Reúne obras de alguns dos maiores artistas nacionais, a que se juntam algumas peças de artistas estrangeiros como Andy Warhol e Robert Mapplethorpe. Ao todo, a habitualmente chamada Coleção SEC, que é na verdade a Coleção de Arte Contemporânea do Ministério da Cultura, inclui 1367 obras. Dessas, 170 ter-se-ão perdido com o tempo, noticia este sábado o semanário Expresso. Chegaram a estar perdidas mais de 200 obras, mas algumas foram sendo recuperadas nos últimos anos.

Há tesouros absolutos entre as obras de arte que estavam na posse do Estado mas cujo paradeiro é agora desconhecido. Entre estes está o conjunto “Entrada Negra”, uma série de seis fotografias de uma das mais importantes e internacionais artistas portuguesas do século XX, Helena Almeida, que “viu um exemplar [da série fotográfica] ser leiloado em 2016 na Sotheby’s de Londres por 14.400 libras, cerca de 21.296 euros, a preços de hoje”. Entre as obras perdidas está também um desenho de Júlio Pomar, “Estudo para o Cinema Batalha”, feito para o fresco que esteve exibido no cinema homónimo do Porto até este ser alvo da censura do Estado Novo.

O Estado terá ainda perdido o rasto a criações de artistas como Graça Morais, Maria Helena Vieira da Silva e António Dacosta, entre vários outros, acrescenta o Expresso. O semanário recorda ainda que a coleção começou a ganhar forma a seguir ao 25 de abril, em 1976, “por determinação de David Mourão-Ferreira”, responsável à época pela tutela da Secretaria de Estado da Cultura do I Governo, liderado por Mário Soares.

Onde se perderam as obras? Em embaixadas, ministérios…

A quantidade de obras a que os sucessivos Governos perderam o rasto, nos últimos 43 anos, é invulgarmente alta e exige uma resposta: como é que se perderam tantas obras de arte de uma coleção pública?

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Entre as peças perdidas estarão “dezenas de serigrafias, um suporte habitualmente usado na decoração, o que facilmente se associa às inúmeras obras requisitadas pelas embaixadas portuguesas — de Madrid a Pequim — que nos anos 90 assim compuseram os seus gabinetes”, revela o Expresso. Um funcionário do Estado “que esteve em contacto com a coleção” sugeriu  que grande parte ter-se-á perdido entre embaixadas: “No início dos anos 2000, quando se tentou recuperar muitas dessas peças, grande parte das embaixadas não sabia onde as tinha“. Já um curador de um museu nacional, também não identificado, apontou que muitas obras ter-se-ão perdido entre gabinetes de Governo e de outras instituições públicas:

À época não havia autos de entrega nem documentação de arquivo”, revelou este curador ao Expresso.

Chegou a ser denunciado — em 1990 — um roubo de fotografias que faziam parte da Coleção Nacional de Fotografia e que integravam a Coleção SEC, mas a maior parte das 170 obras ter-se-á perdido, não tendo sido alvo de roubos denunciados. Existem, ainda assim, mais de mil obras que subsistem na coleção de arte, que parece estar largamente desaproveitada: o Expresso refere que esta está “hoje dispersa por vários locais sem acesso público” e maioritariamente depositada na Fundação de Serralves, no Centro Cultural de Belém, na Câmara Municipal de Aveiro e na Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas.

Há também obras da coleção — que inclui criações de Paula Rego, Almada Negreiros, Santa Rita, Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, Andy Warhol e Robert Mapplethorpe, entre outros — a decorar “gabinetes de ministros e secretários de Estado, no Ministério da Cultura, na Presidência da República e na Direção-Geral das Artes, em diversas embaixadas e até na Direção Regional de Cultura do Norte”.

De futuro, a situação deverá alterar-se: o Governo de António Costa planeia “a exposição das obras [que não se perderam] por equipamentos de todo o país”, revelou ao Expresso o gabinete da atual ministra da Cultura, Graça Fonseca.