixeira da Mota, o advogado português do whistleblower do Football Leaks, as autoridades belgas deslocaram-se à Hungria com esse objetivo, antes que Rui Pinto fosse extraditado para Portugal, onde atualmente se encontra em prisão preventiva.

França, Bélgica e Suíça estão interessados em cooperar com Rui Pinto. De Portugal ainda não recebemos nenhum pedido”, referiu ainda o advogado em declarações ao DN.

A detenção de Rui Pinto e o seu pedido de extradição para Portugal, recorde-se, fizeram a Parquet National Financiers (uma entidade judicial francesa para o combate à fraude económica e financeira) viajar rapidamente para a Hungria, para impedir que o trabalho dos últimos meses (de colaboração com Rui Pinto) fosse em vão. As autoridades húngaras permitiram que a cópia de mais de 26 terabytes fosse feita pelos franceses.

Polícia francesa copiou discos de Rui Pinto por temer que fossem apagados em Portugal

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Além de Rui Pinto, também todo o material informático recolhido no âmbito do processo foi transportado para Portugal. Ao saberem disso, várias entidades com as quais Rui Pinto colaborava temeram que o material pudesse ser destruído. Os franceses, segundo a revista alemã Der Spiegel, ficaram horrorizados com essa possibilidade, pois a destruição dos dados podia deitar toda uma investigação sobre crimes económicos por terra.

Em janeiro deste ano, também a justiça belga já tinha manifestado a vontade de aceder aos documentos relacionados com os negócios do futebol revelados por Rui Pinto. Na altura, foi o porta-voz do Ministério Público belga, Eric Van Duyse, que confirmou que as revelações ao abrigo do denominado Football Leaks levaram a uma série de buscas, em novembro, como parte de uma investigação por fraude e lavagem de dinheiro.

No centro desta investigação está o empresário de jogadores israelita Pini Zahavi, responsável, entre outros, pela chegada do brasileiro Neymar ao Paris Saint-Germain no verão de 2017. Este agente é suspeito pela justiça belga de controlar ilegalmente o clube de futebol Royal Excel Mouscron, da I Divisão.

Advogado confirma que justiça francesa copiou documentos de Rui Pinto

Ainda esta segunda-feira, William Bourdon, um dos advogados que defende Rui Pinto, confirmou que a justiça francesa fez uma cópia dos documentos do colaborador do Football Leaks e que todas as informações vão chegar “dentro de dias” ao Eurojust.

Em declarações prestadas no debate subordinado ao tema “Football Leaks e a proteção dos denunciantes — o papel de Rui Pinto”, em Lisboa, onde estiveram presentes o também Francisco Teixeira da Mota, a eurodeputada portuguesa Ana Gomes e o denunciante Antoine Deltour, o representante jurídico internacional de Rui Pinto vincou a atenção que as autoridades de diversos países têm sobre este caso.

“Sim, confirmo a cópia dos documentos [pela justiça francesa] e essa informação deve estar dentro de dias nas mãos do Eurojust”, afirmou Bourdon.

Questionado sobre os detalhes da colaboração estabelecida entre Rui Pinto e as autoridades gaulesas antes da detenção, William Bourdon garantiu que é uma ligação ativa e que existe interesse num novo contacto com o suspeito indiciado em Portugal pela prática de quatro crimes: acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa coletiva e extorsão na forma tentada.

“Ele foi a Paris, onde foi ouvido pelo procurador durante cerca de duas horas. Não vou dar detalhes, mas foi uma conversa produtiva. O procurador francês quer vir cá, passar tempo com ele e ouvi-lo, tal como o procurador belga. Os contribuintes portugueses devem perceber que é do seu interesse ver este inquérito avançar”, sublinhou.

Paralelamente, William Bourdon revelou ter estado esta manhã com Rui Pinto, que está sob prisão preventiva nas instalações da Polícia Judiciária, e elogiou a coragem e a inteligência do colaborador do Football Leaks.

Estou muito orgulhoso por defender Rui Pinto, ele é um bom rapaz, muito gentil, inteligente, lúcido e estamos muito felizes por defendê-lo. Tenho defendido Antoine Deltour, Edward Snowden e Hervé Falciani e posso dizer firmemente que Rui Pinto pertence a este clube restrito de ‘whistleblowers’ mais proeminentes deste século”, finalizou.

Rui Pinto, que foi detido na Hungria, chegou a Portugal na quinta-feira, com base num mandado de detenção europeu emitido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). Na base do mandado estão acessos ilegais aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports e posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de futebolistas do clube lisboeta e do então treinador Jorge Jesus, além de outros contratos celebrados entre a Doyen e vários clubes de futebol.

O colaborador do Football Leaks terá entrado, em setembro de 2015, no sistema informático da Doyen Sports, com sede em Malta. É também suspeito de aceder ao endereço de correio eletrónico de membros do Conselho de Administração e do departamento jurídico do Sporting e, consequentemente, ao sistema informático da SAD ‘leonina’.

No período em que esteve detido na Hungria, Rui Pinto assumiu ser uma das fontes do Football Leaks, plataforma digital que tem denunciado casos de corrupção e fraude fiscal no universo do futebol, no âmbito dos quais estava a colaborar com autoridades de outros países, nomeadamente, França e Bélgica.