O consulado de Portugal em Goa, na Índia, chega a registar filas diárias de 300 pessoas a pedir nacionalidade portuguesa para depois emigrarem para o Reino Unido ou Canadá, entre outros destinos, afirmou sexta-feira o cônsul-geral.

“Há um número elevado de indivíduos que requereu e que continua a requerer diariamente [a nacionalidade portuguesa]. Temos filas diárias, no consulado, que chegam às 200 e 300 pessoas”, referiu o cônsul-geral de Portugal em Goa, António Chrystêllo Tavares, que falava numa conferência da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, a propósito dos 150 anos da aplicação do Código Civil de 1867 nos territórios de Goa, Damão e Diu.

No seu discurso, o diplomata salientou que os pedidos de nacionalidade portuguesa são feitos com vista à emigração “especialmente para o Reino Unido, Canadá, Estados Unidos da América, Austrália, Nova Zelândia e Golfo Pérsico”.

Atualmente, notou António Chrystêllo Tavares, os goeses que procuram emigrar começam também a direcionar-se “para a Alemanha, Áustria e alguns países nórdicos”.

Os cidadãos goeses que requerem a nacionalidade portuguesa fazem uso da lei de atribuição de cidadania portuguesa a todos os que nasceram até 1961 nos antigos territórios portugueses na Índia, bem como aos seus descendentes.

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Apesar de poderem depois ter passaporte português, esses emigrantes levam “consigo uma língua sem uso nos países onde vão ancorar”, constatou.

De acordo com o cônsul-geral de Portugal em Goa, o português enquanto língua “derrapou para a marginalidade” e há hoje “quem ouse escrever a História de Goa sem saber a língua de Camões”, recorrendo apenas a “fontes anglo-saxónicas”.

Naquele território, há apenas 344 alunos de língua portuguesa, “muito menos alunos do que a aprender espanhol e francês”, observou o diplomata, durante o discurso.

Também a comunidade que mantém vínculos a Portugal é reduzida, sendo que a Indo-Portuguese Friendship Society “não ultrapassa as três centenas de membros e, dentro destes, grande parte” não fala português, sendo que o mesmo se passa com o Clube Vasco da Gama, afirmou.

A conferência onde o diplomata participou está integrada nas Comemorações dos 150 anos da Aplicação do Código Civil do Visconde de Seabra nos Territórios de Goa, Damão e Diu.

Na sessão, participou também o vice-reitor da Universidade de Coimbra João Nuno Calvão da Silva e o diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Rui Marcos.