A região de Trás-os-Montes produz cerca de três milhões de garrafas de vinho certificado e é uma das mais pequenas do país, mas está a ser redescoberta, a crescer e a atrair jovens produtores, segundo fontes do setor.

“A região está a recuperar notoriedade, está a renascer (…). Temos tido um elevado número de jovens agricultores que se estão a instalar e que estão a fazer os primeiros vinhos”, afirmou nesta quarta-feira o presidente da Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes (CVRTM), Francisco Pavão.

O responsável salientou que esta “região de contrastes” se estende de Montalegre (Vila Real) ao planalto mirandês (Bragança), possui vinhas plantadas em solos xistosos ou graníticos, a 200 ou a 700 metros de altitude. Em Montalegre está plantada, neste momento, a vinha mais alta do país.

O território tem cerca de 10 mil hectares de vinha e na CVRTM estão inscritos 110 produtores, embora só 65 certifiquem vinho.

Ana Alves, enóloga da CVRTM, afirmou à agência Lusa que aqui são produzidas cerca de “três milhões de garrafas de vinho certificado”, ou seja, com denominação de origem (DO) e indicação geográfica (IG).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A responsável contou que, depois de uma “quebra acentuada” da produção, há cerca de uma década, a região tem vindo “paulatinamente” a produzir mais vinho e a atrair mais produtores, entre os quais muitos jovens.

“O número de produtores – engarrafadores cresce todos os anos. Em 2019, já vamos com cinco novos produtores inscritos e todos os anos há novos produtores a quererem vir para Trás-os-Montes”, reforçou.

Para Bernardo Gouvêa, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), “a região está a ser “redescoberta”. Na sua opinião, os mercados procuram “genuinidade e autenticidade” e Trás-os-Montes “tem um potencial enorme a esse nível”.

O responsável elencou algumas “características peculiares” deste território, como a pequena dimensão das explorações, no entanto, salientou que “tem vindo a crescer”. “Desde 2014, cresce anualmente 5% e isso é muito interessante e significativo”, sublinhou.

Ana Alves destacou como uma mais valia de Trás-os-Montes a “qualidade das massas vínicas (uvas)” e explicou que, devido ao clima, verões quentes e invernos frios, “há menos pragas e doenças na vinha”.

“Com dois a três tratamentos conseguimos controlar a vinha e isso é uma mais-valia enorme, quer em custos de produção quer, depois, na qualidade das uvas”, frisou.

Francisco Pavão adiantou que cerca de 20% dos vinhos produzidos na região são exportados para países do “mercado da saudade”, onde se destaca o Brasil. “Foi o primeiro vinho português a chegar ao Nepal há uns anos”, contou.

O IVV apoiou a CVRTM com dois programas, um de 60 mil euros para a promoção em países terceiros e outro de 40 mil euros para a promoção interna.

Valpaços, no distrito de Vila Real, acolhe a sede da CVRTM e é um dos municípios da região com maior peso na produção regional.

O presidente da Câmara de Valpaços, Amílcar Almeida, afirmou que, no concelho, o vinho representa um volume de negócios na ordem dos “30 milhões de euros” anuais e também aqui, assinalou, “estão a aumentar os hectares de vinha e os produtores”.

Para incentivar a produção e a qualidade, a CVRTM realiza um concurso que, este ano, contou com a participação de 109 vinhos.

Na 8.ª edição do Concurso de Vinhos de Trás-os-Montes, os prémios prestígio foram atribuídos aos vinhos Quinta de Arcossó Superior Bago a Bago (tinto 2015), da Quinta de Arcossó, ao Quinta Serra D’Oura (reserva rosé 2017), de Carlos Manuel Alves Bastos, e ao Quinta do Sobreiró de Cima (reserva branco 2017), da Quinta do Sobreiró de Cima.