O hacker do Benfica, Rui Pinto, foi acusado pelo Ministério Público de 75 crimes de acesso ilegítimo, um de extorsão na forma tentada e outro de sabotagem informática. Rui Pinto foi ainda acusado de 70 crimes de violação de correspondência, sete dos quais agravados, refere a Procuradoria Geral da República em comunicado, já depois de notícia ter sido avançada pelo Correio da Manhã. Rui Pinto acedeu aos computadores do Sporting, da Federação Portuguesa de Futebol, da própria Procuradoria Geral da República, de uma sociedade de advogados e da Doyen Sports. Muita da informação que recolheu, alguma em segredo de justiça, publicou num site que criou: o Football Leaks.

O informático que era suspeito de aceder ilegalmente e de revelar emails privados do Benfica foi notificado na prisão. O antigo advogado de Rui Pinto, Aníbal Pinto, também foi acusado de um crime de extorsão na forma tentada. À CMTV, o advogado diz que reagiu com “absoluta normalidade” perante a decisão, garantindo que sempre agiu “na qualidade de advogado, pelos interesses” do cliente. Adianta ainda que vai pedir abertura de instrução. “Nunca cometi qualquer crime.”

Rui Pinto, de 30 anos, foi detido na Hungria e entregue às autoridades portuguesas, com base num mandado de detenção europeu, tendo estando indiciado pela prática de quatro crimes: acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa coletiva e extorsão na forma tentada. Está em prisão preventiva desde 22 de março.

Segundo a acusação, desde inícios de 2015 e até janeiro de 2019, o principal arguido muniu-se de conhecimentos técnicos e de equipamentos adequados que lhe permitiram aceder, de forma não autorizada, a sistemas informáticos e a caixas de correio eletrónico de terceiros. Para o conseguir, avança o MP, instalou no seu computador, vários programas informáticos e ferramentas digitais que lhe permitiam entrar nos computadores de terceiros.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A acusação refere mesmo que em setembro de 2015 o arguido criou um site na internet denominado “Football Leaks” que foi alimentando com toda a informação que retirava ilegalmente dos computadores. “Este site divulgava informações confidenciais, designadamente valores de transferência de jogadores e treinadores, acordos entre entidades desportivas, cláusulas de contratos desportivos e de agenciamento de jogadores”. Os investigadores concluíram que Rui Pintou entrou ilegalmente nos sistemas informáticos do Sporting Clube de Portugal, da Federação Portuguesa de Futebol, da sociedade de advogados PLMJ e da própria Procuradoria Geral da República, tendo conseguido mesmo aceder a documentos em segredo de justiça.

Football Leaks. Os negócios milionários, as cláusulas estranhas, Ronaldo e o delator português

Mais. Ainda de acordo com a acusação do Ministério Público, o arguido acedeu de forma não autorizada a computadores de responsáveis da Doyen Sports, tendo mesmo assumido uma identidade falsa, entrando em contacto com o advogado daquele fundo de investimento “dizendo que pretendia uma quantia entre 500 mil e 1 milhão de euros para que toda a informação que tinha na sua posse fosse eliminada de seguida”. O advogado do arguido, Anibal Pinto, terá sido intermediário nestes contactos — por isso ser também acusado neste processo.

hacker chegou a assumir, quando ainda estava na Hungria, que era uma das fontes do ‘Football Leaks’, plataforma digital que tem denunciado casos de corrupção e fraude fiscal no universo do futebol, no âmbito dos quais estava a colaborar com autoridades de outros países, nomeadamente, França e Bélgica.

A PJ ainda está a analisar todo o material apreendido ao arguido.

(Artigo atualizado às 17h36)