Rui Rio admite que vai fazer alguns “ajustamentos” e mudar a “forma de comunicar” e de “atuar no quotidiano” depois do mau resultado na eleições europeias. Antes que os críticos saiam da toca, o presidente do PSD avisa já que não conta com eles. Depois de a Comissão Política Nacional aprovar os critérios para integrar a lista de deputados — que incluem a lealdade à direção — o presidente do PSD confirmou esta terça-feira que esse é um dos critérios e reconheceu que “no quadro atual há um outro com falta de lealdade“. E acrescentou: “Se dissesse que não reconhecia, era um hipócrita.”

Em declarações à entrada para o Legislators Dialogue, na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Rui Rio antecipou assim que haverá uma limpeza de alguns dos seus críticos, mas recusa-se a dizer “na praça pública” quem são. O presidente do PSD define assim as regras para o grupo parlamentar que irá formar: “Não queremos quem não seja sério, [que seja] desonesto, desleal, que não tenha capacidades técnicas”.

O presidente do PSD recusou-se a dizer em público a que conclusões chegou a sua direção, mas admite que há “ajustamentos a fazer” e que, mesmo que o partido tivesse ganho, há sempre alguma coisa que muda. Nas entrelinhas parece sugerir que vai regressar ao discurso de não hostilização do PS: “Eu tenho um quadro muito claro. Já o tinha, e agora [após as eleições] ainda mais”.

Apesar de admitir que vai afinar o discurso, Rio recusa-se a mudar a sua própria postura. “Se olhar para a minha idade e para o meu currículo eu já não sou de mudar, nem quero mudar aquilo que sou. Uma coisa é mudar aquilo que sou. Não mudo, nem quero mudar.  Nós devemos ser coerentes”. Já a comunicação admite votar, pois nas legislativas o PSD não quer “ter 22% quer ter muito mais de 32%”. E destaca que “são eleições completamente diferentes, motivações completamente diferentes. Irão votar praí se calhar o dobro das pessoas que votaram”. Por isso, acredita: “Está tudo em aberto”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Rio recusa-se a vender as propostas como se fosse um “produto”. O presidente do PSD reconhece que “há uma tendência de procurar a dizer ao eleitorado o que quer ouvir” e de olhar para o voto e tentar “vender as propostas como quem vende uma pasta dos dentes”, mas o líder social-democrata não vai ceder a isso. Vai manter a linha de tentar que os eleitores o compreendam e, “naturalmente que aí se perdermos, perdemos de pé“. Sobre o resultado de outubro, Rio acredita que “está tudo em aberto”, o que não quere dizer que o PSD “vai ganhar de largo” e admite que “até pode piorar”.

Rio volta a criticar a comunicação social

Enquanto fazia uma intervenção perante congressistas norte-americanos, Rio voltou a defender a necessidade de reformas para salvar um regime que “tem estrangulamentos que são terríveis e têm de ser ultrapassados”. O presidente do PSD defende “autoridade” do Estado para aplicar essas reformas, rejeitando a ideia que existe na sociedade de que “autoridade é ditadura”. Rio defende uma “autoridade democrática”, que permita ao “poder público” ter força para atacar os “interesses instalados”.

Rio alerta que defender os mais fracos e as minorias, não significa que “as minorias passem a mandar das maiorias”, rejeitando que um “interesse minoritário” se sobreponha “ao interesse coletivo”. Já na fase de respostas aos congressistas, Rio defendeu que a “sacralização do poder, é má”; mas que “a dessacralização e até um certo abandalhamento” leva o Estado a perder a “respeitabilidade que é necessária para ter as condições para fazer a governação como tem de ser feita em nome do interesse público.”

E aí, Rio atribui responsabilidades à comunicação social e volta a atacar o jornalismo. O líder da oposição critica a “forma como se confunde a liberdade de imprensa com a necessidade de lucro”, dizendo que desta forma há uma “deturpação de alguns valores essenciais da democracia, deturpados num mau sentido”.

O presidente do PSD acredita que a forma como a comunicação social faz algumas notícias não respeita as liberdade individuais e avisa: “A minha liberdade está à porta da liberdade de quem está ao meu lado”.