A ministra do Trabalho, Ana Godinho, afirmou este sábado que está a ser desenvolvida uma plataforma para identificar em tempo real todos os casos de sem-abrigo pelas instituições que lhes dão apoio, e permitir “articular” quem atua no terreno.

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social falava à agência Lusa durante uma visita à associação de apoio a pessoas em situação de sem-abrigo João 13, em Lisboa, que chegou a ser frequentada pela jovem que abandonou um bebé recém-nascido no lixo.

A plataforma, que faz parte da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), e está a ser desenvolvida pelo Instituto de Segurança Social, “era o instrumento que faltava para articular as entidades que trabalham no terreno”, sublinhou a ministra.

Questionada pela Lusa sobre se esta ferramenta irá contribuir para detetar mais rapidamente situações de risco como o da jovem que abandonou o filho, a governante disse que “vai permitir identificar em tempo real todos os casos [de sem-abrigo], por todos os intervenientes, para que possam ter informação das situações sinalizadas, e haver garantia de acompanhamento e rastreamento permanente, até para garantir maior segurança das pessoas”.

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De acordo com Ana Mendes Godinho, “este será um dos instrumentos, entre outras medidas, que vai permitir conhecer em tempo real as situações, e será um reporte importante de informação e de articulação entre todas as pessoas no terreno”.

Sobre os resultados da reunião desta semana com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o Plano de Ação 2019-20 da ENIPSSA, a ministra disse que “esse encontro, articulando todas as associações que fazem parte desta estratégia, serviu precisamente para identificar o que se está a fazer e o que é preciso ainda fazer”, sem avançar mais detalhes.

O Governo tinha admitido que estão a ser feitos “reajustamentos” para que esse programa possa responder às questões prioritárias, enquanto Marcelo Rebelo de Sousa tem insistido na necessidade erradicar os sem-abrigo até 2023.

Hoje, a iniciativa do Ministério de visitar a associação João 13 teve sobretudo como objetivo, como sublinhou Ana Mendes Godinho, “valorizar quem, no dia a dia, presta apoio aos sem-abrigo, muitos deles em voluntariado”.

Esta associação, que funciona seis dias por semana a partir das 18h00, junto ao Panteão Nacional, recebe diariamente entre 50 a 60 pessoas, que ali vão para tomar banho e comer uma refeição quente.

“Já falei com algumas das pessoas, e dizem que se sentem aqui muito bem acolhidos, e quase em casa”, disse a ministra, que jantou no refeitório, ao lado de quem recorreu à associação esta noite.

Para a governante, “este tipo de respostas é importante trabalhar em conjunto, para garantir a missão comum de responder à grande necessidade de criar condições para que estas pessoas saiam na rua”.

“Estamos a tentar identificar os problemas que têm. Sabemos que há questões de alojamento, saúde em geral, mental e oral em particular, adições, e reintegração profissional que é preciso resolver”, salientou.

Questionada sobre o número de sem-abrigo que existe no país, indicou que os números de 2018 apontam para um total de 3.396 pessoas sem teto ou sem casa.

“Neste momento estamos a tratar os números do inquérito que foi feito este ano para fazer o levantamento anual. Teremos esses números atualizados no início de 2020”, disse.

Frei Filipe Rodrigues, presidente e fundador da Associação João 13, criada em 2015, indicou à Lusa que a entidade envolve 230 voluntários “que todos os dias se dedicam e dão resposta aos pedidos de ajuda” de quem vive na rua ou em situação de carência económica.

“Esta associação vive integralmente de voluntários, a fazer refeições, a lavar roupa, e identificar os problemas que têm e tentando apoiar”, descreveu.

Durante a visita da ministra às instalações da associação, foram entrando e saindo cerca de uma dezena de pessoas que usaram as toalhas de banho, ou se sentaram para um jantar que hoje oferecia frango assado com arroz, sopa de legumes, fruta e bolos variados.