A crise política pré-anunciada já morreu, António Costa já enterrou o machado de guerra, mas Rui Rio ainda quis pôr os pontos nos is. Numa declaração aos jornalistas a partir do Porto, o líder do PSD quis mais uma vez “deixar claro” que “o voto do PSD esta tarde foi totalmente coerente com o que sempre defendeu”, assim como foi coerente com “a matriz social-democratas” e com o perfil do próprio Rui Rio. “Para o PSD e para mim próprio, o equilíbrio financeiro é inegociável. Em todas as instituições pelas quais fui responsável, deixei sempre essas instituições em situação muito melhor”, disse.

O argumento de Rui Rio é este: o PSD sempre defendeu que queria o reconhecimento integral do tempo de serviço, por um lado, e, por outro, sempre defendeu que esse reconhecimento devia ser “acompanhado de uma cláusula de salvaguarda financeira que garantisse o equilíbrio das finanças”. “Na votação na especialidade votámos dessa forma, e hoje no plenário votámos dessa forma”, disse, sublinhando que o único momento em que o documento foi de facto a votação foi esta tarde no plenário. Acontece que, com esta afirmação, Rui Rio desvaloriza o facto de o trabalho parlamentar consistir em duas fases, onde há efetivamente votações: na especialidade, primeiro, os deputados votaram os vários artigos que compõem a proposta, tendo daí resultado um texto comum (que inclui a contagem integral do tempo de serviço, mas não inclui as cláusulas de responsabilidade financeira) que foi hoje votado na íntegra no plenário. Por isso o PSD votou a favor, na especialidade, do artigo sobre a contagem integral do tempo e, esta sexta-feira, na votação final, tenha votado contra esse mesmo artigo por não vir articulado com a cláusula de responsabilidade financeira.

Ainda questionado sobre o papel da deputada do PSD, Margarida Mano, que negociou o diploma na comissão e votou na especialidade, Rui Rio desvalorizou o papel dos deputados: “Não é a dra. Margarida Mano que define o sentido de votação do PSD. Quem define o sentido da votação é a direção do grupo parlamentar e, muitas vezes, a direção do partido, que estão em completa consonância”, disse.

Ainda assim, e admitindo que os termos são técnicos e de difícil perceção para quem não domina a linguagem parlamentar, Rui Rio insiste que não houve da parte do PSD nenhuma votação diferente e culpa o primeiro-ministro da desinformação. “O primeiro-ministro foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, depois foi ministro dos Assuntos Parlamentares, portanto conhece o processo legislativo como ninguém, e mesmo assim veio hoje dizer uma coisa que sabe que é mentira. Ele sabe que isto não é verdade”, disse.

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Costa com défice de sentido de Estado e PS a pôr a família à frente de Portugal

Depois de explicar a ideia de que não houve recuo nem votação diferente da parte do PSD, Rui Rio partiu ao ataque a António Costa: “tem um défice de sentido de Estado”. “Um primeiro-ministro tem de ser um estadista, tem de ser o garante da estabilidade e não da instabilidade”, afirmou, caracterizando esta crise política como uma “derrota da responsabilidade” e “mais uma machadada da política nacional”.

Resumindo, Rui Rio diz que o PS pôs os seus interesses à frente dos interesses do país e apenas por motivos eleitorais. “As verdadeiras razões foi para perturbar a campanha eleitoral das Europeias, que estavam a correr particularmente mal ao PS”, disse, afirmando que o lema do PS deve ser: “primeiro a família, depois o PS, depois Portugal”.