Em Portugal, o número de pessoas em situação de pobreza energética é desconhecido, mas foi criado um índice regional para ajudar a marcar as regiões mais afetadas avança o Público esta terça-feira. Dados da União Europeia revelam que mais de 50 milhões de famílias da Europa vivem nesta situação.

Ao mesmo jornal o Ministério do Ambiente e da Transição Energética afirma que “não existem dados oficiais nacionais sobre o número de pessoas ou agregados familiares em situação de pobreza energética”, acrescentando que o preenchimento desta lacuna é um dos objetivos do Governo, que pretende fazer “uma análise a nível nacional que identifique o número de pessoas” e famílias nesta situação.

Um dado que é tão mais relevante quanto se sabe que durante a última época fria foram registadas em Portugal cerca de 3.300 mortes atribuíveis à gripe e 397 mortes devido às temperaturas extremas. Os números foram divulgados este mês pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, no contexto do Programa Nacional de Vigilância da Gripe.

Mais de 3.000 pessoas terão morrido devido à gripe em Portugal no inverno passado

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“A relação entre o frio, e em particular o frio extremo, que se mantém por vários dias, e a saúde cardiovascular e respiratória está bem estabelecido”, disse o coordenador do Departamento de Epidemologia do INSA, Carlos Dias, em entrevista ao Público, acrescentando que as temperaturas baixas e os períodos de humidade alta no inverno “são fatores que aumentam a probabilidade que temos de vir a agravar doenças pré-existentes”, principalmente na população mais idosa.

Se fora dos edifícios não existe capacidade de o ser humano controlar o ambiente e os níveis térmicos, dentro dos edifícios isso é feito à custa de equipamentos, de habitações bem isoladas e do consumo de energia. Logo, as pessoas que pertencem a grupos socioeconómicos mais frágeis, claramente estão em situação de maior risco para a sua saúde”, afirmou o especialista.

A pobreza energética não é um problema que afeta apenas Portugal. Segundo a UE, “estima-se que, atualmente, mais de 50 milhões de famílias que vivem na União Europeia têm dificuldades em manter as casas com a temperatura adequada, livres de humidade e pagar contar relativas na energia consumida a tempo e horas”.

“A pobreza energética é uma forma distinta de pobreza, associada a uma série de consequências adversas para a saúde e o bem-estar das pessoas — com doenças respiratórias e cardíacas e saúde mental, exacerbadas devido às baixas temperaturas e ao stress associados a contas de energia inacessíveis”, explica o Observatório de pobreza energética da UE

Em Portugal, existe já uma tarifa social da eletricidade e do gás natural, cujos preços são os sextos mais caros da UE, segundo dados da Eurostat.

O problema não é só o preço da energia, mas é claro que é muito importante. Se as pessoas tivessem energia mais barata, usavam mais energia e parte do problema não existia”, afirma João Pedro Gouveia, investigador do Cense (Center for Environmental and Sustainability Research) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa ao Público.

João Pedro Gouveia, com dois outros colegas, desenvolveu um índice regional de vulnerabilidade à pobreza energética (IRVPE), que permite calcular em que freguesias de Portugal há uma maior probabilidade de encontrar pessoas em situação de pobreza energética. O índice baseia-se em duas vertentes: determina o gap de desconforto térmico e avalia a capacidade das famílias para contrariar este desconforto, escreve o Público.