Chama-se Mário Correia e é o único controlador da estação do Pocinho, literalmente o fim da linha do Douro, onde aliás mora, no próprio edifício da estação, a troco de uma “renda simbólica” paga à entidade patronal.

De acordo com a edição desta segunda-feira do Público, será mais, muito mais do que isso: além de funcionário da Infra-Estruturas de Portugal (IP), Mário Correia terá ainda a seu cargo o bar da estação, que explorará a título privado e onde será visto diariamente ao balcão; será um dos dois sócios da Dourototal Lda, uma empresa que organiza passeios  na zona, para conhecer o rio ou ver as pinturas rupestres, e terá sede justamente na estação do Pocinho; e será ainda o responsável por um turismo de habitação em Arnozelo, a cerca de 30 quilómetros de distância.

Apesar de estar de baixa médica há vários meses, por causa de “um problema numa perna”, continuará a exercer todas as restantes atividades profissionais, revela o jornal: “O Público apurou que Mário Correia costuma trabalhar na IP durante o Inverno e fica doente nos meses de Verão, com baixa médica entregue à entidade patronal”.

Da primeira vez que telefonou para o Pocinho — onde, quando apto para o trabalho, Mário Correia desempenhará funções equiparadas às de chefe de estação –, o jornalista foi informado de que o funcionário da IP estaria a fazer um passeio com clientes da Dourototal Lda num local sem rede de telemóvel, pelo que seria impossível chegar à fala com ele. Quando finalmente conseguiram estabelecer comunicação, o “ferroviário-empresário”, como é descrito pelo jornal, ter-se-á escudado no advogado e recusado prestar declarações.

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O mesmo não fez a IP que, questionada sobre a acumulação de funções do funcionário/responsável pelo bar da estação do Pocinho, garantiu que o contrato de exploração do espaço do bar “não colide, à partida, com o estatuto de trabalhador, desde que sejam salvaguardados princípios relativos, nomeadamente, conflito de interesses, o que no caso em apreço se verifica não existir”.

No que toca à baixa do funcionário, a empresa começou por garantir não ter conhecimento de qualquer indício de irregularidade da situação” e por assegurar que o grupo IP se rege por um código de ética “totalmente intransigente com qualquer conduta que possa consubstanciar qualquer violação das disposições nele previstas”.

Um mês depois, e novamente confrontada com o assunto pelo mesmo meio, a IP respondeu assim: “Quando existem indícios de desconformidade entre situações de doença declaradas e documentadas e a situação efectiva existente, a Infra-estruturas de Portugal solicita aos serviços competentes da Segurança Social a verificação da situação de doença. No caso em referência, desencadeados os devidos mecanismos legais e recebido o respectivo resultado, não há lugar a demais desenvolvimentos”.